Usinas retêm estoque e açúcar alcança maior alta do ano

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Suportados até o momento pelo mercado firme de álcool, os preços internos do açúcar bateram na última semana valor recorde no ano. Desde setembro, variando entre os patamares de R$ 30 e R$ 31, a saca de 50 quilos (tipo cristal, em São Paulo) do produto superou os R$ 32 na última semana (na sexta-feira estava em R$ 32,58), segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/-Esalq/USP). "As usinas venderam o álcool para fazer caixa e puderam estocar o açúcar para aproveitar os preços maiores previstos para a entressafra", explica Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone.

 

Mesmo com a necessidade de levantar capital adicional no final do ano para pagar despesas como décimo terceiro, as usinas conseguiram segurar a venda de açúcar em detrimento da liquidação de álcool, conforme conta Silveira. Além disso, a chegada das festas de fim de ano eleva um pouco o consumo, o que ajuda a sustentar ainda mais os preços.

 

O Grupo São Martinho S.A. anunciou na semana passada que têm estocado dois terços de sua produção de açúcar (total de 560 milhões de toneladas) para comercializar na entressafra. A empresa, assim como todo o setor, aposta em alta nos preços para o próximo ano - como já vêm indicando as telas futuras na Bolsa de Nova York (Nybot).

 

Na base dos fundamentos altistas para o próximo ano está a redução na produção da Índia (23%) e na Europa (17,6%), segundo a FCStone, o que contribuirá para uma relação entre oferta e demanda deficitária em 2 milhões de toneladas. Algumas consultorias prevêem déficit de 3,6 milhões de toneladas (ISO) e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), de 3,3 milhões de toneladas.

 

No Brasil também haverá, apesar de leve, recuo na produção. Os problemas com excesso de chuva no começo da entressafra prejudicaram a qualidade da cana dificultando a produção de açúcar. Assim, as estimativas de crescimento na produção (atingir 27,5 milhões de toneladas) desta safra foram frustradas e, segundo a consultoria Datagro, a oferta de açúcar será no Centro-Sul de 25,5 milhões de toneladas. O volume será 2,6% menor do que as 26,19 milhões de toneladas realizadas no ciclo passado.

 

O bom desempenho no mercado interno também está ajudando a diminuir o deságio sobre o açúcar VHP (bruto) de exportação nos portos brasileiros, segundo Silveira, da FCStone. Os descontos, que estavam na primeira semana em torno de 150 pontos (1,5 centavos de dólar por libra-peso), melhoraram para 100 pontos de deságio.

 

Diferentemente dos grãos, como soja e milho, cujos preços internacionais caíram pela metade desde o agravamento da crise em setembro, o açúcar teve retração menor e, portanto, está se beneficiando mais da alta do dólar. Desde o início de setembro, a libra-peso da commodity recuou 15,6%, mais que compensada pelo dólar que valorizou-se 42%.

 

Mas, a falta de liquidez e a aversão ao risco trazidas pela crise está limitando o aproveitamento dessa vantagem entre as usinas. Há estimativas de que, entre 20% a 30% da safra 2009/10 de açúcar esteja fixada para entrega no próximo ano, percentual que era de mais de 90% em dezembro do ano passado. "Além de as tradings estarem retraídas em fechar contratos e, assumir riscos de margeamento em bolsa, é preciso considerar também que, ao final de 2007, tínhamos uma perspectiva de que o preço iria cair, diferentemente de agora, quando a perspectiva é de elevação", explica.

 

Uma pequena parte do setor, segundo ele, conseguiu fazer hedge de câmbio e de produto atingindo bons níveis de rentabilidade. "Há contratos que estão sendo fechados em R$ 800 a tonelada do VHP. Mas é a menor parte", diz.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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