Com o início do plantio da nova safra de grãos nos Estados Unidos, não apenas os produtores rurais, mas também os especuladores começam a olhar para o céu - e para os boletins meteorológicos - antes de tomar decisões e fazer suas apostas.
Todos os anos, o mês de abril marca o início do que traders chamam de "mercado climático", o período em que os preços internacionais de soja, milho e trigo ficam particularmente sensíveis ao tempo no Meio-Oeste e nas Grandes Planícies americanas.
Na sexta-feira, os preços do trigo no mercado futuro de Chicago subiram, em média, 2,1%, impulsionados pelo medo de que geadas nas Planícies danifiquem as lavouras de inverno e comprometam a oferta. Os contratos de milho para setembro (mês que marca o início da nova safra) subiram 1,6% diante da especulação de que a persistência do clima frio e chuvoso no Meio-Oeste pode inviabilizar o plantio do grão em algumas áreas.
"Estamos apenas no início do plantio, mas esse pequeno atraso já começa a colocar pressão. O mercado trabalha com as notícias que tem", afirma Stefan Tomkiw, analista de commodities da corretora Jefferies Bache, em Nova York.
A especulação em torno do clima deve ser particularmente intensa nesta temporada, depois que a pior seca dos últimos 50 anos nos Estados Unidos devastou a colheita e as apostas em uma safra recorde em 2012. "Todo analista no universo está prevendo uma grande produção e preços em queda nos próximos meses. Como descobrimos no ano passado, ainda cabe à natureza decidir. Em um instante todas essas previsões baixistas podem evaporar", afirmou Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors em relatório distribuído na quinta-feira. Ele lembra que os meteorologistas preveem um verão quente e seco nos Estados Unidos.
Outra questão é que, com os estoques americanos em níveis historicamente baixos após as fracas colheitas de 2012, a margem para perdas neste ano é pequena. No caso da soja, o "prêmio" oferecido pelos compradores nos terminais da Louisiana é um dos maiores já registrados para esta época do ano - e, mesmo assim, insuficiente para convencer os produtores a vender o produto remanescente da última safra. Na sexta-feira, os contratos de soja para entrega em julho fecharam em alta de 0,85%.
Veículo: Valor Econômico