Baixos preços e barreiras tarifárias ameaçam cultivo do tipo arábica. Grão concentra 90% da safra do estado
A despeito do crescimento do consumo de café no mundo, estimado em 2,5% neste ano pela Organização Internacional do Café (OIC), o cafeicultor brasileiro enfrenta duplo desafio diante dos baixos preços do café do tipo arábica – variedade de melhor qualidade e que representa 75% da produção nacional – e das barreiras tarifárias às exportações. A queda das cotações da commodity, que chegou a 40% nos últimos dois anos, já ameaça a sustentabilidade da atividade, segundo o diretor-executivo da OIC, Robério Silva, que esteve ontem em Belo Horizonte, no evento de lançamento da Semana Internacional do Café, marcada para 9 a 13 de setembro na capital mineira.
Ele afirmou, ainda, que as barreiras tarifárias aplicadas nos países desenvolvidos impedem a exportação do café brasileiro torrado e moído e na forma solúvel, em lugar do produto em bruto (em grãos). “Há uma escalada tarifária nos países desenvolvidos e o Brasil é discriminado em relação à tarifa que se aplica ao café solúvel nas capitais europeias e nos Estados Unidos”, disse o diretor-executivo da OIC. Robério Silva pregou que o Brasil defenda os seus interesses por meio da política de relações internacionais para ter condições de exportar o café de maior valor, em lugar do grão.
O problema dos baixos preços consiste na maior dificuldade para os cafeicultores e por isso será tema central da 50ª reunião da OIC em BH, como parte da Semana Internacional do Café. A variedade arábica, considerada o padrão de mercado, que concentra mais de 90% da safra de Minas Gerais, maior produtor brasileiro, encerrou a semana passada cotada entre R$ 295 e R$ 310 por saca de 60 quilos. A cotação do café robusta estava em R$ 260 por saca. Principal instituição do setor no mundo, representando 98% da produção e 90% do consumo, a OIC pretende relançar, na capital mineira, um “pacto pela sustentabilidade econômica, social e do meio ambiente da cafeicultura”, de acordo com Robério Silva.
Medidas de apoio
Em busca de reação dos preços, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, seguiu ontem a Brasília, para pedir medidas de apoio aos produtores, num périplo das entidades do setor pelos gabinetes dos ministros Antônio Andrade, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “Vamos tentar negociar medidas de garantia de preço mínimo e, principalmente, a opção de compra. Basta que o governo dê o sinal ao mercado”, afirmou.
O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas, Elmiro Nascimento, informou que a Semana Internacional do Café receberá delegações de mais de 70 países e vai abrigar a 8ª edição do Espaço Café Brasil, maior feira de cafés da América Latina, que no ano passado atraiu 6,5 mil visitantes de 18 países. Os representantes da OIC, com sede em Londres, farão visitas técnicas às regiões produtoras do Sul de Minas e do cerrado. “A expectativa da OIC é conhecer o café de melhor qualidade, mas que precisa ser divulgado no exterior, para a valorização do produto”, afirmou Nascimento.
Veículo: Estado de Minas