Sorvetes artesanais, feitos com ingredientes gourmet usados na gastronomia, viram o hit milionário deste verão.
Por Bruna BORELLI
Todo verão é assim: faz calor e os sorvetes e picolés somem das geladeiras. O que mudou nesta temporada foi o paladar do brasileiro com relação aos gelados. Com receitas mais sofisticadas, sem conservantes nem corantes, e usando ingredientes gourmet, as sorveterias artesanais ganharam espaço e conquistaram uma clientela mais exigente, que não se satisfaz com qualquer casquinha de fast-food. Resultado: novas gelaterias, com enormes filas na porta, tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro. Com quatro anos de vida, a Diletto, que ganhou fama com seus picolés feitos na fábrica em Carapicuíba, na Grande São Paulo, se aproveita dessa tendência para lucrar mais.
Utilizando apenas ingredientes importados da Itália, a sorveteria inaugurou sua loja-conceito em dezembro passado, no bairro de Cerqueira Cesar, na capital paulista. Foi um estouro. “Na terça-feira de Carnaval, por exemplo, mais de duas mil pessoas passaram por lá”, diz Leandro Scabin, sócio majoritário da Diletto, que faturou R$ 25 milhões, no ano passado, e planeja abrir mais 150 novas unidades nos próximos até o final da década. No mesmo bairro, a tradicional Kibon abriu a Magnum Store, um espaço para customizar seu produto mais premium. A linha Magnum apresentava opções de sabores e coberturas que podiam ser combinadas na hora, de acordo com o gosto do cliente.
“O País vive um momento em que cada vez mais as pessoas procuram produtos gourmet e a personalização”, diz Isabel Masagão, gerente de marketing da Kibon. Prova disso é que a loja temporária nos Jardins era para ter fechado no fim do ano passado, mas prorrogou seu expediente até o fim deste mês. Scabin concorda com a concorrente. E diz não se importar em competir com uma gigante do setor. “O mercado ainda está muito longe de alcançar uma saturação porque as pessoas perceberam que existe uma demanda reprimida gigante de produtos de qualidade em todos os setores”, afirma o empresário. Nessa disputa pelo paladar do verão, há espaço também para um jeito ainda mais “butique” de atender à demanda.
É o caso da pâtisserie Le Jardin Secret, na Vila Madalena, em São Paulo. Ali, o trio de sócias formado pelas jovens empresárias Fernanda Rosset, Ana Carolina Urquiza e Albane Le Marie resolveu investir na tendência, no início de janeiro. “Vimos no sorvete uma oportunidade de atrair consumidores para o estabelecimento”, diz Ana Carolina. Qual o diferencial? Sorvetes com flores. A iguaria é trazida da França e deu ainda mais charme à sobremesa. “Tem dado certo”, afirma Ana. “As pessoas ficam curiosas para conhecer nossos sorvetes com pétalas cristalizadas de rosas e violetas.” No Rio de Janeiro, quem lançou a moda, há mais de duas décadas, foi a empresária carioca Renata Saboya. Em 1988, abriu a Mil Frutas, sua marca que, nos primórdios, fornecia apenas para restaurantes.
Vinte anos depois, ela tem dez lojas próprias (entre a capital fluminense, Búzios, Brasília e São Paulo), que crescem a taxas de 10% ao ano, e foi citada em artigo no jornal americano The New York Times, que comparou seus sorvetes – de sabores exóticos, com ingredientes como a tapioca, a seriguela e até o apfelstrüdel (tradicional folhado de maçã austríaco) – a “pequenas obras-primas”. “O legal é que sorvete artesanal, quando não é artificial, passou a ser considerado um alimento”, diz Renata. Reflexo disso é que suas vendas se mantêm estáveis mesmo no inverno. “Antigamente as vendas caíam cerca de 80% na época do frio”, afirma. “Agora, com a diferença na percepção dos brasileiros sobre os sorvetes, isso não acontece mais.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro