Estiagem severa prejudica produção de grãos no Piauí

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A produção de grãos do sul do Piauí pode sofrer uma forte baixa nesta safra 2012/13. A região, hoje ocupada por grupos empresariais como Vanguarda Agro, Insolo e BrasilAgro, foi castigada pela pior estiagem em uma década. Conforme produtores da região, as chuvas praticamente cessaram desde o fim de janeiro e os índices pluviométricos ficaram abaixo da metade da média histórica para os meses de safra.

As regiões de Bom Jesus, Palmeira do Piauí e da Serra do Quilombo foram particularmente comprometidas, com quilômetros de lavouras destruídas pela condição adversa. Adilson Rogério Biesek, gerente da Fazenda Vista Verde, do grupo Insolo, conta que a propriedade de 7,5 mil hectares localizada em Palmeira do Piauí ficou 42 dias sem chuvas, o que comprometeu o desenvolvimento das plantas. De acordo com ele, cerca de 3 mil hectares de área plantada sequer serão colhidos. "Nunca vi uma seca como essa desde que cheguei à região".

Como resultado, a propriedade prevê colher não mais do que 11 sacas (660 quilos) de soja por hectare, em média, ante uma expectativa inicial de aproximadamente 60 sacas (3,6 toneladas). Já o rendimento do milho deverá ficar em 42 sacas (2,5 toneladas) por hectare, longe das 180 sacas (10,8 toneladas) esperadas.

Diante do resultado ruim, o grupo resolveu congelar os investimentos na propriedade. "Suspendemos todos os planos de aumento de área, compra de máquinas e adubos e construção de silos", afirma Biesek. A fazenda planejava abrir uma área de 1,5 mil hectares neste ano, mas abortou o projeto. No próximo plantio, conta o administrador, a fazenda deverá manter o tamanho e a estrutura de 2012/13.

"De todas as regiões que visitamos, esta é, sem dúvida, a que mais sofreu. O Piauí vai destoar do resto do Brasil nesse ano", afirma André Debastiani, sócio da Agroconsult, empresa que promove uma tradicional expedição pelas plantações do país durante a colheita, o Rally da Safra. Nas fazendas ao longo da PI-397 - a Transcerrado, uma estrada de terra que corta as chapadas produtoras de grãos do Estado e é a principal rota de escoamento da colheita na região -, lavouras de soja visivelmente castigadas pela seca sinalizam rendimentos inferiores a 30 sacas (1,8 tonelada por hectare), pelo menos 20 sacas (1,2 tonelada) ou 40% abaixo da produtividade média histórica da região.

Para Wilson Sturmer, proprietário da Fazenda Boaventura, a seca deste ano pode ter abreviado o sonho de se estabelecer na região como produtor rural. Dono de uma transportadora do Paraná, Sturmer desembolsou quase R$ 4 milhões na compra de uma fazenda com 1,2 mil hectares em Ribeiro Gonçalves e no plantio de sua primeira safra (entre máquinas e adubos). "Até o dia 8 de fevereiro a lavoura estava linda. Depois, não choveu mais". Ele conta que a fazenda vai colher, no máximo, 30 sacas (1,8 tonelada por hectare). "Se o banco e o antigo proprietário da terra não aceitarem renegociar a dívida, eu quebro", afirma.

Embora as chuvas tenham sido mais escassas em todo o sul do Piauí, nem todos os produtores foram igualmente afetados. Marcos Tentro, da Fazenda Tentro, em Uruçuí, conta que ainda espera colher 48 sacas (2,9 toneladas) de soja por hectare, número pouco abaixo da média histórica da fazenda, de 54 sacas (3,2 toneladas), embora longe da meta de 64 sacas (3,8 toneladas) - neste ano, a empresa plantou 4,5 mil hectares com a oleaginosa. "Conseguimos plantar um pouco mais cedo neste ano, então nos beneficiamos mais das chuvas que caíram em seguida".

O Condomínio Boa Esperança, em Ribeiro Gonçalves, ainda contabiliza as perdas, mas já descarta um "desastre". Segundo o gerente geral do grupo, Giordano Rickli, a empresa espera uma quebra de aproximadamente 12% na produtividade da soja, 20% na de milho e 30% na de arroz. Ao todo, o grupo planta 9,8 mil hectares com grãos. "Demos sorte. Embora tenha chovido apenas 60% da média para a nossa microrregião, tivemos chuvas que outras fazendas não tiveram", diz.

Em termos relativos, o Piauí é o Estado onde a área de soja mais cresce no Brasil. De acordo com o último relatório da Conab, divulgado no começo do mês, os produtores do Estado cultivaram mais de 546 mil hectares com a oleaginosa na safra 2012/13, um avanço de quase 23% ante o ano anterior. Apesar disso, a produção não deve avançar mais de 1,2%, a 1,28 milhão de toneladas, segundo a estatal, devido à queda da produtividade. A expectativa é que os números finais de produção sejam menores, uma vez que a Conab ainda não captou todo o efeito da estiagem sobre a produção total.



Veículo: Valor Econômico


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