Com internet, ruas de compras encolhem na Inglaterra

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As ruas de compras na Inglaterra, já em processo de encolhimento, tendem a ficar ainda menores, transformando o que é, há muito, um dos mais densos centros de varejo da Europa. Com o aumento dos gastos on-line dos britânicos e a diminuição de seus deslocamentos para as ruas comerciais, o número de lojas fechadas deverá duplicar este ano, segundo a empresa de pesquisa imobiliária Local Data Company.

Os 500 endereços de maior movimento do país vão perder um total líquido de 4 mil pontos de venda este ano, ante aos cerca de 2 mil fechados em 2012, segundo previsão da Local Data. "Temos, sem dúvida, dezenas de milhares de lojas de varejo excedentes nessas áreas", disse Bryan Roberts, diretor da empresa de pesquisa de mercado Kantar Retail, de Londres.

As empresas mais passíveis de se beneficiar dessa tendência são as que se expandiram rapidamente na internet, ao mesmo tempo em que aumentaram o número de pontos de venda de menor porte nos centros da cidade, como a Tesco, a maior rede de supermercados britânica. Analistas preveem que a Tesco divulgará esta semana o crescimento mais acelerado de sua receita dos últimos três anos.

Desde o grupo de moda Arcadia, do bilionário Philip Green, até a comercializadora de produtos eletrônicos Dixons Retail, os proprietários estão fechando as portas das lojas diante da queda dos gastos dos consumidores.

O colapso, em 2012, da rede de produtos eletrônicos Comet, de 236 lojas, não será o último, segundo a assessoria em falências Begbies Traynor Group, que prevê que 140 varejistas estão em situação "crítica" e poderão falir, um aumento de 30% em relação à mesma época de 2012.

"Achamos que desaparecerão alguns novos nomes relevantes" este ano, assim como surgirão muitas lojas de menor porte, disse Julie Palmer, uma das sócias da Begbies Trayor. A empresa diz que 13,7 mil varejistas estão enfrentando um período de "problemas significativos", principalmente os comerciantes de livros, artigos de papelaria, produtos farmacêuticos e bebidas alcoólicas.

O Reino Unido tem o maior espaço de compras per capita da Europa, segundo a assessoria de serviços imobiliários CBRE. O Reino Unido dispõe de 0,36 metro quadrado de área de loja por habitante, contra o 0,21 metro quadrado da Itália e o 0,14 metro quadrado da Alemanha. Nos Estados Unidos, são 2,3 metros quadrados.

A redução do número de lojas representa uma reversão da farra de aberturas da década passada, quando varejistas abarrotados de crédito barato lutavam por novo espaço em meio às rígidas limitações ligadas ao planejamento urbano.

As vendas on-line do Reino Unido cresceram para US$ 44 bilhões em 2012, ou 12% do total do mercado de varejo, segundo a entidade de classe British Retail Consortium. Essa parcela deve ser comparada aos 6% de 2010, e torna a internet a área de crescimento mais acelerado do setor.

A maior parte dos varejistas britânicos começou suas liquidações on-line pós-natalinas no mês passado, antes da reabertura das lojas. A John Lewis Partnership, dona da maior rede de lojas de departamentos britânica, disse que a liquidação on-line que realizou para reposição de estoques a partir de 24 de dezembro começou com uma hora de recorde de vendas, com crescimento de 70% das encomendas em relação à promoção semelhante do ano anterior.

Não é apenas a internet que está levando os britânicos a diminuir suas idas às compras. Os consumidores estão com menos dinheiro para gastar, diante do desemprego, que continua elevado, e da alta dos preços dos alimentos e do combustível.

O crescimento das vendas do varejo desacelerou mais do que o previsto pelos economistas, em dezembro, e poderá voltar a esfriar neste início de 2013, segundo a Confederação da Indústria Britânica. Isso poderá causar novas falências, após o colapso de mais de 50 varejistas do ano passado, segundo a Local Data Company.

O ano passado foi o pior desde 2008 em termos de fechamentos de lojas e extinções de postos de trabalho no varejo, segundo a CBRE. Além da falência da Comet, 2012 também trouxe o desaparecimento da JJB Sports, do Game Group, da Clinton Cards e do Blacks Leisure Group.

O HMV Group, a maior varejista britânica de CDs e DVDs, levantou novas dúvidas sobre seu futuro no mês passado, ao dizer que deverá infringir contratos de endividamento este ano, em meio a vendas de Natal inferiores ao previsto.

O número de varejistas que pediram recuperação judicial subiu para 194 no ano passado, em relação aos 183 de 2011 e aos 165 de 2010, segundo a Deloitte. Os 16 maiores colapsos no varejo responderam por 1,4 mil fechamentos de lojas, segundo a auditoria. Cerca de 55% dos pontos de venda fecharam definitivamente e 45% foram vendidos.

As redes de lojas lucrativas também estão em retração. O Arcadia Group fechou 60 lojas de roupas, em 2012, enquanto a varejista de produtos eletrônicos Dixons quer reduzir seu contingente de 498 lojas em até 20%. Com cerca de 20% de espaço de vendas a mais do que necessita, a varejista de material de construção e decoração Kingfisher está arrendando área de loja para outras empresas, como supermercados, disse seu principal executivo, Ian Cheshire, em novembro.

As redes de moda conseguem cobertura nacional com não mais do que 200 lojas, segundo a consultoria Kantar Retail. A Marks & Spencer, a maior varejista britânica de roupas, tem 300 pontos, enquanto o New Look Group, de capital fechado, opera 600 lojas em seu mercado de origem.

Com apenas 39 lojas, respaldadas por uma oferta on-line de 200 mil produtos, a John Lewis se destaca dentre as concorrentes. A rede informou, no dia 2, que suas vendas cresceram 15%, para 685 milhões de libras esterlinas, durante as cinco semanas da temporada de Natal, enquanto a receita das vendas on-line disparou 44%.

A sobrevivência envolve a necessidade de abarcar clientes on-line e clientes das ruas; e reduzir o número de lojas físicas para dar conta da mudança dos consumidores para a internet, diz Lee Manning, sócio responsável por serviços de reestruturação da Deloitte de Londres. O consumidor usa a loja agora como showroom e como lugar para buscar as encomendas on-line, diz ele. "Sempre haverá a necessidade de espaço físico de varejo, mas atualmente um número excessivo de varejistas tem um número excessivo de lojas", diz Manning. "E 2013 tende a ser marcado por novos fechamentos."



Veículo: Valor Econômico

  


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