Menos de um ano depois de ter negociado o acordo de sua vida - vender toda a inglesa Alliance Boots, de capital fechado, para a americana Walgreens por cerca de 10 bilhões de libras esterlinas - Stefano Pessina está em busca de sua próxima grande transação.
O presidente-executivo do conselho da Alliance Boots, de 71 anos, tem interesse em fazer aquisições ou formar alianças para completar seu plano de transformar a Alliance Boots, cujo capital foi fechado por Pessina e Kohlberg Kravis Roberts (KKR) em 2007, em uma varejista e atacadista farmacêutica verdadeiramente global.
"Não podemos criar uma empresa global sem estar na Europa, nos EUA e na Ásia, em particular, na China", diz ele. "Estamos, agora, definitivamente bem estabelecidos na Europa, bem estabelecidos nos EUA, embora a maior parte do trabalho ainda tenha de ser feita [...] mas no meio tempo, temos de preparar a base para nossas futuras expansões."
Tendo em vista as vendas de 23 bilhões de libras da Alliance Boots, Pessina está interessado apenas em grandes mercados e, para ele, a China - terceiro maior mercado farmacêutico do mundo - é o mais importante. Um acordo na China não seria a última peça do quebra-cabeça - mas seria "a próxima grande peça".
Em setembro, semanas depois de Pessina e a KKR terem concluído a venda de participação de 45% na Alliance Boots para a Walgreens, Pessina anunciou acordo para comprar 12% na Nanjing Pharmaceutical, quinta maior atacadista farmacêutica da China, em vendas. A Alliance Boots é dona de 50% da Guangzhou Pharmaceuticals, sexta maior atacadista farmacêutica da China, e está presente no país há dez anos.
Pessina prevê mais consolidações no setor. "Temos consciência de que vai levar anos e anos. Podemos trabalhar para o presente, mas também podemos trabalhar para o amanhã. [No caso da] China, é trabalhar para o amanhã."
Trabalhar para o hoje é aproveitar ao máximo a aliança transatlântica com a Walgreens.
Na primeira fase do acordo, a Walgreens adquiriu participação de 45% na Alliance Boots por cerca de US$ 6,5 bilhões, em dinheiro e ações. Tem a opção de comprar os 55% restantes em dois anos, por aproximadamente US$ 9,5 bilhões.
As empresas já realizam compras conjuntas em áreas em que se beneficiam da escala maior, como drogas genéricas e mercadorias que não são para revenda. Também se preparam para lançar produtos da Alliance Boots nos 8 mil pontos de venda da Walgreens, fazendo testes em algumas das principais lojas.
"Dissemos que neste ano vamos gerar sinergias entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões e vamos fazê-lo. Dissemos que em quatro anos vamos gerar pelo menos US$ 1 bilhão em sinergias. Vamos fazê-lo. Vamos superar isso, como de costume", diz.
As vantagens econômicas foram reforçadas por um segundo acordo nos Estados Unidos, em março, em que a Walgreens e a Alliance Boots ganharam uma participação potencial de até 23% na atacadista farmacêutica AmerisourceBergen. A Walgreens também estendeu seu acordo de compra de remédios da Amerisource, com um contrato de distribuição de dez anos.
Pessina diz que o acordo com a Amerisource leva aos EUA, maior mercado farmacêutico do mundo, o modelo pioneiro lançado no Reino Unido - combinar atacado e varejo - e pode acelerar sua adoção na China.
O executivo saiu-se bem, pessoalmente, com a venda parcial à Walgreens. Ele não recebeu dinheiro com a venda da participação. Em vez disso, ficou com participação em torno de 8% na Walgreens, que valia cerca de 1,45 bilhão de libras quando o acordo foi acertado. A alta das ações da Walgreens elevou o valor para 2,3 bilhões de libras.
Se a segunda fase seguir adiante, a participação poderia chegar a até 20%, no valor de 6 bilhões de libras, dependendo se a KKR optar por receber dinheiro ou ações. Ele havia investido 1,2 bilhão de libras na compra da Alliance Boots.
"Não fiz um mau negócio", reconhece Pessina, acrescentando que também pretende receber em ações na segunda fase. le está confiante em ver a segunda fase concretizada.
Enquanto isso, a Alliance Boots precisa lidar com condições complicadas em muitos mercados que ainda se recuperam, cinco anos depois da crise mundial. "Na Europa, há muitos países em que as pessoas passam seu tempo apenas reclamando. Em vez de pensar no futuro, ficam reclamando do passado. Eles têm todo o direito de reclamar do passado, mas não é muito produtivo", diz o executivo.
O comando da empresa teve a atenção desviada pelos acordos, mas a Alliance Boots pretende mostrar outro ano de crescimento superior a 10% nos lucros.
A dívida líquida, em 7 bilhões de libras em março de 2012, vai cair bem mais do que a redução anual de 500 milhões de libras antecipada na época do acordo com a Walgreens.
A Alliance Boots também estendeu, de dois a três anos, o vencimento de dívidas de mais de 5 bilhões de libras, com datas a partir de 2016.
Novamente, Pessina e o KKR não receberam dividendos da empresa.
Apesar de a Alliance Boots ser absorvida na segunda fase da transação com a Walgreens, Pessina, como maior acionista, terá influência considerável no grupo americano, com valor de mercado de 30 bilhões de libras.
"A influência não se deve às ações. A influência se deve à experiência e ao valor que se pode oferecer [...] pelo menos, por enquanto, ainda vou poder pensar e ajudar e aconselhá-los. Mas, você sabe, o dia em que eu sentir que não posso ser mais útil, me aposento. Não vou ficar apenas porque tenho ações", diz.
Veículo: Valor Econômico