A inflação não muda os planos da fabricante anglo-holandesa de bens de consumo Unilever: vai construir sua décima fábrica no país, em Aguaí (SP); investirá este ano perto de R$ 2 bilhões em marketing, 10% mais que em 2012; e mantém a estratégia de lançar produtos premium.
"A sofisticação do consumo é uma mudança estrutural no Brasil. Isso não muda porque a inflação é de 7% ou de 5% [ao ano]. Pode haver alguma mudança no curto prazo, mas estruturalmente há crescimento", disse Fernando Fernandez, presidente da Unilever no país. Não por acaso, TRESemmé, a linha premium de produtos para cabelo da companhia - com xampus que chegam a custar R$ 21 nas embalagens de 750 ml -, têm tido expansão expressiva. Segundo Fernandez, a marca já lidera as vendas da categoria em hipermercados, supermercados e farmácias, superando Seda, linha popular (o frasco de 350 mil custa ao redor de R$ 5,00) da própria Unilever.
A filial brasileira é a segunda operação da empresa no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e em 2012 faturou R$ 13,6 bilhões, uma alta de 12,4% sobre os R$ 12,1 bilhões de 2011. No primeiro trimestre, segundo Fernandez, as vendas da subsidiária cresceram acima do percentual de 12,3% alcançado pela companhia na América Latina. No mundo, o crescimento foi de 4,9%.
Para suportar o ritmo de expansão, a empresa tem investido cerca de R$ 500 milhões por ano na ampliação da capacidade de suas nove fábricas (em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco). Fernandez diz que nos próximos dois ou três anos esse valor será superado, com a construção da décima unidade fabril em Aguaí (SP), que deve começar a funcionar em 2015, para abastecer o Sul e o Sudeste.
A nova fábrica fará diversas linhas de produtos e será instalada numa área de 1 milhão de metros quadrados. Há dez anos, a Unilever não construía uma unidade do zero no país. Além disso, inaugura em setembro seu 29º centro de distribuição, em Pouso Alegre (MG).
A Unilever conseguiu ganhar mercado em higiene e beleza nos últimos dois anos, mas não foi a única. Segundo a Euromonitor, sua fatia nas vendas da categoria subiu de 10,4% para 11,9% entre 2010 e 2012, enquanto a da líder Natura caiu de 14,8% para 13,4%. Mas a participação da rival Procter & Gamble também aumentou, de 7,6% para 9,2% e a do Boticário, de 7,1% para 9,1%. Em limpeza, embora continue líder, a dona do sabão Omo perdeu espaço - de 24,6%, em 2010, para 23,2% em 2012.
Em alimentos e bebidas, sofreu um revés em março, quando fez um recall do suco Ades. Durante 80 segundos, uma linha de produção da fábrica de Pouso Alegre envasou uma solução de soda cáustica, em vez do suco, em 96 embalagens. Fernandez voltou a pedir desculpas, mas diz se tratar de um episódio do passado. "O mais importante é que implementamos mudanças na fábrica para assegurar que isso não volte a acontecer". Agora, diz ele, a marca retornou "a todas as lojas e progressivamente estamos voltando ao patamar [de vendas] que tínhamos antes".
Veículo: Valor Econômico