Depois da produção recorde de café recebida pelas cooperativas no ano passado, referente ao ciclo 2012/13, quando a bienalidade que marca a cultura foi positiva, os estoques atuais já são mais elevados do que nos ciclos anteriores, mesmo os de alta. Esse acúmulo maior que o normal reflete uma menor comercialização diante dos preços baixos do grão arábica, que responde por cerca de 70% da safra nacional.
Além disso, a demanda pelo produto para exportação nos primeiros meses do ano é tradicionalmente mais baixa e ganha força com a entrada da safra nova no mercado, a partir de maio, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé). Somado a esse fator, no segundo semestre de 2012 houve atraso nos embarques, motivado principalmente por chuvas na colheita que prejudicaram a oferta e a qualidade dos grãos.
Na Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, localizada no Sul de Minas, até ontem havia 30,3% da safra 2012/13 recebida em estoque. A cooperativa recebeu dos cooperados 4,1 milhões de sacas, segundo Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé. Em 30 de abril de 2012, o percentual era de 19,2%, e um ano antes, de 7,6%. Mas, de acordo com Paulino da Costa, os números não são "assustadores".
Uma fonte do segmento afirmou, também, que é difícil saber se, do volume estocado pelas cooperativas, há uma parte já comercializada.
Em alguns casos, os estoques chegaram a níveis ainda mais expressivos. É o caso da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Poços de Caldas (CaféPoços), também do Sul de Minas, que na semana passada mantinha um estoque de cerca de 60% do café recebido da temporada 2012/13, segundo o gerente comercial Eder Vannucci Latronico. Conforme ele, o ciclo é atípico e, normalmente neste período do ano, o armazém da cooperativa retém apenas entre 10% e 15% da safra.
Outro grupo do Sul de Minas, a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) tem em seus armazéns cerca de 37% da safra 2012/13, ante 20% em abril de 2012. Na Cooperativa de Produtores e Agropecuaristas (Cocapec), em Franca, na Alta Mogiana Paulista, foram recebidas 1,2 milhão de sacas em 2012/13. Desse total, cerca de 400 mil estão armazenadas (33,3%) ante 260 mil sacas (13,3%) no mesmo intervalo de 2012 e de 2011.
Para Francisco Ourique, superintendente comercial e de armazéns da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaiso), a análise do volume absoluto de estoques é "simplista". Segundo ele, o produtor observa o preço absoluto e o fluxo de caixa da fazenda para administrar suas vendas. O ciclo de venda foi maior durante a colheita de 2012, diante das chuvas. Depois, o produtor não vendeu o produto de melhor qualidade. Na sua avaliação, é preciso olhar para o regime de chuvas e o ritmo futuro da colheita. Os estoques só serão significativos se a colheita for antecipada. Até o fim do mês, o Conselho Nacional do Café deverá divulgar os estoques das cooperativas no fim de 2012 e 30 de março deste ano.
Veículo: Valor Econômico