O trigo volta a ser economicamente competitivo frente ao milho, conforme cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Depois de ter perdido área para os milharais -ou, pelo menos, ter tido sua expansão tolhida- nas últimas safras, o trigo proporciona remuneração suficiente para que o produtor opte por esta cultura na safra de inverno. Pesquisadores acreditam que o grão se manterá vantajoso mesmo com a suspensão dos 10% da Tarifa Externa Comum (TEC) concedida pelo governo brasileiro no início de fevereiro à importação de 1 milhão de toneladas de fora do Mercosul a aportarem no País entre 1° de abril e 31 de julho.
Para calcular a competitividade do milho e do trigo na safra de inverno que começa a ser cultivada, pesquisadores selecionaram a região norte do Paraná e o Município de Passo Fundo (RS). Os preços de insumos e os valores de venda da produção considerados representam as médias de novembro e dezembro de 2012 e janeiro de 2013 nas respectivas regiões. Os coeficientes técnicos (doses de insumos e produtividade) considerados se baseiam nos levantamentos da equipe de pesquisa junto a produtores e consultores das localidades referentes à safra de 2011/2012.
Em Passo Fundo, considerando-se a produtividade de 52 sacas de trigo por hectare, o custo operacional (que representa todos os desembolsos da safra) deste cereal seria de R$ 26,57 por saca de 60 quilos (kg), o que proporcionaria rentabilidade de 17,3% sobre o preço médio observado nos últimos três meses (novembro a janeiro), de R$ 31,17 por saca.
Na região norte do Paraná, com produtividade média de 41,32 sacas por hectare, o custo operacional do trigo seria de R$ 25,89 por saca. Tomando-se como base o preço médio de R$ 35,86 a saca de 60 kg, a rentabilidade do trigo paranaense seria de 38,5%. O milho de segunda safra, por sua vez, na região norte do Paraná, teria custo de R$ 22,71 a saca de 60 kg, para uma produtividade de 74,38 por saca por hectare (ha). Com preço médio de R$ 26,18 a saca de 60 kg, a rentabilidade seria 15,3%.
Já ao serem analisados os custos totais, o cultivo de trigo em Passo Fundo geraria receita praticamente igual ao custo, com rentabilidade praticamente nula. No norte do Paraná, no entanto, a rentabilidade do trigo seria positiva em quase 23%, enquanto a do milho se limitaria a 5%.
Além disso, as cotações do trigo no mercado de balcão (recebidas pelo produtor) estão em alta, e as do milho, enfraquecidas com a entrada da safra de verão. A média do trigo em janeiro no norte do Paraná foi de R$ 38,23 a saca, e, na parcial de fevereiro, está a R$ 40,23. Já o milho, na mesma região, passou de R$ 25,59 para R$ 25,24, o que deixaria a competitividade do trigo ainda maior do que o identificado nos cálculos.
Na avaliação de pesquisadores do Cepea, se a TEC for liberada para apenas 1 milhão de toneladas e, ao mesmo tempo, houver aumentos nos preços mínimos do cereal, há boas chances de que a área de trigo brasileira pelo menos não diminua.
Veículo: DCI