Chegada do milho ao Estado foi adiada em 27 dias

Leia em 5min 50s

O prazo curto para a entrega do produto foi o motivo apontado pelos vendedores para não fechar negócio

Além da aquisição do cereal em outros estados brasileiros , o governo federal também pretende comprar milho na Argentina ou no Uruguai, caso seja necessário para atender à demanda no Nordeste Foto: Agência Brasil

O leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a compra de 103 mil toneladas de milho para estados do Nordeste - das quais 30 mil eram destinadas ao Ceará - terminou ontem sem negociar nenhum dos lotes ofertados. Após o fracasso do pregão, a Conab lançou, ainda ontem, edital para um novo leilão com as mesmas características, a ser realizado no próximo dia 26. Com essa alteração, o milho previsto para chegar ao Ceará entre os dias 2 e 7 de maio tem como novo prazo o período entre 27 de maio e 3 de junho.

Segundo a companhia, o motivo apontado pelos vendedores para não fechar negócio ontem foi o prazo curto para a entrega do cereal. O maior prazo era o do lote destinado ao Rio Grande do Norte, que se estendia até o dia 14 de maio. Já o do Ceará, que terminava no dia 7, era o menor deles. As 103 mil toneladas deveriam ser entregues por navios, nos portos nordestinos.

Receio de mais perdas

O insucesso do leilão preocupa representantes do setor agropecuário, uma vez que, quanto mais tempo o milho demorar para chegar ao Estado, maior deverá ser o número de cabeças de gado perdidas. Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Ceará (Faec), Flávio Saboya, aproximadamente 10% do gado cearense - em torno de 200 mil cabeças - já foi perdido desde o início da seca, em 2012.

Dispensa de licitação

Para Saboya, diante da situação de emergência nos municípios cearenses, o governo federal deveria, em vez de realizar leilões como o de ontem, adquirir o milho que será doado aos estados através de dispensa de licitação - o que tornaria a compra do produto mais rápida. "Desde 2012 apresentamos essa possibilidade. Todos sabem da necessidade que existe. Que órgão questionaria isso (a dispensa de licitação)?", comenta.

De acordo com a Casa Civil da Presidência da República, "o prazo definido pelo governo para este leilão (de ontem) foi o mais curto possível, na tentativa de atender com rapidez uma demanda urgente dos produtores nordestinos". A Presidência informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o pregão também previa a possibilidade de importação de milho da Argentina ou do Uruguai, "para que o processo de entrega fosse mais rápido".

Nas rodovias

Além das 30 mil toneladas de milho referentes ao leilão, destaca o titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), Nelson Martins, outras 33 mil toneladas já partiram em direção ao Ceará, vindo de vários estados, através das rodovias. "A Presidência já assumiu esse compromisso de entregar (as 60 mil toneladas) até o fim de maio. É possível, depois, que haja dispensa de licitação, mas o compromisso deverá ser cumprido", frisa o secretário.

Saboya ressalta, porém, que a expectativa do Estado era receber, em abril e maio, um total de 60 mil toneladas de milho. Caso a chegada do cereal se dê apenas no início de junho - quando expira o prazo do novo leilão -, a expectativa do Ceará para receber 60 mil toneladas em dois meses cairá pela metade. "Não foi culpa do governo federal ou estadual. A questão foi com os vendedores mesmo", pondera.

Distribuição

As 103 mil toneladas de milho serão doadas, pelo governo federal, aos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Cada saca deverá ser vendida aos agricultores a R$ 18,12 - em lotes de até três toneladas - ou por R$ 21,00 em lotes de três a seis toneladas.

Logística nos portos é entrave

Brasília. As penalidades previstas no leilão realizado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a compra de 103 mil toneladas de milho foram um dos motivos que desestimularam a participação dos vendedores, diante de problemas ligados à logística nos portos. As tradings preferiram não correr o risco de serem prejudicadas pela perda da caução de 5% e o pagamento de multa de 30% sobre o valor total das operações.

Segundo fontes do setor, o valor do frete para transporte do milho da região Sul para a região Nordeste não seria impedimento, pois o cereal comprado a R$ 26/saca no mercado paranaense poderia ser desembarcado em Salvador a R$ 38/saca.

