Marfrig admite venda de ativos para reduzir alavancagem elevada

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Com uma queda neste mês de R$ 1 bilhão em seu valor de mercado - que atingiu R$ 3,38 bilhões ontem na BM&FBovespa - e uma dívida líquida de R$ 9,2 bilhões no fim de 2012, a Marfrig Alimentos vive novamente um inferno astral. Nesse cenário desfavorável, a empresa, na qual o BNDESPar tem uma participação de 19,6%, admite que terá de se desfazer de ativos ou vender participação em divisões ainda neste ano para reduzir sua alavancagem, conforme adiantou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

"Vamos ter que priorizar ativos nos quais queremos continuar a investir", disse em entrevista exclusiva Sérgio Rial, CEO da Seara Foods e futuro CEO da Marfrig. Segundo fontes do mercado, a Marfrig poderia vender até mesmo um de seus investimentos mais importantes: a Seara Brasil. Rial, que estava na Cargill em 2009 quando esta vendeu a Seara à Marfrig, admitiu a possibilidade, mas afirmou que essa não é a única opção. Além da venda de ativos, um IPO da própria Seara continua a ser um caminho.

E as alternativas não se restringem à Seara Brasil. Caso a operação não seja o ativo sacrificado para reduzir a alavancagem da Marfrig, uma opção é a divisão de bovinos, reconheceu Rial.

Questionado sobre o interesse de empresas como JBS e a americana Tyson na Seara Brasil, conforme disseram fontes do mercado ao Valor, o executivo afirmou que a operação "suscita interesse" de um grupo de empresas por ser o único ativo de processados de porte disponível no país. Mas Sérgio Rial nega que tenham ocorrido conversas com esses eventuais interessados. "Essa decisão sequer foi tomada", afirmou o executivo. Mas a empresa já foi alvo de avaliação de bancos de investimentos, segundo ele.

Procurada, a JBS disse que "não comenta rumores de mercado". Um representante da Tyson não foi encontrado até o fechamento desta edição para responder ao questionamento da reportagem.

De fato, a Marfrig precisa agir para recuperar a confiança do investidor, mas isso não irá acontecer se a
companhia mantiver a atual estrutura. Mantida "a normalidade operacional, a empresa consegue fechar as contas, mas não desalavanca", observou Rial. Ele fez essa afirmação considerando uma estimativa consensual de mercado de um faturamento de R$ 28 bilhões para a companhia, um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) histórico na faixa entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,1 bilhões, uma despesa com juros de R$ 1,2 bilhão no ano e um investimento inferior aos R$ 1,1 bilhão de 2012.

A dívida elevada e o atual nível de alavancagem da Marfrig são consequência de uma estratégia agressiva da companhia que, apenas depois de seu IPO em 2007, adquiriu 18 empresas. Digerir todas essas aquisições se mostrou uma tarefa difícil, que se agravou depois que a companhia recebeu dez unidades de processamento da BRF,

numa operação de troca e compra de ativos. Essa operação foi realizada como parte do acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a criação BRF, resultado da incorporação da Sadia pela Perdigão.

Sérgio Rial reconheceu que o grupo não conseguiu consolidar as muitas aquisições anteriores ao negócio com a BRF. "Não houve racionalização desses ativos, a otimização do parque industrial", declarou. É isso que a empresa pretende fazer agora. De acordo com o executivo, fábricas não rentáveis serão fechadas e linhas de produção serão realocadas.

Dentro dessa estratégia de otimização, a empresa centralizou este mês sua área comercial na Europa, agora sob o comando de sua subsidiária Moy Park. Rial disse que "faltava inteligência comercial à operação". Ele também reconheceu as dificuldades de integrar os ativos recebidos da BRF e disse que o prejuízo de R$ 284 milhões no quarto trimestre do ano passado foi reflexo da aquisição das unidades da concorrente.

Durante a apresentação de resultados da empresa, em março passado, o executivo disse que a Marfrig subavaliou os desafios de integração dos ativos adquiridos da BRF. Na ocasião, ele afirmou que os ativos que pertenciam à BRF aumentaram a necessidade de capital de giro da Marfrig em cerca de R$ 350 milhões sem uma resposta esperada em faturamento, já que as unidades trabalharam com capacidade ociosa. A alta dos preços dos grãos no mercado internacional também prejudicou o resultado.

Na entrevista exclusiva ao Valor, Rial disse que a companhia vai "trabalhar para chegar ao fim de 2013 com um nível de endividamento menor", mas não quis dizer qual o patamar ideal de alavancagem. No fim de 2012, a dívida bruta da Marfrig era de R$ 12,3 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão superior à registrada um ano antes. A dívida líquida também cresceu, de R$ 7,9 bilhões no fim de 2011 para R$ 9,2 bilhões em 31 de dezembro do ano passado.

A dívida aumentou, mas a empresa conseguiu reduzir um pouco sua alavancagem que, contudo ainda é considerada elevada pelo mercado. Em 2012, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda da Marfrig ficou em 4,31 vezes contra 4,45 vezes um ano antes.

Para Rial, não é apenas a alavancagem elevada a responsável pelo mau humor dos investidores em relação à Marfrig. " O mercado não gosta de endividamento alto sem indicação de que a empresa vai conseguir gerar caixa", disse. Mas ele aponta a conjuntura atual na bolsa, com forte queda de papéis, com uma das razões para a desvalorização das ações da companhia.

Diante disso, nem mesmo as medidas recentes tomadas pela Marfrig para melhorar o perfil de sua dívida
convenceram os investidores. Em dezembro, a empresa levantou R$ 1,05 bilhão com a emissão de ações e em janeiro obteve US$ 600 milhões com a emissão de bônus no mercado internacional, com vencimento em 2017.

"Num contexto de forte queda das ações na bolsa, o investidor sai de empresas que estão com perfil de dívida mais debilitado", ponderou o CEO da Seara Foods.

Para demonstrar que a queda dos papéis se deve a um movimento especulativo, Rial informou que a venda a descoberto de ações aumentou mais de três vezes, saindo de uma média de 8 milhões de ações alugadas em 19 de fevereiro para cerca de 27 milhões na última sexta-feira.



Veículo: Valor Econômico


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