Barreira a importado afeta produção de tênis

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Deficiência de oferta nacional de componentes mais tecnológicos é entrave para substituição de itens estrangeiros


Em vigor desde outubro, o aumento de 18% para 25% do Imposto de Importação para algumas partes de calçados, como cabedais e solados, procedentes de fora do Mercosul, pode gerar um efeito contrário ao esperado na elaboração do pleito proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couros, Calçados e Artefatos (Assintecal). Pelo menos, essa é a projeção no segmento de tênis esportivos, uma vez que a complexidade de algumas peças exige produtos de maior tecnologia, atualmente, indisponíveis na indústria nacional.

É o caso de uma lista que inclui 24 itens, principalmente cabedais, têxteis, solados, matrizarias e equipamentos, elaborada pelo Movimento de Livre Escolha (Move) - associação que representa marcas como Nike, Adidas, Puma, Reebok e Penalty no País. Intituladas de necessidades tecnológicas, as demandas têm por objetivo embasar o desenvolvimento de ações conjuntas na tentativa de alterar um panorama que não depende apenas de melhores condições tributárias. A meta é realizar os primeiros workshops reunindo fabricantes de tênis e de componentes em fevereiro para dar início à elaboração de projetos específicos para cada artigo da pauta.

Apesar da união dos esforços para o desenvolvimento tecnológico, as entidades seguem em lados opostos quando o assunto é a elevação da Tarifa Externa Comum (TEC). De um lado, a Assintecal defende que o atendimento das demandas do setor esportivo é mais um reforço para a manutenção da alíquota de 25%, que pode ser renovada por mais 12 meses e inclusive gerar um novo pedido de regime diferenciado.  A expectativa é de equalizar o aumento das importações de cabedais que, em 2012, somaram US$ 84 milhões, 39% a mais do que 2011. Já os solados registraram a entrada de US$ 315 milhões, soma 20% superior à do ano passado.

Por isso, segundo o diretor-executivo da Assintecal, Diogo Serafim, houve mobilização por parte da indústria de componentes e o interesse em investir nas novas tecnologias. “No grupo de trabalho, são mais de 40 empresas dispostas a evoluir nesta adaptação. A alteração da alíquota não se trata de uma medida protecionista, mas, sim, de incentivo à competitividade da indústria nacional frente aos produtos importados”, afirma.

Na outra ponta da cadeia, todavia, o Move já ingressou com um pedido de regime de exclusão para o setor que ampliou a produção de 19 milhões, em 2007, para 34 milhões de pares, em 2011, faturando R$ 4,5 bilhões naquele ano.  Conforme explica o diretor-executivo do movimento, André Raduan, a temática envolve duas indústrias: a de componentes e a de calçados esportivos terceirizada das grandes marcas.

Segundo ele, mais de 50% dos tênis esportivos comercializados pelos associados do Move é produzido no Brasil por meio de encomendas a empresas como Paquetá, Aniger e Dass, entre outras.  A opção pela produção nacional, entretanto, pode estar ameaçada, na medida em que a TEC deve incrementar os custos na etapa intermediária.  “É óbvio que teremos aumento de custos. Na maioria das vezes, a tentativa é de absorver e não repassar ao consumidor, pois o valor de um calçado esportivo já é alto. Por isso, somos drasticamente contrários à elevação de tributos, porque além de destruir os empregos, pode gerar o efeito inverso”, rebate.

No entanto, ambos os diretores concordam que a cizânia com o fator TEC não anula o objetivo de buscar as novas tecnologias pelo grupo de trabalho. Mas os eventuais projetos elaborados podem levar tempo e, em alguns casos, não atingirem a competitividade esperada para os componentes no mercado.
Baixa escala e custos altos favorecem ingresso de produto acabado na Ásia

O objetivo da ampliação da Tarifa Externa Comum (TEC) de frear a entrada de componentes estrangeiros, pode auxiliar a descobrir a outra ponta da cadeia e gerar o aumento das importações de tênis esportivos já  acabados na Ásia.  Como boa parte deste mercado é dominada por empresas globais, a elevação nos custos de produção deve alterar a estratégia de longo prazo de muitas marcas com atuação no mercado nacional.

“Os preços internacionais já são mais competitivos. Muitas vezes se opta pelo produto nacional em razão de facilidades de planejamento, pois não se precisa de tanta antecedência nos pedidos. É natural que a indústria de esportes pague mais caro por outras vantagens, mas se essa diferença começar a aumentar, a opção pela estratégia global toma corpo”, analisa o diretor-executivo do Move, André Raduan.

Segundo ele, em apenas dois meses da entrada em vigor do novo regime tributário, algumas fábricas de esportivos perceberam a diminuição de uma fatia considerável na produção local. “Se o objetivo era aumentar a produção local, no que tange aos esportivos foi um verdadeiro trio no pé. A culpa não é da indústria, não é das marcas. A responsabilidade é do alto Custo Brasil”, complementa o executivo.

A justificativa para a falta de preparo da indústria de componentes, no entanto, pode estar ligada à escala de produtos com maior valor agregado. Para Raduan, tudo que se necessita pode “perfeitamente” ser produzido no Brasil. Entretanto, na avaliação do executivo, por se tratar de um País de renda baixa e produtos com preço acima de R$ 400,00, a demanda pela produção mantém certo nível de estagnação.

“Muitas vezes, quem tem condições de pagar compra fora. Por isso, a demanda não cresce, e os pedidos internos são em menor quantidade. É um ciclo, pois a indústria não tem competitividade para atender a mil pedidos, e as fornecedoras de grandes marcas precisam contar com os itens. O mesmo é válido para a indústria automobilística que produz apenas carros populares no Brasil, e quando falamos em carros mais caros, mais tecnológicos, a escala global determina que venham de fora”, exemplifica.


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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