As informações do Mdic apontam uma tendência de substituição de produtos locais pelos importados
São Paulo. Os dados do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) apontam uma realidade preocupante: enquanto que a produção de produtos têxteis e de vestuário no Ceará caiu no ano passado, as vendas no varejo desses itens cresceu. Isso mostra que o incremento do consumo está sendo suprido não só por produtos de outros estados, mas pelos importados.
No ano passado, o Estado exportou US$ 80 milhões em têxteis e confeccionados, ao passo que importou o equivalente a US$ 178 milhões. E esse déficit da balança comercial vem se alargando, tendo triplicado somente no último ano.
Substituição
As informações do Mdic apontam uma tendência de substituição de produtos locais pelos importados, já aparente aos consumidores pelo crescente volume de itens, em especial, chineses nas lojas e camelôs do Estado.
Em 2012, as exportações de têxteis e confeccionados registraram queda de 18% em relação a 2011, enquanto que as importações, no mesmo intervalo, elevaram-se em 38%. Ou seja, o déficit passou de US$ 31 milhões em 2011 para US$ 98 milhões no ano seguinte.
Fatia pequena
Mesmo assim, o Ceará ainda tem uma representação pequena diante da importação brasileira destes itens, participando com 2,7% do total, que chega a mais de US$ 6,5 bilhões.
Já no volume de exportações, que representa apenas cerca de 1% do total da produção nacional, o Estado possui uma fatia de 6,3%. "Em 1996, a Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciou que o acordo de comercialização têxtil iria acabar em dez anos, iniciando a liberalização do comércio mundial do setor. No Brasil, não se fez nada para se preparar para isso. Então, em 2005, os chineses começaram a chegar e, em 2007, já estavam estabelecidos, e só então o brasileiro percebeu o espaço que estava perdendo", explica o técnico do conselho consultivo da Associação Brasileira de Técnicos Têxteis (ABTT), Julio Caetano Cardoso, que participou esta semana da Tecnotêxtil Brasil 2013, que ocorreu de segunda-feira última a ontem, em São Paulo, organizada pela Fcem - Feiras, Congressos e Empreendimentos. Segundo ele, é preciso que se estabeleça uma isonomia no mercado, evitando a concorrência desleal hoje existente.
Produto barato
"O chinês não segue as regras do comércio doméstico no Brasil. Por exemplo, nós não podemos usar um corante incentivador de câncer, mas eles podem. Uma barraca de praia que fazemos, tem que ter proteção UV (ultravioleta), a deles não. Daí, fazem mais barato", reclama. O técnico defende uma maior fiscalização dos produtos importados, e que esta se dê ainda nos contêineres, quando eles entram no Estado.
"Já faz tempo que os nossos produtos têxteis sofrem esta concorrência desleal. Estamos perdendo competitividade por falta de normas iguais", reforça o conselheiro consultivo da ABTT, João Luiz Pereira. "Entretanto, mesmo assim, nossa indústria têxtil é a quinta maior do mundo, e a de confecções, a quarta do mundo", pondera.
Indústria paulista quer ICMS único
Legislando em causa própria e defendendo que a produção esteja próxima de onde está o consumo, o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de São Paulo (Sinditêxtil-SP) e vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Rafael Cervone, diz que a indústria paulista irá brigar para que seja aprovada a unificação das alíquotas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em todo o País.
"Vamos fazer toda a pressão do mundo para aprovar a unificação deste imposto, e acabar, assim, com esta guerra desleal que existe entre os Estados", declarou Cervone. O governo federal defende a unificação das alíquotas do tributo em 4%, acabando com a diferenciação existente entre os Estados da regiões mais pobres (Nordeste, Norte e Centro-Oeste), cuja alíquota é de 12%, e Sul e Sudeste, onde se pratica um percentual de 7%.
Desindustrialização
As lideranças nordestinas, em especial, defendem o modelo atual, preocupados com uma possível desindustrialização da região, que perderia um dos principais atrativos para a prospecção de indústrias e atração de novos empreendimentos.
Questionado se a unificação não acarretaria em uma fuga de investimentos do Nordeste, Cervone afirmou: "ninguém muda uma fábrica assim rápido, de uma hora pra outra", não avaliando quais seriam as consequências a médio e longo prazos. "A guerra fiscal precisa acabar", reforçou, durante a Tecnotêxtil Brasil 2013, realizada em São Paulo.
Ceará
Atualmente, o Ceará possui pouco mais de 5% do número de empresas do setor têxtil e confeccionista brasileiro, o que representa cerca de 1.600 empresas, levando em consideração aquelas com cinco ou mais funcionários. Desta forma, o Estado grega 7% dos empregos do setor no Brasil, somando aproximadamente 120 mil postos diretos.
A saída de empresas implicaria, diretamente, em um significativo volume de demissões, uma vez que este é o segundo maior setor da indústria de transformação em geração de empregos, atrás apenas do de alimentos e bebidas.
Moda
O presidente do Sinditêxtil-SP defendeu que o Ceará, por estar mais próximo dos mercados da Europa e Estados Unidos, poderá se beneficiar do comércio exterior, por mais que este represente cerca de 1% da produção têxtil nacional. "Mas nós deveremos crescer nesse aspecto, e estamos trabalhando nisso", disse ele, que também é o diretor executivo do Programa de Exportação da Indústria da Moda Brasileira (Texbrasil).
"O Ceará tem algo que nenhum estado tem: a riqueza cultural e do artesanato na moda, que, ampliada, não tem pra ninguém", afirma, apontando o Ceará como o novo destaque da moda nacional.
Veículo: Diário do Nordeste