A "angústia" a qual se referiu ontem Enéas Pestana, presidente do Grupo Pão de Açúcar, em relação ao ritmo de vendas nas lojas, a poucos dias do Natal, reflete a percepção que existe no varejo hoje. Em evento na manhã de ontem, Pestana disse que normalmente fica "angustiado" para saber se vai vender ou não a quantidade planejada" para o fim de ano - atribuindo o atraso nas compras à falta de espaço para armazenagem em casa. Mas a ansiedade atual do setor sobre o desempenho na melhor data do ano do varejo existe por outras razões.
Ao longo desta semana, até a data de ontem, redes de supermercados ouvidas pelo Valor registraram vendas abaixo do verificado no mesmo período de 2011. A "virada" tem que acontecer a partir de hoje, com a chegada da segunda parcela do 13º salário e a proximidade do Natal, dizem as redes.
Se isso não ocorrer, será o primeiro indício de um fim de ano fraco, algo não esperado pelas varejistas hoje - a maioria das lojas espera Natal melhor que 2011, segundo pesquisas. A princípio, há certo otimismo, respaldado no fato de que o lojista poderá realizar vendas no sábado, domingo e na segunda-feira. Em 2011, existiu apenas o sábado para as compras (o dia 25 caiu no domingo).
"Pode existir uma preocupação do mercado com base no desempenho verificado até agora, mas a partir de amanhã [hoje], isso tende a mudar", diz Alain Benvenuti, vice-presidente de perecíveis do Walmart.
O que ocorre é que, ao se comparar a venda registrada ontem, (quarta-feira) com a venda registrada na quarta-feira anterior ao Natal do ano passado - portanto, mesma data de comparação - há uma queda no resultado nas lojas. Isso porque, em 2011, a quarta-feira aconteceu no dia 21, após a chegada do 13ª salário e mais perto do Natal. Portanto, ano a ano, a conclusão não é das melhores até agora. "Hoje [ontem] já melhorou alguma coisa, amanhã [hoje], tem que melhorar mais", disse José Barral, presidente do grupo Sonda. Grandes cadeias como Pão de Açúcar, Walmart, Carrefour e Sonda acompanham em relatórios diários o desempenho das lojas.
"Estávamos de 5% a 8% abaixo [em vendas] em relação ao ano passado, mas hoje [ontem], já equilibrou", disse José Roberto Tambasco, diretor vice-presidente de negócios do varejo do Grupo Pão de Açúcar. Em 2007, o Natal caiu no mesmo dia deste ano (terça-feira) e o desempenho das lojas começou a melhorar após o dia 20, lembra Tambasco, que buscou os números de vendas da empresa naquele período para analisar desempenho. A empresa decidiu criar uma ação para a rede Extra na madrugada de sexta para sábado chamada "madrugada doida". A ideia é diluir o movimento nas lojas para outros períodos do dia.
Como a comemoração da data neste ano acontece da segunda-feira para a terça-feira - e o varejo terá um final de semana e a segunda-feira com as lojas abertas - a venda acontecerá de forma mais espaçada. "Além disso, o varejo se preparou melhor neste ano, de maneira a diminuir para o consumidor o estresse da compra, com entregas da indústria já feitas e produtos na gôndola", diz Benvenuti, do Walmart, que prevê uma alta de cerca de 15% nas vendas das aves neste Natal. Benvenuti lembra que 75% da venda de suínos e aves acontece nos três dias anteriores ao dia 25.
Se o comércio não vender, a saída pode ser devolver produtos, especialmente as carnes. Aves e suínos podem ser comprados em consignação, a depender do contrato com a indústria. Quem compra com essa possibilidade de devolução tem condições comerciais menos interessantes, mas não amarga o risco do estoque.
Veículo: Valor Econômico