A supersafra e o escoamento

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Os riscos a que os agricultores se submetem todo ano estão sendo recompensados na atual safra com a fartura de uma colheita recorde de soja. Infelizmente, repetem-se os transtornos que transformam o escoamento dos grãos numa gincana. A economia agrícola gaúcha perde recursos e tempo ao enfrentar estradas precárias e fretes caros, que lhes retiram parte dos ganhos. Não é uma situação nova, como mostrou reportagem deste jornal com os gargalos que impedem o fluxo normal da safra até o porto de Rio Grande. É inconcebível que um Estado exportador, que inspirou outras unidades da federação a investir na agricultura intensiva, ainda testemunhe a convivência da tecnologia de ponta das lavouras com os atrasos da infraestrutura.

As deficiências que o setor público não enfrenta têm origem no modelo de transporte, que não é uma particularidade gaúcha. A dependência das rodovias é problema nacional. Ao invés de investir em hidrovias e ferrovias, o país optou pela dependência das estradas. No Rio Grande do Sul, a situação é agravada pelo fato de que aqui as rodovias estão em situação mais precária do que a da média dos outros Estados, pela incapacidade do governo de investir em pavimentação. Na citada reportagem, vale ressaltar o caso exemplar de Tupanciretã, município com a maior área plantada de soja do Rio Grande do Sul, onde um trajeto de 48 quilômetros, por estrada de chão, é percorrido em duas horas e meia.

A situação se agrava, ao final da maratona, com o engarrafamento nos terminais de Rio Grande, antes da chegada dos grãos aos navios, por conta da concorrência com produtos de outros Estados. O que seria um consolo para os gaúchos, com um porto mais ágil do que os de Santos e de Paranaguá, acaba se transformando num impasse, pois parte da colheita do centro do país é exportada por aqui. Produtores que enfrentam altos custos de produção, os humores do clima e as deficiências de armazenamento merecem melhor tratamento do setor público no que se refere à infraestrutura, para que os benefícios de uma safra sejam compartilhados por toda a economia.



Veículo: Zero Hora - RS


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