Dólar caro nacionaliza a ceia de Natal

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Alta do dólar encareceu preços dos importados da ceia.

 

Apesar do calor que faz em dezembro, é a herança européia que dá o tom do Natal por aqui. Os presentes são entregues por um Papai Noel de luvas e gorro. E sobre a mesa, castanhas, nozes e damascos dão o tom da ceia.

 

"Cerca de 40% da nossa ceia de Natal é de importados", diz Jorge da Conceição Lopes, que há 58 anos comanda a Casa Santa Luzia, em São Paulo. "Bebidas, castanhas, frutas secas, azeites, tudo isso vem de fora", aponta.

 

Por conta disso, a disparada do dólar – que desde agosto subiu mais de 40% frente ao real – ameaça azedar a ceia de Natal. Produtos tradicionais como as nozes estão até 35% mais caros do que no mesmo período do ano passado. Frutas secas, bacalhau e até azeite estão pesando mais no bolso.

 

Frutas

 

No Mercado Municipal de São Paulo, as frutas tradicionais estão entre 15% e 20% mais caras em relação ao ano passado. O quilo da avelã, que no Natal de 2007 saía a R$ 14, hoje está em R$ 18. O damasco turco sai a R$ 24 o quilo, ante R$ 18 no ano passado. Já o preço da noz subiu um pouco menos, de R$ 18 para R$ 20. A castanha portuguesa passou de R$ 15 para R$ 20.

 

"Nos produtos importados, 99% do aumento foram decorrentes da variação cambial", explica Martinho Paiva Moreira, vice-presidente de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

Mas se o que vem de fora subiu, o produto nacional traz a boa notícia: a maioria das frutas nacionais está com o mesmo preço do ano passado. Muitas estão, inclusive, mais baratas, como a nectarina (-14%), a uva rubi (-12%) e o abacaxi (-18%).

 

"A principal dica é que consumidor opte pelos produtos nacionais. Nozes, por exemplo, não são para o nosso clima, a ceia é um produto de inverno", diz Flávio Godas, economista do Ceagesp. "Você pode trocar a cereja, que é importada e subiu cerca de 15%, pela lichia, que está 26% mais barata este ano".

 

Para quem não quer deixar de lado a tradição das frutas secas, também é possível trocar as importadas do Chile, Turquia e Itália pelas tropicais. "Muita gente já tem feito essa opção", diz o comerciante Leonardo Chiappetta.

 

"A participação da fruta seca brasileira no meu balcão passou de um quarto para a metade. Só neste ano, o volume de vendas cresceu 25%. E você pode servir como sobremesa ou como entrada", afirma.

 

Vinho, espumante e azeite

 

Menos perecíveis, as bebidas chegaram às prateleiras com menos influência da alta do dólar. Isso porque muitos comerciantes fizeram seus estoques mais cedo, aproveitando o câmbio barato.

 

"Muita coisa nossa chegou com o dólar lá embaixo. Como temos um estoque grande, fazemos uma média com o preço do que está chegando agora, para que o cliente não sinta um abuso da nossa parte", diz Lopes, da Santa Luzia. Mas se o preço for maior do que o orçamento, também dá para trocar o produto. "A ceia nacional tem tanta qualidade quanto a importada", aponta.

 

No caso dos espumantes, o prosecco já vem tomando o lugar do champanhe. Já para os vinhos, há boas opções em conta em produtos chilenos.

 

Já os azeites dão menos "margem de manobra" para o comprador, segundo o proprietário do Empório Chiappetta. "O bom azeite tem que ser importado", diz ele. Mas mesmo com a alta média de 15% nos preços, o consumidor pode encontrar produtos argentinos e portugueses com preços similares aos do ano passado.

 

Bacalhau

 

Também típico na mesa natalina, o bacalhau em lascas ou tiras tem chegado às prateleiras de alguns varejistas entre 15% e 20% mais caro este ano, por cerca de R$ 30 o quilo. As peças nobres se mantiveram na mesma faixa – cerca de R$ 120.

 

Para economizar, o jeito é ter um pouco mais de trabalho: receitas com mais acompanhamentos fazem render mais. "Outra opção é levar a peça inteira, mais barata, em lugar das postas já limpas", diz Fernando Barbaresco, do Empório Pétali.

 

Peru e panetone

 

Apesar de nacionais, as aves como peru e chester também tiveram alta. A culpa, neste caso, foi da alta da inflação no meio do ano, diz o vice-presidente da Apas.

 

"Isso acontece porque os grandes industriais tiveram que fazer investimentos no meio do ano, no auge da inflação, por conta do tempo de maturação. E conseqüentemente houve houve um aumento um pouco acima da inflação desses produtos. O consumidor pode até levar um susto, porque uma ave está até R$ 25, R$ 40".

 

A alta de preços também não poupou os panetones. Os nacionais, devido à alta do trigo, estão cerca de 10% mais caros. Mas o preço ainda é muito inferior ao das marcas importadas, chegando a custar menos da metade.

 

Antes e depois da ceia

 

Para quem já sabe o que vai comer na noite do dia 24, a dica é comprar os ingredientes da ceia o quanto antes.

 

"Os preços são melhores até o dia 19, porque no dia 20 as pessoas recebem a segunda parcela do 13º e o varejo fica aguardando esse consumidor ir ao mercado. Comprando agora, ele vai pagar mais barato", diz Martinho Moreira.

 

"Quem vai comer bacalhau também deve comprar agora. Porque a maioria das mercadorias depende do preço do dólar, e a tendência é chegar mais caro", concorda Barbaresco.

 

Mas o economista Godas, da Ceagesp, alerta: "tem que tomar cuidado, se for comprar agora, com os produtos perecíveis, para não ter problema depois".

 

E para quem não liga para a data, mas não dispensa a ceia, há boas notícias. Já no dia 26, as aves natalinas devem entrar em promoção nos supermercados. Já o preço do panetone deve cair a partir de janeiro.

 

"Depois que o varejo faz o levantamento dos estoques remanescentes, vêm as promoções do tipo leve três pague dois", diz Moreira.

 


Veículo: Diário do Comércio - SP


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