Se em tempos de crise, recessão e desemprego o agronegócio desponta como um dos poucos setores da economia em expansão em Portugal, não é de se estranhar que, em visita ao Brasil nesta semana, a ministra da Agricultura do país europeu saiba exatamente o que trouxe na bagagem e queira voltar para casa com mais do que promessas.
Primeira mulher a comandar o ministério português da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, a advogada Assunção Cristas é pragmática. Sabe que a força de seu país no campo vem de produtos como azeites, pescados, bebidas e frutas e derivados florestais, e enxerga na crescente demanda de países emergentes oportunidades importantes de negócios.
E, na atual conjuntura, a ministra está consciente de que quanto mais forte estiver o agronegócio em seu país, menor a pressão da crise nos centros urbanos. Em boa medida impulsionado por exportações, o PIB do setor agroalimentar cresceu 2,8% em 2012 em Portugal, ante uma queda da ordem de 3% do PIB geral. A expectativa é manter o ritmo de expansão neste ano, mesmo que as estimativas apontem para uma nova retração geral, agora de 1%.
"O setor agrícola vive um momento de dinamismo em Portugal, temos gente mais instruída e preparada [no campo] e podemos exportar mais, inclusive para o Brasil", disse Assunção ao Valor após participar de um evento organizada pelo Espírito Santo Investment Bank na capital paulista. Mesmo em alta, as áreas agroalimentar e florestal representam menos de 5% do PIB do país.
Gorduras e óleos animais ou vegetais, grupo que inclui azeites, ainda encabeçam os embarques agropecuários portugueses ao mercado brasileiro, com receita média anual pouco superior a € 94 milhões de 2007 a 2011. Em seguida aparecem os peixes e crustáceos, com média de € 42,7 milhões por ano no período, e o grupo composto por bebidas (inclusive alcoólicas) e vinagres, com média de quase € 22 milhões.
No total, segundo dados do governo português, as exportações agroalimentares do país para o Brasil alcançaram € 256,3 milhões em 2011, 15,5% mais que em 2010. Os embarques florestais quase dobraram e atingiram € 12,1 milhões. Depois aparecem as frutas - média anual de exportações de € 20 milhões de 2007 a 2011 -, justamente um segmento no qual a ministra vê grande potencial de crescimento.
"Temos dificuldades nesse comércio, mas sabemos que há mercado para nossas pêras, maçãs e castanhas, entre outros produtos", afirmou ela. No total, as exportações portuguesas de hortifrutícolas superam € 1 bilhão por ano.
Já as importações de produtos agroalimentares do Brasil cresceram 11,8% em 2011, para € 423,5 milhões, puxadas pela soja. As exportações florestais do Brasil para Portugal chegaram a € 25,3 milhões. Para tentar equilibrar melhor a balança, produtos de maior valor agregado estão na lista de Assunção Cristas.
"Não há limites para a inovação. Desenvolvemos o ovo frito congelado para exportação e outros exemplos são as barrinhas de frutas e o uso de algas na cozinha molecular. Tudo isso casa bem com a ideia de que a demanda por alimentos é crescente, inclusive de produtos de maior valor. Tenho certeza de que a classe média chinesa vai gostar dos nossos azeites e vinhos", disse ela.
O campo português conta com o apoio dos subsídios da Política Agrícola Comum (PAC) europeia, tem recebido aportes em tecnologia e vem buscando atrair mais investimentos privados, inclusive estrangeiros. "Temos tido boa abertura nos bancos", disse a ministra. "Estamos em um oásis do ponto de vista econômico. Se formos capazes de agregar valor, seremos bem-sucedidos".
Veículo: Valor Econômico