O Natal chega em 2008 com o pano de fundo da mais séria crise financeira global em décadas. O cenário econômico exige um pouco mais de atenção e jogo de cintura do consumidor na hora de escolher os presentes e montar a ceia, mas, para empresas e entidades do setor, o mercado dos produtos típicos dessa época do ano não perdeu o fôlego. Panetone, bacalhau, espumantes e, claro, o Papai Noel mantêm seus papéis de símbolos da data para o brasileiro.
A Pandurata Alimentos, fabricante dos panetones das marcas Bauducco, Visconti e Tommy, alterou a estratégia para a temporada de fim de ano, que concentra as vendas do produto. Segundo a empresa, com a alta nos preços agrícolas registrada até a metade do ano, os custos aumentaram mais de 15%. Para se ajustar ao mercado, a Pandurata não só reajustou em 9% os preços em relação a 2007, como também investiu 50% a mais em divulgação. Mesmo com o reajuste, a empresa espera vender 40 milhões de panetones na temporada, acima dos 36 milhões vendidos no mesmo período do ano passado.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), no total são produzidas mais de 50 mil toneladas por ano de panetones no país. O segmento movimenta perto de R$ 600 milhões por ano no Brasil.
Bacalhau
O grupo Pão de Açúcar, um dos maiores varejistas do País, informou que importou da Noruega e de Portugal um volume 27% maior do peixe em relação ao ano passado. A rede espera vender 1,4 mil toneladas do produto neste fim de ano. Em comunicado, assegura que, mesmo com o aumento do dólar, o bacalhau deve manter-se acessível ao consumidor. Com o aumento da taxa de câmbio, segundo o Pão de Açúcar, o preço volta aos mesmos patamares de 2006 e 2007.
A rede informa, no entanto, que, na comparação com os últimos períodos sazonais, o bacalhau estará em média 12,5% mais caro que em 2007 e 6% mais caro que na Páscoa, nas lojas do grupo, devido a negociações e importação realizadas pela própria empresa. O Pão de Açúcar ressalta que o aumento é menor que o de outras carnes natalinas - suína e aves -, o que deve garantir a competitividade do peixe nas ceias.
Espumante nacional
O consumidor também vai ter de escolher com mais cuidado o que beber na ceia. Quase todas as categorias de bebidas tiveram aumentos de preços acima da inflação este ano, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O espumante nacional, no entanto, deve se beneficiar com a alta do dólar e ganhar uma fatia ainda maior do mercado. De acordo com dados da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), a participação do produto nacional nas vendas totais de espumantes pode chegar a 85% este ano, ante 72,5% em 2007. O último trimestre responde por 45% a 50% das vendas de espumantes no ano, segundo a Uvibra. As vendas domésticas devem superar os 13 milhões de litros, ante 11,8 milhões de litros em 2007.
De janeiro até o fim de novembro, o preço do vinho subiu 15,80%; uísque e vodca tiveram aumentos de 12,23% e 11,46%, respectivamente; e refrigerantes ficaram 6,56% mais caros, segundo o Fipe. A inflação no período foi de 5,99%.
No mercado de bebidas finas, que tem relação direta com o dólar, já que grande parte dos produtos é importada, a saída encontrada pelas empresas é tentar trabalhar com uma cotação menor da moeda americana que a praticada pelo mercado. A fabricante britânica Diageo, líder mundial no segmento de bebidas alcoólicas - produz o uísque Johnnie Walker e a vodca Smirnoff, entre outros -, por exemplo, divulgou esta semana que está trabalhando com o dólar a R$ 1,80.
Em pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) divulgada esta semana, 76% dos entrevistados afirmaram que a crise não afetou as decisões de compra de fim de ano.
Embora o número de pessoas que vão dar presentes tenha caído de 54% em 2007 para 49%, os que vão presentear capricharam mais na escolha. O preço médio do presente de Natal em 2008, segundo a Fecomércio, será de R$ 69,70, e cada consumidor vai dar, em média, três presentes. No ano passado, a média foi de quatro presentes, e os artigos tinham valor médio de R$ 36,25.
"O aumento no valor dos presentes é reflexo das conquistas em termos de emprego e renda no País. Por outro lado, a inflação mais forte ao longo do ano e o encarecimento do crédito nos últimos meses levaram o consumidor a ser mais seletivo. Essa consciência é boa porque garante um consumo sustentado", avalia Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ.
Veículo: Gazeta Mercantil