Depois do varejo, chegou a vez do setor se reunir em fórum para marcar posições e afinar o discurso
Protagonistas do nublado cenário macroeconômico brasileiro, os capitães da indústria de alimentos estão empenhados em unificar o discurso para pressionar em bloco o governo. O primeiro passo na tentativa de encontrar uma pauta com um foi dado na última sexta-feira, em Goiânia, quando, a exemplo do setor varejista, o de alimentos realizou seu primeiro grande evento em conjunto: o 1˚ Fórum Brasileiro da Indústria de Alimentos.
Organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), o evento reuniu a linha de frente do café, leite, soja, trigo, cana de açúcar, milho e proteína animal. “Não vejo o setor agrícola ter a mesma pressão que o setor automotivo, por exemplo. Acho que esse mercado precisa se organizar e levantar uma bandeira para defender seus interesses. É importante que a democracia seja exercida", destacou Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp. Ele lembrou que em outros países - como Holanda e Inglaterra - há um movimento intenso dos agricultores e uma pressão para que os seus interesses sejam resolvidos. “Copiar estes exemplos é algo que o brasileiro deveria incorporar em suas atitudes. Hoje, sofremos com a falta de uma reforma tributária ativa e uma infraestrutura precária. Enfim, há problemas em todos os lados e ficamos calados. Faltam ações concretas e precisamos fazer pressão junto ao Congresso e Executivo para atacar de frente os principais aspectos da perda da competitividade”.
Para o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o setor precisa se unir em torno dos grandes gargalos de logística, infraestrutura, política comercial e também das questões tributárias, fiscais, aduaneiras, cambiais e de segurança jurídica. “Esses são temas comuns para toda a cadeia produtiva. Se negociarmos uma solução articulada, há muito mais chance de sucesso”.
Considerado o “vilão” do estouro da meta da inflação e da retração do comércio varejista como um todo, o setor de alimentos aproveitou a ocasião para elencar demandas e desfiar um rosário de críticas ao governo. “O governo não tem uma política específica para o trigo.O Brasil compra trigo da Argentina para balancear o déficit comercial", reclama André Lavor, presidente do Sinditrigo.
Ele explica, ainda, que a crise do escoamento da produção afetou diretamente o produto. “Como o Brasil é importador de trigo, usamos nessa época o frete de retorno, mas pagamos o preço que desce”. Um dos oradores mais inflamados do Fórum, o ex ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho, Alysson Palinelli, foi além: “O Brasil não quer produzir trigo”. Para Wilson Mello, vice-presidente de assuntos corporativos da BRF, a indústria de alimentos tem uma bandeira em comum.“O governo pode ajudar na abertura de novos mercados ”.
Veículo: Brasil Econômico