Apesar da conjuntura favorável, com deflação de preços no atacado e desoneração de itens da cesta básica, o grupo alimentação e bebidas continua a perder força com menos intensidade do que os economistas antecipavam, o que deve manter a inflação acumulada nos últimos 12 meses encostada no teto da meta de 6,5% perseguida pelo Banco Central nas próximas leituras. Depois de alta de 0,51% em abril, as 13 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data projetam, em média, avanço de 0,48% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) em maio, com intervalo entre as estimativas de 0,43% a 0,51%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o dado, uma prévia do índice oficial de inflação.
Se confirmado, o resultado deste mês levará o índice acumulado em 12 meses a ter leve recuo, deixando 6,51% em abril para 6,48% nesta leitura. A desaceleração, no entanto, não conforta analistas, que já passam a projetar IPCA mais próximo de 6% em 2013.
André Muller, economista da Quest Investimentos, afirma que esperava um número mais baixo para o IPCA-15 de maio, mas como a inflação de alimentos continua resistente, esse recuo deve ser menos intenso do que o antecipado. Para o grupo alimentação e bebidas, que subiu 1,40% em março e desacelerou para 1% em abril, Muller projeta variação de 0,75%.
Tatiana Pinheiro, economista do Santander, estima alta de 0,60% dos alimentos neste mês, principalmente por causa da desaceleração de produtos como os tubérculos e dos resquícios da desoneração de itens da cesta básica, que contribuíram para reduzir preços de itens como óleo, carne e açúcar, por exemplo. No piso das estimativas, Tatiana projeta alta de 0,43% do IPCA-15 neste mês.
Tatiana lembra que a estabilidade da taxa de câmbio desde o início do ano, a supersafra de grãos e a desoneração de produtos relevantes para o índice foram insuficientes para que os alimentos desacelerassem com mais intensidade até aqui. A sazonalidade, diz, tende a ser benigna até junho, quando ainda é possível que os alimentos mostrem descompressão maior e compensem, ao menos parcialmente, o reajuste de tarifas de transporte urbano em São Paulo e no Rio. Depois disso, o cenário tende a ser menos favorável.
Para a economista, a resistência dos preços dos alimentos é uma questão ligada à demanda. De acordo com estudo elaborado pelo banco, os efeitos que os aumentos de renda têm sobre a evolução desses preços não são desprezíveis e ainda geram um efeito em cadeia, pois também contribuem para aumentos de outros itens.
Para Priscila Godoy, economista da Rosenberg & Associados, a demanda tem parte nessa evolução porque permite que o varejo repasse reduções de preços em menor magnitude. No entanto, diz, a lenta transmissão da deflação de produtos agropecuários no atacado para o varejo está ligada também ao encarecimento do frete, seja por alterações na legislação, seja por causa dos reajustes do diesel neste ano. Para ela, diante desse cenário, a perspectiva de deflação de alimentos em algum momento deste trimestre também passou a parecer bem menos provável.
Apesar da ênfase na evolução de alimentos, grupo que mais tem contribuído para manter o IPCA pressionado, os núcleos também devem continuar elevados. Como são uma medida que procura expurgar ou suavizar as oscilações dos preços mais voláteis, indicam que a alta dos preços não está concentrada em alguns itens, e sim espalhada pela economia.
Outro indicador que tem sido monitorado com atenção pelo Banco Central por mensurar a porcentagem de preços em alta no mês, o índice de difusão deve acompanhar a evolução dos preços dos alimentos e desacelerar, avalia Priscila, da Rosenberg, embora continue acima de 60%, "o que ainda não é confortável".
No mês fechado, Priscila projeta alta em torno de 0,30% do IPCA, já que o efeito do reajuste dos medicamentos anunciado no início de abril deve perder força na leitura para o mês cheio. Já Muller, da Quest, revisou sua estimativa de 0,30% para 0,39% em função, novamente, da evolução dos preços dos alimentos. Diante do cenário de inflação mais elevada nos próximos dois meses, o economista elevou sua projeção para o IPCA neste ano de 5,7% para 5,9%.
Tatiana, do Santander, avalia que a sazonalidade positiva ainda a faz trabalhar com um número baixo para junho, inferior a 0,30%. A economista afirma, no entanto, que se a inflação continuar a subir 0,5% por mês a partir de junho, pode precisar revisar sua projeção para o IPCA em 2013, hoje em 6%.
Veículo: Valor Econômico