Análises feitas por especialistas no setor varejista sinalizam que as medidas de incentivo ao consumo foram paliativas e não surtiram o efeito esperado pelo governo brasileiro. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a desoneração da folha de pagamentos, que neste ano atingem alguns segmentos de varejo, resolvem em um primeiro momento, mas para que o comércio volte a ficar próximo ao patamar de 2010 - quando atingiu mais de 10% de crescimento - serão necessários investimentos na cadeia produtiva brasileira.
"As medidas de incentivo podem ser consideradas uma forma de controlar a 'febre' que a economia têm sentido. Mas é necessário descobrir o que tem causado essa febre, para assim conseguir uma resposta melhor", afirmou Claudio Felisoni, presidente do Conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA).
O especialista, que anteriormente havia mencionado que o modelo de fazer crescer a economia baseado no consumo se havia esgotado no ano passado, volta a bater na tecla de que, sem investimentos, o varejo não consegue sustentar tudo sozinho. "Não podemos ter uma visão maniqueísta das coisas. É necessário gerar capacidade produtiva, pois as medidas começarão a ter um efeito cada vez menor", enfatizou o presidente do Provar.
Em linha com a opinião de Felisoni está a do economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Emilio Alfieri. Mais otimista quanto ao potencial de recuperação do segmento varejista no País, Alfieri acredita que, neste momento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve dar mais atenção à indústria de bens de capital. "Sabemos que medidas como a isenção do IPI serão finalizadas gradativamente, e isso não será negativo ao varejo. O governo tem que olhar o setor de bens de capital, que é o atual calcanhar de aquiles da nossa economia", disse, ao que completou: "O varejo tem crescido acima do Produto Interno Bruto [PIB], assim como a agricultura desempenhou um bom papel no ano passado. O grande problema é a indústria de bens de capital, que pode ter fechado 2012 com queda de quase 10%."
Ainda segundo o especialista, pode ser considerado natural que o comércio não cresça no mesmo índice visto em 2010, e, mesmo que ele venha em trajetória desacelerada há três anos, 2013 será um ano de recuperação. "Não será igual a 2010, mas não há motivos para que o varejo sofra nova retração", explicou ele. O especialista refere-se a fatos como: desemprego em queda, massa salarial em alta e inadimplência com viés de baixa para os próximos meses. Além da inflação sob controle, a política monetária (taxa de juros) não tem expectativa de mudança nos próximos anos.
Ao lhe ser perguntado se, com o fim de todas as medidas de incentivo, o setor seria capaz de se manter sozinho e chegar a uma estabilidade, o economista afirmou que isso pode vir a acontecer nos próximos anos. "Não podemos esquecer que em 2014 temos Copa do Mundo, e os investimentos em infraestrutura devem ser finalizados nesse ano. Com isso o setor voltará a ter um momento melhor", concluiu.
Um ponto levantado por Emilio Alfieri da ACSP foi sobre a questão energética, que de certa forma influenciaria negativamente a economia em geral. "Algo que tem gerado certo desconforto é um novo apagão. Mas não acredito que isso ocorra."
Intenção de compra
As incertezas sobre a economia não vão espantar, em um primeiro momento, os consumidores dos pontos de vendas. Prova disso é a pesquisa realizada pelo Provar/FIA em parceria com a Felisoni Consultores associados. O indicador de intenção de consumo no primeiro trimestre apontou que os brasileiros economicamente ativos estão propensos a gastar nos próximos três meses. "O consumidor ainda está cauteloso, a pesquisa apontou que 56,8% dos paulistanos pretendem comprar algum bem durável neste começo de ano", afirmou Claudio Felisoni, um dos responsáveis pelo indicador. Ainda segundo ele, esse dado é 0,8 ponto percentual mais alto se comparado com o registrado no último trimestre de 2012.
Quando a comparação é anual, o indicador registra queda de 3,8 pontos percentuais. "Mesmo com a queda vista de um ano a outro, o consumidor mostra-se disposto também a gastar mais na hora das compras", explicou ele ao DCI.
Na sondagem sobre quais artigos serão mais consumidos, destaca-se o setor de vestuário e calçados, que aparece com 18,8% de intenção de compra. Informática vem em segundo lugar, com 11%, seguida de viagens e turismo, com 10,6%; material de construção, com 10,2%; eletroeletrônicos, 9%; móveis 7,4%.
Produtos de linha branca -como geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupas- podem ser comprados por 7% dos entrevistados na pesquisa realizada em São Paulo com 500 consumidores. Um dado que chamou a atenção foi o dos imóveis aparecerem com maior intenção de compra neste primeiro trimestre, frente a automóveis e motos, com intenção de 6,8% e 6,2% respectivamente. Ainda segundo dados da pesquisa, a partir do mês de março, a inadimplência pode apresentar viés de baixa. "Passados os gastos com impostos e compras de material, o consumidor vai se preocupar com as dívidas", disse Claudio Felisoni.
Veículo: DCI