A "seca" acabou. Nas palavras de Luiza Helena Trajano, diretora presidente do Magazine Luiza, a fase dos resultados fracos ficou em 2012 e a partir de agora a empresa não tem mais "desculpas" para eventuais tropeços. O fim da integração das aquisições recentes - Lojas Maia e Baú da Felicidade -, o corte de custos dos últimos meses e os ajustes na financeira Luizacred formam uma base para um outro patamar de resultados, segundo a rede. "A gente sempre tem 'seca' quando compra algo", disse ontem Luiza. "Mas não temos mais desculpas", afirmou ela aos analistas. As ações ON da empresa fecharam ontem em alta de 5,36%, após uma semana em queda.
A "mensagem é otimista", como destaca análise do Deutsche Bank sobre os números do primeiro trimestre. Existe "algum progresso", mas o problema é que o crescimento "mais relevante" ainda não foi visto, ressalta Renata Coutinho, analista do Deutsche. Especialistas entendem que a companhia está em uma fase de transição, com melhoria nas margens bruta e Ebitda (lucro antes de impostos, depreciação e amortizações) neste começo do ano - sinalizando ganhos de sinergia com a integração das aquisições. Mas as vendas cresceram timidamente e o lucro líquido veio abaixo da previsão de parte dos analistas.
"Apesar de alguns pontos positivos apontarem para uma recuperação no médio prazo, como o desempenho da Luizacred e a melhora da margem bruta, os números vieram abaixo das expectativas e deverão impactar negativamente a performance do papel no curto prazo", escreveu em relatório Ricardo Correa, diretor da Ativa Corretora.
A empresa apresentou lucro líquido consolidado de R$ 800 mil no primeiro trimestre de 2013, abaixo da previsão de R$ 8,7 milhões do Deutsche, mas acima da perda de R$ 1,5 milhão prevista pelo Itaú BBA. De qualquer forma, é uma melhora frente ao prejuízo de R$ 40,7 milhões no mesmo intervalo de 2012 (foram quatro trimestres com perdas em 2012).
As vendas brutas subiram 7% de janeiro a março e a receita líquida, 6% - abaixo da estimativa da maioria dos analistas. Houve maior controle das despesas operacionais, que avançaram 2,6%, totalizando R$ 445,5 milhões. Como resultado, o Ebitda subiu 175%.
O desempenho de vendas das lojas com mais de um ano em operação cresceu magros 5,2%, versus 15,9% de alta no mesmo intervalo de 2012. A base alta de comparação explica parte da queda, mas o número reflete a nova política de operação da rede. O Magazine Luiza quer vender com rentabilidade - como já deixou claro no começo deste ano - e isso significa não entrar em guerra de preço e, logo, abrir mão de clientes, o que afeta a receita. Ao mesmo tempo, a rede também reduziu o número de cartões Luiza no mercado. Em 12 meses, a base diminuiu em 500 mil unidades. "Agora, ficam os cartões que dão lucro", disse a empresária. A Luizacred passou de um prejuízo de R$ 16,7 milhões para lucro de R$ 15,6 milhões.
A expectativa do mercado está em melhorias nos próximos balanços, que podem refletir novas sinergias nas redes adquiridas e aumento das margens na operação no Nordeste, que já apresentou ganho de rentabilidade em 2013. Medidas como a definição de uma política de preços mais apurada para cada região do país, a ser implementada neste ano, também podem trazer ganhos de participação de mercado. A empresa ainda diz que deve agir para dar mais autonomia para as gerências de lojas ao longo deste ano, para que as lojas atuem com maior rapidez frente à concorrência.
As ações ordinárias da empresa, que iniciaram o ano em R$ 12,14, fecharam ontem em R$ 8. No ano, o papel se desvalorizou 36%. Desde a estreia na bolsa, em abril de 2011, a empresa perdeu metade de seu valor de mercado - hoje em R$ 1,49 bilhão. Seus resultados desanimaram investidores, mas o setor também não tem, historicamente, bons desempenhos. Margens apertadas e forte concorrência formam um cenário pouco atraente aos investidores, dizem analistas.
Veículo: Valor Econômico