O problema é a logística nos portos, principalmente em Paranaguá (no Paraná), onde o escoamento da soja está próximo de atingir o pico desta safra. Como os lotes são enormes, somente grandes empresas teriam condições de assumir uma operação desta envergadura e bancar um valor de caução tão alto. As fontes não descartam a possibilidade de entrega de milho originado nos portos argentinos, onde ainda não existem problemas de congestionamento de cargas.

No pregão do dia 26, as entregas serão realizadas até o fim de junho. O primeiro lote do leilão é de 20 mil toneladas para entrega no terminal portuário de Cotegipe (BA) entre 27 de maio a 3 de junho. O segundo lote é de 30 mil toneladas destinadas aos portos do Ceará, que devem ser entregues entre 27 de maio a 3 de junho. O terceiro lote é de 28 mil toneladas, das quais 16 mil toneladas devem ser entregues no porto de Cabedelo (PB) entre 27 de maio e 3 de junho.

Cid: reservatórios são o maior receio

Brasília (Sucursal). Em Brasília, ontem, o governador do Ceará, Cid Gomes, avaliou que o maior problema enfrentado hoje pelo Estado em relação à seca são os baixos níveis dos reservatórios de água. Segundo Cid, há uma distorção nos dados, já que em locais onde são apontados níveis mais altos, como no Alto Jaguaribe, um único reservatório está com 50% de sua capacidade, os demais estão regulando entre 10% e 12% da sua capacidade de armazenamento.

Riscos

O governador afirmou que até o início de maio será feita uma "verdadeira operação de guerra" para que possa ser distribuída ração para os animais do Ceará. Antes de saber do adiamento do leilão de ontem da Conab, Cid afirmou que há um risco de perdas imensas, para o rebanho do Ceará - de 2,7 milhões de cabeças -, caso o milho que está previsto não seja distribuído.

Ao comentar a questão da estiagem no Ceará, o deputado Danilo Forte (PMDB) criticou a falta de investimentos em outros setores que poderiam ajudar a minimizar o sofrimento das regiões mais atingidas. "Temo que imediatamente retormar o projeto de Tataia.

A mina poderia gerar emprego e renda e reduzir o sofrimentos dos moradores da Região". Danilo criticou a atuação das várias instâncias de governo que se limitam a ações emergenciais e não em ações preventivas de geração de emprego e renda em médio e longo prazos.



Veículo: Diário do Nordeste


Veja também

Déficit da balança têxtil triplica no Ceará em um ano

As informações do Mdic apontam uma tendência de substituição de produtos locais pelos ...

Veja mais
Diferença de preços entre café arábica e robusta volta a cair

O recente estreitamento da diferença entre os preços internacionais dos cafés arábica e robu...

Veja mais
Embarque de algodão renderá US$ 1 bi a menos

O Brasil pode ter no ano comercial 2013/14, que começa em maio, a menor exportação de algodã...

Veja mais
Múltis apertam fornecedores para ter mais fluxo de caixa

A Procter & Gamble Co. está estudando ampliar o prazo de pagamento dos seus fornecedores, medida que pode lib...

Veja mais
Companhia de shopping center da PDG, REP tem novo comando

A operação de shopping centers da PDG, conduzida pela Real Estate Partners Desenvolvimento Imobiliá...

Veja mais
Empresas investem mais em shoppings dentro dos metrôs

O fluxo superior a 4 milhões de passageiros que utilizam diariamente o transporte público, em especial, as...

Veja mais
Governo investiga suposto cartel de farinha de trigo

Cade realizou operação de busca e apreensão de documentos; preço do produto no Nordeste &eac...

Veja mais
Especialistas preveem preço alto da mandioca por 2 anos

BRASÍLIA - Alta no preço da mandioca pode se estender até por mais dois anos e produtores cobram po...

Veja mais
Arrozeiros querem plano de cotas para Mercosul

O governo do Rio Grande do sul, juntamente com os produtores gaúchos de arroz, procurará estabelecer um ca...

Veja mais