Com expansão da renda e chance de consolidação, empresas voltadas ao consumidor doméstico lideram operações
Recentes rodadas de investimento de fundos e companhias miraram marcas conhecidas do público brasileiro
Óculos, brinquedos, sofás, produtos de beleza, cursos de inglês, planos de saúde.
Alheio ao pessimismo que ronda a economia brasileira nos últimos anos, o brasileiro continua ávido por adicionar esses e dezenas de outros itens à sua cesta de compras.
Essa força consumidora tem alavancado as operações de fusões e compras de empresas de setores ligados à demanda doméstica.
Segundo dados da consultoria especializada Dealogic, desde o início deste ano, foram feitas 17 operações de fusões e aquisições em empresas da área de consumo.
O grupo inclui os segmentos de bebidas, alimentação, varejo, bens de consumo, lazer, alimentação, hospedagem e saúde. No mesmo período, o setor industrial, que compreende máquinas, químicos e indústria automobilística, entre outros, contabilizou 13 transações.
"Hoje, o grande volume da indústria de 'private equity' [participações em empresas] está olhando mais para os serviços e menos para a indústria", diz Clóvis Meurer, presidente da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital).
As recentes rodadas de investimento miraram empresas que fazem parte da rotina de consumo do brasileiro, como Ri Happy (adquirida pelo fundo Carlyle), Drogarias Onofre (CVS), Óticas Carol (fundo 3i), Wise Up (Abril Educação), Amil (UnitedHealth) e Tok & Stok (Carlyle), entre várias outras.
Está nos indicadores da economia nacional dos últimos anos uma parte da explicação para esse interesse.
Graças ao aumento da renda, do emprego e do crédito, o consumo das famílias, em ascensão desde 2004, cresceu 3,1% em 2012, ajudando a sustentar o PIB de 0,9%.
"Cada real a mais que o trabalhador brasileiro ganha ele gasta no comércio e em serviços", diz Viktor Andrade, da Ernst & Young.
OPORTUNIDADES
"Evitamos setores que são prejudicados pela falta de competitividade do Brasil", diz Carlos de Barros, da Gávea Investimentos, que levantou um fundo de US$ 1,9 bilhão em 2011 para investir em empresas ligadas ao consumo no Brasil.
Parte do capital já foi investida em companhias como a rede de camisarias Colombo, a de acessórios Chili Beans e a rede de laboratórios mineiro Hermes Pardini.
"O consumo continuará a ser um motor importante para a economia brasileira nos próximos anos", diz Barros.
Segundo especialistas, além da perspectiva de aumento da renda da população, há outros motivos que explicam a preferência dos investidores por essas empresas, como a oportunidade de consolidação.
"Açúcar e álcool, agronegócio ou frigoríficos, por exemplo, já passaram por esse movimento", afirma Luis Motta, da consultoria KPMG.
O fundo inglês Actis fez essa análise ao adquirir parte da rede de idiomas CNA e da universidade Cruzeiro do Sul, em 2012. "Há um potencial enorme de expansão e consolidação nessas áreas", diz Chu Kong, diretor da Actis.
As empresas de serviços, especialmente, têm outra "vantagem", sob a ótica do investidor de "private equity", que adquire uma fatia na companhia para depois revendê-la com lucro: são menos intensivas em capital e geram caixa mais rápido.
"Esses investidores não querem imobilizar muito capital", diz Andrade.
Veículo: Folha de S.Paulo