Custos maiores na China animam fabricantes brasileiros de brinquedos

Leia em 3min 30s

Setor quer levar a participação dos importados nas vendas domésticas dos 50% atuais a no máximo 30%


Ainda que permaneça na dianteira do mercado de brinquedos, responsável por 70% da produção mundial, a China atravessa mudanças estruturais nas questões trabalhistas, com sindicalização e profissionalização dos funcionários, que de certa forma beneficiam a indústria brasileira. Omaior rigor nas exigências sobre as condições de trabalho tem obrigado a China a elevar salários e prover benefícios sociais aos seus funcionários. Esses ajustes resultam no aumento dos preços finais, melhorando a competitividade. Pesquisa da International Council of Toy Industries (ICTI), apresentada durante o Hong Kong Toys & Games Fair, mostra que o aumento do custo de matériaprima, a desaceleração da economia e a apreciação do iuane constituíram entraves às empresas chinesas no ano passado.

Mas contrariando a tendência mundial de dependência do país asiático, o Brasil tem reduzido a quantidade de brinquedos importados, cuja participação foi de60% em2012 e a expectativa é que neste ano caia a 50%. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) prevê que em cinco anos a configuração será ainda mais favorável, com 70% de produção nacional e 30% de importados. “Não me importo em perder para chinês. Não gosto de perder para americano. O Brasil é praticamente o único país a manter o DNA de fabricação de brinquedo, os demais importam. Não queremos comprar produto chinês de americano”, diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq,emvisita a feira, que contou com mais de 1.900 expositores de 41 países.

Dados preliminares apontam para uma expansão de 14% da indústria de brinquedos brasileira em 2012, com um faturamento de R$ 3,944 bilhões. Já as vendas para o consumidor, ou varejo, devem chegar perto de R$ 7,5 bilhões. Mundialmente, a indústria movimentou US$ 80 bilhões no ano passado. A combinação de um câmbio mais desvalorizado, greve nos portos chineses e preço externo maior contribuiu para o desempenho doméstico. Além disso, as 523 fábricas de brinquedos instaladas no país produziram 1.659 lançamentos. Para 2013, o prognóstico é de 1.800 lançamentos, com cinco novidades por dia.

Sem contar apenas com as variáveis que beneficiaram a indústria local no ano passado, a estratégia da Abrinq neste ano estará focada em potencializar nossos pontos positivos, dentre os quais estão a criação do designer e desenvolvimento de moldes. “O governo brasileiro quer a indústria de brinquedo no país. Não gastaremos energia para fazer partes e peças, faremos aquilo em que somos bons”, afirma Costa, destacando também que não é interesse a fabricação de partes eletrônicas.

A entidade trabalhará ainda o estreitamento da relação com os países do Mercosul, para que uma fatia da importação seja de nações do bloco; manterá discussão com o governo sobre as alíquotas que incidem no brinquedo brasileiro; buscará consenso sobre as regras de segurança internacionais de forma que não inviabilizem a fabricação doméstica; e permanecerá no controle na alfândega.

E a questão fiscal ilustra bem o ambiente desafiador para a indústria de brinquedos, considerando que 42% do preço de um brinquedo brasileiro é imposto, ao passo que na China é de 2%. “Competir com os subsídios do governo chinês é difícil.”. Mesmo com incentivos do governo e o trabalho da International Council of Toy Industries, que certifica as companhias e garante, dentre outras coisas, a erradicação do trabalho infantil nas fábricas de brinquedos chinesas, o cenário que se tem hoje nas fábricas—instalações precárias, falta de segurança e a extensa jornada de trabalho diário — ainda é transgressor se comparado a indústria brasileira, por exemplo.

O potencial de crescimento do mercado consumidor no Brasil é favorável ainda que considerada a redução de filhos por casais. A média de brinquedos comprados por ano no país é de sete por criança, enquanto no Japão é de 34. Soma-se a isso o ambiente econômico, cujo aumento de renda combinado com a falta de hábito de poupar beneficia o consumo, conforme o presidente da Abrinq. Tudo isso contrabalanceando com o costume do brasileiro de sempre buscar o menor preço em detrimento de qualidade e segurança.


Veículo: Brasil Econômico



Veja também

Empresas testam rota férrea para movimento de cargas importadas

Uma antiga demanda a respeito da utilização de transportes alternativos que favoreçam a agilidade d...

Veja mais
Investir na cadeia produtiva é saída para varejo

Análises feitas por especialistas no setor varejista sinalizam que as medidas de incentivo ao consumo foram palia...

Veja mais
Com internet, ruas de compras encolhem na Inglaterra

As ruas de compras na Inglaterra, já em processo de encolhimento, tendem a ficar ainda menores, transformando o q...

Veja mais
Após um ano com Mabel, PepsiCo ajusta o portfólio

Um ano depois de comprar a Mabel, a PepsiCo coloca no mercado as primeiras linhas de biscoitos produzidas nas fáb...

Veja mais
Yakult em Lorena

A Yakult do Brasil investiu R$ 40 milhões na ampliação da produção de sua fábr...

Veja mais
Produção de laranja pode cair 17% em 2013

A produção brasileira de laranja deve voltar a cair com força na safra 2013/14, enquanto o setor te...

Veja mais
Vaidade de homens inspira lançamentos

Consumo masculino de produtos de cuidados pessoais cresce 163% de 2006 a 2011 no país, alcançando US$ 4 bi...

Veja mais
País tem safra recorde, mas produção de trigo é a menor em cinco anos

A produção nacional de grãos vai bem. Deverá registrar mais um recorde neste ano, somando 18...

Veja mais
Camicado abre primeira operação em Santos

Rede voltada ao mercado no segmento de casa e decoração, a Camicado inaugura hoje a primeira loja na cidad...

Veja mais