Lideranças sindicais e políticas negam apoio a gatilho salarial

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Lançada oficialmente ontem pela Força Sindical, a proposta de reajuste automático dos salários foi criticada por dirigentes das outras centrais e políticos nas comemorações do Dia do Trabalho. Os ministros Manoel Dias (PDT), do Trabalho, e Gilberto Carvalho (PT), da Secretaria-Geral da Presidência, disseram que a inflação está sob controle e descartaram a ideia, que não teve apoio nem na oposição.
Claudio Belli/ValorAécio com Paulinho: "O tema volta à discussão porque o governo perde o controle, mas não sou a favor da indexação"

Pré-candidato à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que o proposta da Força ocorreu devido à "leniência" do governo Dilma Rousseff com a alta dos preços. "Esse tema volta à discussão exatamente porque o governo perde o controle sobre a inflação. Várias propostas [para reduzir as perdas] vão surgir, inclusive essa da Força, que não é a minha. Não sou a favor da indexação", afirmou.

Aécio participou da comemoração do 1º de maio organizada por Força, UGT, CTB e Nova Central, que reuniu mais de um milhão de pessoas na zona norte de São Paulo. Ele foi o único presidenciável no evento - o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex-senadora Marina Silva (sem partido), cogitaram ir, mas desistiram.

O tucano procurou usar o tema da alta da inflação para atingir o governo. Disse que o aumento dos preços, sobretudo dos alimentos, atinge as pessoas mais carentes e ocorre pela falta de política fiscal "firme", atrelada ao "frangalho da infraestrutura", à "falta de crebilidade do governo que tem afugentado os investimentos" e a problemas com a oferta de produtos.

"As conquistas dos últimos anos só foram possíveis porque um grupo de homens públicos, com apoio da sociedade, conseguiu conter a inflação, mas o governo atual tem sido leniente e colocado tudo isso em risco", discursou Aécio.

Com um discurso sem críticas ao governo, mas também reconhecendo que a inflação andou alta nos últimos tempos, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse que a ideia de indexar os salários à alta dos preços não é boa. "O que temos que olhar é se o salário está ganhando da inflação, e isso está ocorrendo, o trabalhador tem recebido ganho real", afirmou.

O petista, que aproveitou o 1º de maio para anunciar reajuste de 79% no piso do funcionalismo público municipal, reconheceu a alta de inflação, principalmente no setor de alimentos, mas disse que as ações da presidente Dilma já fizeram com que os preços começassem a recuar. "Todo o trabalho do governo de desoneração tributária é para que a inflação volte a padrões razoáveis. Isso é a garantia de que o bem-estar vai continuar como a marca do governo", disse.

O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, afirmou que vai pressionar o governo caso a inflação saia de controle. Disse, porém, que isso não ocorreu ainda e que "não dá para comparar a situação atual com a de 15 anos atrás", quando existia o gatilho para repor as perdas da inflação.

A central, que é ligada ao PT, diz que a discussão tem viés eleitoral. "Existem correntes conservadoras que claramente geraram esse clima para usar isso na eleição do ano que vem. Realmente há uma elevação dos preços, mas não é uma hiperinflação como nos períodos Sarney, Collor e FHC", afirmou.

O tema foi defendido apenas por dirigentes da Força Sindical - os presidentes das outras três centrais que organizaram o evento ignoraram o gatilho e preferiram protestar por outros itens, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força, porém, levantou a discussão. De posse do microfone, pediu para a multidão quem estava sentindo a alta de preços. Milhares levantaram as mãos. "Vem o governo, com uma conversa fiada, de que os preços estão seguros, mas não estão, estamos sentido isso na pele", disse Paulinho, para então pedir que levantassem as mãos aqueles que concordavam com o reajuste automático. Novamente, foi apoiado pela multidão. "Nós, da Força, vamos começar hoje uma campanha. Toda vez que a inflação chegar a 3% e o empresário não der aumento, vamos parar a fábrica dele", ameaçou.

Mesmo com o apoio à proposta da Força, o público não deu indícios de descontentamento com o governo. Quando um humorista pegou o microfone para perguntar em quem eles iriam votar, o apoio aos nomes de Dilma - e Lula- foi maciço. Aécio e Marina receberam alguns gritos escassos, e Campos, um retumbante silêncio. "É, acho que ninguém conhece ele mesmo", ironizou o humorista.

Se o gatilho não uniu as centrais, as reclamações quanto à falta de diálogo do governo Dilma com os trabalhadores foi tema comum nos discursos. Freitas, da CUT, reclamou que a pauta só foi respondida anteontem, quando foi à Brasília cobrar uma resposta para as reivindicações entregues em março. Lá, ficou sabendo que o governo não aceita negociar a redução da jornada e o fim do fator previdenciário. Recebeu como resposta apenas que será aberta a negociação, no dia 14, para outros temas, como a regulamentação das terceirizações. "Para os empresários já houve várias benesses, mas para o trabalhador, nada", criticou.

O ministro Gilberto Carvalho procurou minimizar as críticas. "Faz dez anos que a história desse país mudou. Pergunte se antes os sindicalistas eram recebidos no Palácio do Planalto? Isso só mudou por causa do Lula, que teve a coragem de colocar o país a serviço dos trabalhadores", afirmou.



Veículo: Valor Econômico


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