O plantio da safra de grãos 2013/14 no Brasil não deverá ser marcado por sobressaltos. Como no exercício passado, haverá chuvas pontuais e irregulares, o que pode atrapalhar o início do plantio, mas o cenário climático de "neutralidade", sem El Niño ou La Niña, permitirá que o produtor corra atrás de eventuais atrasos e que as plantas se desenvolvam normalmente.
Assim como em 2012/13, as chuvas voltarão em setembro no Centro-Sul, mas só em novembro cairão de forma mais abrangente e volumosa. "A perspectiva, segundo os modelos climáticos, é que as chuvas continuem de forma pontual, podendo ocorrer estiagem regionalizada em setembro e outubro. Só em novembro é que elas voltam com frequência", diz Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia.
Segundo ele, o plantio dos grãos em setembro poderá sofrer impactos negativos, podendo ocorrer replantios para aqueles que plantarem nas primeiras chuvas. Além disso, como as chuvas ocorrerão de forma pontual, a incidência de doenças será menor nesse início de safra, porém há grande possibilidade de um aumento na incidência de insetos.
"Já em relação a safra de café, cana e laranja, essas com um clima mais seco no segundo semestre, o andamento da colheita não sofrerá grandes transtornos".
As condições só estarão totalmente favoráveis ao plantio de grãos a partir da segunda quinzena de outubro para frente, diz o agrometeorologista, inclusive na chamada "Mapitoba" - área que compreende Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia.
A boa notícia é que períodos mais secos em setembro e outubro por si só não atrapalham o desempenho da safra. A vantagem competitiva do Brasil em relação aos EUA, por exemplo, é o tamanho da janela de plantio. Enquanto lá o período das chuvas coincide com o do plantio, aqui as chuvas se estendem por muitos meses. "O nosso período chuvoso é mais de seis meses em alguns lugares. Então, o plantio pode ser adiado em até um mês porque dá tempo de compensar esse atraso", afirma Celso Oliveira, também da Somar.
No entanto, Luiz Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja/MT, lembra que possibilidade de um período de chuvas mais irregulares durante a primavera, em pleno momento de plantio da safra de grãos 2013/14 (a semeadura estará oficialmente liberada na região a partir de 15 de setembro), afetará o planejamento dos agricultores. "Os produtores já estão realizando as compras de insumos para a nova safra e, se não chover, terão de se reprogramar, talvez até com uma possível mudança de variedade para semear, o que tende a aumentar os gastos com a cultura".
Por ora, as chuvas persistentes é que têm chamado a atenção em Mato Grosso, o que não é muito comum para o mês de maio. Essa extensão do período úmido reacende a preocupação com a ferrugem asiática, fungo responsável pelas maiores perdas nas lavouras de soja do país.
A Aprosoja/MT calcula perdas de 5 a 10 sacas por hectare na safra 2012/13 somente por conta da ferrugem no Estado. "O temor é que o fungo permaneça vivo nas plantas guaxas, aquelas que nascem espontaneamente, a partir de grãos de soja que caem durante o transporte", conta Ribas. Estudos da entidade, em parceria com o Ministério da Agricultura, constataram que a ferrugem pode sobreviver por mais de 60 dias no período seco, enquanto estudos anteriores apontavam um intervalo máximo de 50 a 60 dias.
Veículo: Valor Econômico