O recente estreitamento da diferença entre os preços internacionais dos cafés arábica e robusta - que, aos poucos, volta aos níveis do início da década passada - reacendeu o debate sobre os impactos desse movimento sobre o futuro da demanda pelas duas espécies do produto em tempos de grande expansão do consumo do grão menos nobre, principalmente para a fabricação de café solúvel e uso nos blends de torrado e moído.
Do ano 2000 até agora, a diferença entre as cotações do arábica, mais nobre e valorizado, e as do robusta foi de US$ 0,30 e US$ 0,56 por libra-peso durante 50% do tempo. Foi a acima de US$ 0,56 por 40% do período, e abaixo de US$ 0,30 nos demais 10%, segundo levantamento da empresa de gestão de risco de commodities Pharos. "O preço tende a voltar a essa média", diz Moris Mermelstein, consultor sênior da Pharos.
De acordo com o Valor Data, desde 2000 o menor diferencial médio mensal foi em março de 2003 (US$ 0,2664), e o mais alto em abril de 2011 (US$ 1,7343). Em determinados períodos de 1989, 1992 e 2003 a diferença ficou negativa - ou seja, o robusta esteve mais valorizado que o arábica, por questões conjunturais. O maior spread negativo diário foi em novembro de 2003, de - US$ 0,4545 por libra-peso, com base em dados compilados pela Pharos.
Segundo Mermelstein, "não nos surpreenderia se esse diferencial chegasse a zero", dada a forte demanda de café robusta e o excesso de oferta de arábica que pressiona esse diferencial, embora na comparação "preço por preço" o arábica de algumas origens é muito mais caro que o robusta diante dos prêmios altos sobre as cotações de bolsa.
Mermelstein observa que, historicamente a demanda por arábica tende a voltar, principalmente pelo produto de pior qualidade. Nos últimos dois a três anos houve uma mudança significativa no blend do café torrado e moído, com maior uso de robusta, mais barato, principalmente em função da crise. Mas, segundo ele, os exportadores não estariam ainda desfazendo negócios com o robusta a favor do arábica, o chamado "wash out", quando há um pagamento de prêmio para se desfazer um contrato.
Mermelstein afirma que o preço baixo do arábica ainda não foi suficiente para fazer uma nova substituição do robusta pelo arábica. "Com os preços atuais tende a ter substituição no médio prazo - de seis meses a um ano". Mas nada que possa arrefecer a demanda por robusta, que passa a ter um mercado ativo, o café solúvel, pontua.
Entretanto, a relação dos diferenciais dos dois cafés não pode ser levada à risca como indicativo de demanda por arábica e robusta, na avaliação de Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees. Para ele, é preciso considerar que houve melhora significativa na qualidade do robusta nos últimos dez anos, novas tecnologias e a manutenção do nível de consumo mesmo com o maior uso de robusta nos blends.
De acordo com Costa, a arbitragem (diferencial) precisaria ficar abaixo de US$ 0,40 a US$ 0,35 por libra-peso por um período aproximado de três meses para que houvesse uma decisão de usar mais café arábica em detrimento do robusta. "Por enquanto, essa decisão não ocorreu", diz ele.
Costa crê que a demanda por robusta vai continuar firme. "É justamente a troca pelo preço", declara. (ver matéria ao lado). E justifica com o baixo custo de produção da espécie. No Vietnã, o custo para se produzir uma tonelada é de cerca de US$ 1,2 mil, enquanto o produto é comercializado por US$ 2 mil, conforme Costa. No Brasil, gasta-se de R$ 150 a R$ 220 para produzir uma saca, e se recebe R$ 250.
Mesmo se houvesse um retorno da maior demanda por arábica, Costa estima que não seria suficiente para reverter o superávit atual, uma das razões para a queda nos preços internacionais do produto.
Veículo: Valor Econômico