Laranja foi substituída por outras culturas; este ano, produção no Estado não deve chegar a 300 mi de caixas, ante 380 mi em 2012
No interior paulista, lavouras foram derrubadas e a laranja deu lugar às culturas de milho, cana, tomate, café e até batata doce. A mudança é reflexo de anos difíceis para os citricultores. Segundo o presidente da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Salles, a safra 2012/2013 foi a pior da história da citricultura, por falta de compradores e preços baixos. A receita teve queda de R$ 850 milhões.
No município de Cajobi (SP), por exemplo, eram cultivados 2,2 milhões de pés de laranja até 2001, mas hoje esse número não vai muito além de 800 mil pés. No Estado, essa redução nas lavouras também é sentida e a expectativa para safra 2012/2013 em São Paulo não é das melhores. Sem contar os pés que foram erradicados, perto de 25 milhões, a estiagem de setembro a novembro do ano passado também prejudicou as lavouras. Este ano, a produção não deve chegar a 300 milhões de caixas, ante 380 milhões em 2012.
O engenheiro agrônomo José Eduardo Alonso, presidente do Sindicato Rural de Aguaí (SP) e secretário de Agricultura do município, é citricultor e produz 100 mil pés de laranja em sua propriedade. Ele diz que a crise no setor ainda não desapareceu, pois a situação segue bastante indefinida, principalmente, com relação a preço. Ele acredita que haverá uma quebra de 30% na produção no Estado.
Com uma colheita menor, a expectativa é que os preços subam, apesar dos estoques elevados nas indústrias. Na avaliação de Alonso, a saída para a citricultura seria a indústria pagar um preço justo para a laranja. Mas ele argumenta que isso só seria possível com o combate ao cartel que estaria formado no setor. "Hoje há quatro grandes companhias, que estão tentando se juntar e virar apenas duas", afirma. Ele diz que as indústrias plantaram muita laranja para deixar de lado os produtores.
Em queda. A crise na citricultura atingiu vários municípios paulistas. Itápolis, na região central do Estado, já foi a maior produtora mundial de laranja. Mas a cidade pode perder o título com a redução nas lavouras que, de 14 milhões de pés há 12 anos, hoje conta com apenas 5 milhões.
Valdir Butarello é um exemplo da fuga da citricultura. Após apostar na laranja por mais de 50 anos, erradicou os pomares e arrendou sua propriedade para a produção de cana por considerar que a situação já estava insustentável.
José Eduardo Lélis, coordenador da Comissão Especial de Citricultura da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), afirma que a pressão da indústria massacrou os produtores. De acordo com ele, as exportações brasileiras se mantiveram nos mesmos patamares, um indício de que o problema maior seria mesmo com o controle de compra e de preços por parte das indústrias.
Alternativa. Para driblar a crise e não precisar abandonar a cultura da laranja, produtores do Estado têm buscado saídas como a que foi lançada no mês passado, em Bebedouro. Trata-se do projeto Citricultura Familiar do Norte Paulista, que também envolve as cooperativas da área e que pretende ampliar a produtividade dos pomares e melhorar a qualidade da fruta.
A ação é voltada para pequenos agricultores, com propriedades de até 100 hectares, que lidam diariamente com as dificuldades na citricultura.
Se der o resultado esperado, vai elevar o volume de vendas de caixas de laranja por produtor em 20% e reduzir em 5% os custos de produção até dezembro de 2014. Outro ponto da iniciativa tem a finalidade de ampliar o faturamento dos negócios por meio de venda para órgãos públicos.
"É possível que os produtores de laranja do norte paulista se tornem fornecedores de prefeituras, escolas e creches, por exemplo, e participem de programas de incentivo agrícola dos governos estadual e federal", afirmou Bruno Caetano, diretor superintendente do Sebrae-SP, parceiro no projeto.
Condenação acirra briga entre produtor e indústria
Produtoras de suco foram condenadas a uma indenização milionária por danos aos trabalhadores
Uma decisão da Vara do Trabalho de Matão (SP), proferida no mês passado, acirrou a animosidade entre os produtores e as grandes indústrias de suco do país. Isso porque as quatro maiores delas foram condenadas a uma indenização milionária por danos aos trabalhadores. Terão ainda de interromper a terceirização de toda a cadeia de produção da fruta, desde o cultivo até a colheita. A Justiça acatou reclamação dos citricultores junto ao Ministério Público.
Para Marcos Mazeti, presidente do Sindicato Rural de Fernandópolis (SP), a decisão foi justa. Ele conta que o pequeno produtor é o maior prejudicado pelas grandes companhias, uma vez que geralmente tem somente a própria família para ajudar na colheita. "Mas chega a época de safra e a indústria exige que a laranja seja entregue lá no seu portão e que a colheita seja rápida. Aí o todo o custo cai em cima do citricultor", afirma. Segundo ele, sua região já chegou a ter cerca de 3 milhões de pés de laranja, mas de 20% a 30% desse número já deu lugar a outra cultura.
A questão é polêmica e as indústrias tiveram na semana passada o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A entidade divulgou uma nota protestando contra a condenação. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PSD-TO), considerou a decisão da Justiça "absurda". Ela citou a importância da indústria de suco para o país e o investimento realizado pelas grandes companhias.
Recurso. As companhias condenadas (Sucocítrico Cutrale, Louis Dreyfus Commodities Agroindustrial, Citrovita e Citrosuco - estas duas últimas em fase de fusão) já recorreram da decisão. Oficialmente nenhuma comenta a sentença, mas pessoas ligadas a elas disseram acreditar que a punição será revista nas instâncias superiores. A alegação é que as indústrias já contratam legalmente via CLT os funcionários que usam em suas lavouras próprias e que não podem responder pelos trabalhadores das propriedades de terceiros.
Veículo: O Estado de S.Paulo