Matéria-prima sofre reajuste e promove efeito cascata sobre os derivados; alta varia de 5% a 10%
Após altas consecutivas na farinha de trigo, panificadoras começam a reajustar o preço das mercadorias na Grande Cuiabá. O aumento no pão francês deve variar de 5% a 10%, dependendo a estrutura dos estabelecimentos e da qualidade e origem da matéria-prima, que compõe 80% do produto. Entretanto, segundo o diretor financeiro do Sindicato das Panificadoras e Confeitarias de Mato Grosso (Sindipan/MT), João Tressoldi, o empresário que fizer um reajuste inferior a 10% estará achatando a margem de lucro, absorvendo os aumentos nos custos de produção, que chegam a 50%. “O mercado é livre. Cada empresário decidirá seu reajuste”.
Nelson Ferreira de Barros, 59, estranhou o preço do pão mandi em uma panificadora do bairro Coophamil que, segundo ele, era 60 centavos e passou para 80 centavos, de um dia para outro. “Eu sei que o padeiro usa muita energia, que vai baixar 32%. Aí aumenta o pão. Ficou um negócio esquisito. Em vez de baixar, aumentou”, diz o artista plástico, que já decidiu mudar o cardápio do café da manhã que terá menos pão.
Conforme Tressoldi, a representatividade da energia no custo da produção é inferior à matéria-prima e outros itens, como folha de pagamento. “Nos últimos anos o salário mínimo tem subido acima da inflação e a demanda por mão de obra também aumentou. As pessoas estão migrando, você acaba tendo que pagar mais para mantê-lo”.
Outro grande vilão é o reajuste no preço do trigo, que vem sendo justificado pela produção nacional insuficiente e, consequentemente, a dependência da importação do produto, que é atrelado ao dólar. “O produtor brasileiro, como nunca foi bem remunerado, não teve incentivo para produzir”, avalia o Tressoldi. Em razão desse mercado, a Bunge em Mato Grosso, por exemplo, repassou aos clientes 2 reajustes recentes no trigo: 10% em dezembro para a linha importada e 7% para a mesclada (mistura de farinha). Agora em janeiro, a alta foi maior, de 25% para o trigo importado e 15% para o mesclado.
O estoque ajudou a manter os preços na Estação do Pão após o reajuste de dezembro, explica a gerente Neuza Urbano, confirmando que uma nova alta ocorrerá nos próximos dias porque a negociação de uma nova compra foi feita e deverá elevar em 6% o pão francês ao consumidor. O empresário José Souto, proprietário da Panificadora Monte Líbano, optou por “segurar” o repasse no pão francês, mas precisou reajustar em 15% os demais alimentos, como salgados e doces, produzidos com trigo.
Na Padaria América o reajuste no pão francês, que será feito esta semana, deverá ser de 5%, e nos demais produtos em 7%. O gerente Claudivino Rosa Júnior, não descarta um aumento maior, o que dependerá do preço da matéria-prima. “Você não consegue comprar hoje e segurar o preço. Maior dificuldade é o câmbio”. A única certeza de Izabel Nunes de Oliveira, gerente da Pães D’ Milla, é que o aumento também será repassado esta semana aos clientes. O percentual será definido após a avaliação das planilhas de custos.
Veículo: A Gazeta - Cuiabá-MT