Produção de rosas cai 30% com a estiagem

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Poços secam e a produção que era de 188 mil hastes de rosas por dia despencou para 132 mil

Diante do longo período de estiagem no Ceará, a produção de rosas na Serra da Ibiapaba já reduziu em 30%, segundo o presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais, Paulo Selbach. Nos 70 hectares de área coberta de rosas em estufa na região, ele projeta que a produção tenha caído de 188 mil hastes por dia para em torno de 132 mil. Na empresa comandada por ele - a Cearosa -, dos oito poços profundos disponíveis, três secaram. Já os pequenos produtores, destaca Selbach, são os mais afetados.

Apesar da queda, o Ceará continua sendo o segundo maior produtor de rosas do Brasil, perdendo apenas para Minas Gerais. Com a seca, a qualidade da mercadoria também piorou FOTO: SILVANA TARELHO

"Normalmente eles trabalham em campo aberto e poço profundo custa caro. O governo não dá a assistência necessária que deveria dar ao pequeno produtor para desenvolver o negócio", reclama. Segundo Selbach, alguns, inclusive, tiveram que suspender os trabalhos.

Estado ainda é 2º maior

Mesmo assim, o Ceará continua como o segundo maior produtor de rosas no País, atrás apenas de Minas Gerais.

Selbach afirma que a principal dificuldade tem sido manter a qualidade das rosas, já que não é possível ter a umidade ideal dentro da estufa. "Usamos menos água que a agricultura normal, mas sofremos muito com a seca exatamente porque precisamos de água para manter a umidade relativa dentro das estufas. A planta está tomando água, mas o ambiente não está propício", destaca.

De acordo com ele, a umidade relativa na Serra da Ibiapaba, fora de uma estufa, já chegou a alcançar 20%.

"Como manter 70% dentro de uma estufa sem água?", questiona. A articuladora de Cadeias Produtivas de Flores e Mel da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Ticiana Batista, confirma que o maior problema é a queda na qualidade do produto. "A produção caiu um pouco, mas não comprometeu significativamente. Em qualidade e em número de hastes por metro quadrado caiu, mas não deixou o negócio inviável", diz. Segundo ela, os produtores locais, sobretudo os maiores, têm suporte para manter a produção durante todo este ano.

Qualidade

A queda na qualidade do produto também é um dos maiores problemas indicados pela gerente de vendas da Flora Tropical, Silvania Nuto.

"Com a seca, o produto fica mais ressecado e não tem uma durabilidade muito grande. Quanto mais irrigada, melhor", afirma. Mesmo com as dificuldades, ela diz que a produção ainda não começou a cair, sendo em torno de 15 hectares de área plantada. Contudo, não existe perspectiva de novas expansões. Focada em flores tropicais, a empresa produz, na Serra de Baturité, até 80 toneladas por ano.

"Um lugar, que teria mais água, que tem um clima melhor, está com muita dificuldade. Ano passado, no segundo semestre, furamos dois poços de 80 metros de profundidade e a vazão foi muito pequena", diz.

Com uma produção iniciada no fim dos anos 1970, Silvania afirma que essa é a pior seca enfrentada pela empresa. "Venho sentindo que os mananciais da Serra estão diminuindo mais. Acho que é mais uma questão ecológica", destaca.

Preços sobem até 15%

O vice-presidente da Associação Cearense de Floristas, Roberto Ito, afirma que o fornecimento está prejudicado, principalmente dos produtos de folhagens e componentes - como haste, tango e gipsófila. Porém, ele afirma que ainda não foi preciso trazer de outros estados.

"Os preços das rosas subiram em torno de 15%. Para o Dia das Mães, a Associação entrou em negociação com alguns produtores para evitar a falta do produto e negociar um preço mais estável", diz. Para o período, foram fechados 23 mil botões com os 15 associados.

Pequenos sofrem

"O governo não dá a assistência necessária que deveria dar ao pequeno produtor para desenvolver o negócio"

Paulo Selbach
Presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais

Floricultores ainda esperam chuvas

"Deus vai mandar uma chuva bem boa para a gente", afirma, esperançosa, a pequena produtora de flores na Serra da Ibiapaba, Mires Aguiar, que chegou a passar dois meses sem produzir por conta da seca. Antes movida por nove pessoas, a empresa hoje só conta com ela, o marido e mais dois empregados. E é a única fonte de renda da família. Foram 78 canteiros de 20 metros perdidos, cada um com 1.500 hastes de crisântemos. A produção passou de 14 mil por semana para 10 mil durante a quinzena.

Das associações produtoras de flores do Estado, mais de 40 já pararam os trabalhos apenas nas regiões do Cariri e do Maciço de Baturité. Os dados, divulgados pelo o coordenador de Agricultura Irrigada da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Erivan Marreiros, revelam como são os impactos aos pequenos produtores.

Nos municípios de Crato e Barbalha, no Cariri, a produção de flores temperadas foi reduzida a quase zero, queda percebida desde o primeiro semestre de 2012. Em Pacoti, Guaramiranga e Baturité, no Maciço, a queda significativa foi sentida a partir do segundo semestre.

Burocracia

Já no caso de Mires, a opção para evitar a paralisação total foi cavar um poço profundo, com recursos adquiridos por meio de empréstimo. Porém, por conta da "burocracia", ela espera retorno do banco financiador desde julho do ano passado. A expectativa é que o recurso chegue nos próximos dias. Mas, o receio é que o novo poço não dê água.

"Fizemos buracos na beira do rio e tentamos de tudo para não perder a produção do campo. Cheguei até a utilizar a água da Cagece, mas não foi suficiente. Utilizamos todas as nossas economias para nos manter", afirma Mires. Hoje, a água utilizada vem de um poço artesiano.

Perspectiva


Para Erivan Marreiros, com os recursos federais anunciados pela presidente Dilma Rousseff neste mês, existe perspectiva de que a situação melhore. "Estamos aguardando a fatia do Ceará e as regras para o emprego da verba. Além das possíveis soluções, como poços e entregas de kits de irrigação, podem ser pensadas vendas coletivas, por exemplo, que facilitam a sobrevivência dos pequenos produtores", aconselha o coordenador.

Mires Aguiar espera que o retorno ocorra de forma mais rápida, para sanar os problemas enfrentados em todo o Ceará. "Eu queria que o governo olhasse mais para os pequenos produtores. Não só do ramo de floricultura, mas também do ramo de verdura, hortifrúti. Os produtores da Serra da Ibiapaba estão enfrentando um verdadeiro caos. Tem muitos pais de família desempregados", lamenta.



Veículo: Diário do Nordeste


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