BRF teme reflexos da inflação sobre o consumo

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Apesar dos resultados positivos obtidos pela BRF no primeiro trimestre deste ano, o presidente-executivo da companhia, José Antonio do Prado Fay, reconheceu na terça-feira que a inflação preocupa e afirmou que "o mercado tem dificuldades para absorver volumes".

Ele fez a declaração durante encontro com analistas para apresentar detalhes do balanço da BRF. A empresa teve uma receita líquida de R$ 7,2 bilhões entre janeiro e março, 13,8% acima de igual intervalo do ano passado. Além disso, registrou um lucro líquido de R$ 358,5 milhões, 134% maior na mesma comparação. Segundo a empresa, todos os segmentos de negócio contribuíram para os resultados.

"Temos alguma atenção com volumes. Estamos preocupados porque o mercado tem dificuldades de absorver volumes", reiterou Fay, ao lado do empresário Abilio Diniz, novo presidente do conselho de administração da BRF. O executivo acrescentou que "existe sensibilidade do consumidor na questão de preço" e que "a inflação dos alimentos está grande e duradoura".

Além do mercado mais difícil para os bens de consumo, outra questão está na lista de preocupações da BRF: o comportamento dos custos. De acordo com Fay, os grãos usados na ração animal (basicamente, farelo de soja e milho) não recuaram da maneira como a empresa esperava no primeiro trimestre. "Tínhamos uma visão de que os grãos deveriam ceder no primeiro trimestre, o que não aconteceu. Fizemos um grande esforço de preço e promoção para passar essa barreira", afirmou Fay.

Ainda que a tendência seja de queda para os preços dos grãos, como milho e soja, o custo médio de aquisição não deve ser tão diferente do verificado no ano passado, disse o vice-presidente de finanças da companhia, Leopoldo Saboya. A previsão da companhia é que o recuo das cotações começará a repercutir nos custos a partir do segundo semestre. Diante desse cenário ainda incerto, Fay afirmou que as perspectivas da empresa para o ano de 2013 são "positivas, mas cautelosas", uma vez que a "inflação está batendo no consumidor".

Para enfrentar esse consumidor mais reticente, a BRF será mais "intensa" em marketing nos próximos meses para tentar ampliar o volume de vendas, disse a jornalistas, logo após o encontro com analistas. "Temos alavancas poderosas. Além da marca, vamos continuar a aumentar o nosso número de clientes. Hoje temos 190 mil. Nossa estratégia é ampliar essa base", afirmou.

Ele disse que, apesar de a inflação dos alimentos ter afetado as vendas, os consumidores não deixaram de comprar nenhuma categoria de produto da BRF, mas reduziram os volumes. "Quando a pessoa passa a ser consumidor de uma categoria, a tendência é manter esse consumo". Questionado se a experiência de Abilio Diniz em vendas de bens de consumo poderia ser útil num momento de demanda retraída, Fay reconheceu que "é claro que o conhecimento dele na distribuição faz diferença".

Diniz, que saiu antes do fim da reunião com os analistas para participar da apresentação de resultados do Grupo Pão de Açúcar, disse que as oportunidades no mercado interno para a BRF são grandes. "Ainda podemos crescer, mesmo sem aquisições, com crescimento orgânico".

Mas reafirmou seu plano de internacionalizar ainda mais a BRF. "Sendo o Brasil o celeiro do mundo, a vocação da BRF é abastecer o mundo". Ele disse que a internacionalização da BRF é "inevitável" e que quando uma companhia se internacionaliza, fica mais ágil e se beneficia no mercado interno. Sobre futuros investimentos, Diniz disse que todos levarão em conta o retorno para os acionistas. "Não vamos tirar o olho do retorno para o acionista".



Veículo: Valor Econômico


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