Venda bilateral de produtos automotivos deveria passar a ser livre em julho
Ministro do Comércio Exterior diz que país pode conceder vantagem a argentinos para ajudá-los na crise
"A Argentina vive um período de dificuldades econômicas. Não é segredo. O governo argentino não vai se sentir ofendido de ver um ministro brasileiro reconhecendo que a situação é de dificuldade e que o Brasil quer ajudar e precisa ajudarfernando pimentel
O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) sugere que o Brasil pode adiar a entrada em vigor do livre comércio de automóveis e autopeças entre o Brasil e a Argentina, que tem previsão de entrar em vigor em julho.
Atualmente, o comércio bilateral de produtos automotivos é regido por um siste- ma no qual, para cada US$ 100 que a Argentina exporta para o Brasil, ela pode importar US$ 195 do vizinho sem a cobrança do Imposto de Importação.
Por sua vez, para cada US$ 100 que o Brasil exportar para a Argentina, ele pode importar US$ 250 do país vizinho sem o tributo.
O acordo automotivo entre Brasil e Argentina tem validade até o fim de junho de 2014, mas previa que, a partir de julho deste ano, passasse a vigorar o livre comércio.
Em entrevista à Folha e ao UOL, Pimentel disse que o governo da presidente Dilma Rousseff considera ideal o livre comércio, o que aumentaria o superavit brasileiro no setor automotivo.
Mas a tendência é mesmo postergar a vigência do acordo, para contentar os argentinos. O ministro estará hoje e amanhã em Buenos Aires, na visita da presidente Dilma à sua colega argentina, Cristina Kirchner. Pimentel diz que o país vizinho vive um "período de dificuldades econômicas" e que o "Brasil quer ajudar e precisa ajudar".
Folha/UOL - Se a Argentina pedir para postergar o acordo de livre comércio de veículos, previsto para julho, o que dirá o Brasil?
Fernando Pimentel - Postergar nas mesmas bases em que o acordo funciona hoje, não vejo também problema.
Como assim?
A Argentina é superavitária em relação ao Brasil no comércio de carros, mas é deficitária em autopeças. É como se estivéssemos comprando carros argentinos, só que feitos com peças brasileiras.
No global, somando carros e autopeças, temos superavit. Esse superavit cresceria se viesse o livre comércio. E eu acho que os argentinos não querem aumentar o superavit.
O sr. acha exequível prorrogar, então?
Acho que sim. Não veria problema nenhum. Embora, para nós, o ideal é ir para o livre comércio.
O Brasil então cederia a possibilidade de aumento do nosso superavit para atender o apelo do país vizinho?
Não houve esse apelo ainda. Se houver, é uma hipótese que tem que ser discutida. E que será decidida pelas duas presidentas. Se isso for uma demanda da Argentina, eu não vejo por que não atendê-los.
O ambiente econômico na Argentina hoje não é favorável para empresas brasileiras. Como solucionar isso?
Acho que nós temos que ter com a Argentina uma relação muito equilibrada, muito madura. A Argentina está vivendo um período de dificuldades econômicas. Não é segredo para ninguém.
O governo argentino não vai se sentir ofendido de ver um ministro brasileiro reconhecendo que a situação deles é de dificuldade e que o Brasil quer ajudar e precisa ajudar. Agora, a forma de ajudar tem que ser discutida entre as duas presidentas.
Veículo: Folha de S.Paulo