Depois de cair por dois anos seguidos, as exportações brasileiras de cerâmica devem voltar a crescer em 2009, impulsionadas pela recuperação do dólar frente ao real registrada nos últimos meses. A previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer) é que as vendas externas do setor cresçam 15% no próximo ano, depois de fecharem 2008 com uma queda de 15% ante 2007, segundo dados preliminares da associação. Em 2007, já haviam caído 10%.
O setor deve fechar o ano com um embarque de 86,7 milhões m do material - o menor patamar desde 2002. Em 2007 foram 102 milhões m. Com o aumento de 15% em 2009, as vendas externas chegariam a 99,6 milhões m.
A projeção de alta nas exportações é também resultado de uma mudança na estratégia do setor, que nos últimos três anos se voltou principalmente para o mercado interno, onde houve uma retomada da construção civil depois de mais de uma década estagnada. Em 2008, o volume de vendas para o País vai chegar a 609,5 milhões m, alta de 13,9% sobre os 534 milhões m de 2007.
Em 2009, no entanto, com o arrefecimento que a crise causou na economia global, o desempenho do setor deve ter uma desaceleração brusca. Na previsão da Anfacer, as vendas de cerâmica para o País devem aumentar apenas 2% no próximo ano, para 621 milhões m. "Perto do volume com que vínhamos crescendo, 2% é quase parar", disse o superintendente da Anfacer, Antonio Carlos Kieling. "Em 2008, o mercado interno foi muito comprador. A tendência de retração vai nos induzir naturalmente ao mercado externo", explicou.
A principal barreira sentida entre as fabricantes de cerâmica, de acordo com Kieling, foi a dificuldade em conseguir crédito para financiar a produção, o que passou a acontecer a partir da segunda metade do ano. "A indústria da construção civil no Brasil é feita majoritariamente de empresas nacionais, pequenas e médias. Dependemos destes financiamentos para pagar nossa folha de salários, nossos credores. Se temos menos crédito, é inevitável reduzir produção e, com isso, demitir", explicou Kieling. Até agora não houve casos de demissões entre as cerâmicas - que somam 94 empresas no País, 25 mil empregos diretos e outros 250 mil indiretos.
Internacionalização
Para crescer fora e escoar a produção excedente do País, Kieling aponta que as fabricantes de revestimento cerâmico devem aproveitar o potencial de novos mercados, como América Latina e Oriente Médio, onde a participação brasileira ainda é pequena e a construção civil também entrou recentemente em um ciclo de expansão. "A condição fundamental para isso é o aumento do dólar", de acordo com o superintendente da Anfacer. Na sexta-feira, a moeda norte-americana fechou a R$ 2,38 - apenas quatro centavos abaixo de sua cotação ao fim de 2005, quando chegou a R$ 2,34. Para 2009, a Anfacer prevê um câmbio médio de R$ 2,25.
Fatores como estes devem compensar a queda nas compras dos Estados Unidos, maior importador mundial de cerâmica. "Não devemos esquecer que, antes de ser uma crise financeira, essa situação era uma crise imobiliária, e os Estados Unidos já estavam enfraquecidos havia mais de dois anos", afirmou o superintendente daAnfacer.
De olho nisso, as cerâmicas brasileiras se esforçaram nos últimos anos no sentido de diminuir sua dependência dos Estados Unidos no mercado externo - em 2005, o país norte-americano representava 40% das exportações brasileiras, hoje é apenas 18%.
Veículo: Gazeta Mercantil