Alimentos cedem e IPCA-15 recua para 0,46%

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Depois de cinco meses acima de 1% e se configurando como o principal vilão da inflação no início do ano, os preços dos alimentos finalmente começaram a ceder e a abrir espaço para índices mais baixos. É o que apontou o IPCA-15 de maio, prévia da inflação do mês divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O indicador teve variação de 0,46%, a mais baixa do ano - de janeiro a abril, a flutuação mensal média do IPCA foi de 0,63%, nível que, segundo economistas consultados pelo Valor PRO, não deve se repetir nos próximos meses. A desaceleração foi puxada principalmente pelo grupo de alimentação e bebidas, que foi de variação de 1% na prévia de abril para 0,47% na prévia de maio, com queda de preços em vários produtos que vinham puxando o indicador para cima, caso do tomate, que, após subir quase 15% em abril, caiu 12,42% em maio.

"A alimentação enfim apresentou uma desaceleração que já era esperada faz tempo, e a tendência é que continue desacelerando nos próximos meses", disse Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, lembrando que nos índices que medem os preços no atacado boa parte dos alimentos já vinha apresentando quedas desde janeiro, repasse que só agora aparece nos preços ao consumidor, medidos pelo IPCA. Algumas previsões apontam para um IPCA na faixa de 0,30% no fechamento de maio e em junho.

No acumulado em 12 meses, no entanto, o índice deve continuar próximo do teto da meta, de 6,5%, até agosto. No IPCA-15 de maio, o acumulado chegou a 6,46%. "Os números deste mês têm a cara da inflação que vivemos neste momento: as notícias no curto prazo são favoráveis, mas a tendência continua sendo de alta", disse Leal.

"Não haverá uma redução radical. O que vemos é um movimento gradual de desaceleração, e que dará um alívio no curtíssimo prazo", disse Tatiana Pinheiro, economista do Banco Santander. "Mas este é um efeito temporário. No fim do terceiro trimestre a inflação volta a acelerar por conta da sazonalidade do fim de ano, que inclui 13º salário e uma demanda maior por conta das festas", disse ela.

Alguns economistas enfatizam os sinais de perda de força do consumo, com o mercado de trabalho menos pressionado e a renda com ganhos menores, o que pode colaborar para que os preços subam menos. "A composição do IPCA-15 deste mês mostra que a alta foi puxada por coisas nitidamente pontuais, e, para aqueles que acham que a inflação é causada por demanda, mostra que não é", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Ele destaca que os principais fatores de alta nesse levantamento, como remédios, que tiveram os preços reajustados no mês passado, e vestuário, que passa pela troca de coleção, são sazonais, e que em breve deixam de pressionar. Fábio Romão, analista da LCA Consultores, destaca que a inflação dos serviços, que fechou em 8,75% no ano passado, deve também desacelerar neste ano. "Nossa projeção é que feche em algo próximo de 8%", disse o economista.

No IPCA-15 de maio, a variação mensal dos serviços foi de 0,52%, estável em relação aos 0,51% de abril. "Isso tem a ver com o rendimento real, que no ano passado cresceu 4,1%, segundo o IBGE, e neste ano, na nossa previsão, crescerá na faixa de 2,5%. O salário mínimo, que teve reajuste real de 7,5% em 2012, teve ganho de 2,7% neste ano. É claro que a taxa de desemprego baixa dá espaço para repasses das altas de preço, mas eu não vejo a demanda como um fator preponderante na inflação, e sim a oferta", afirmou Romão.

A tendência de desaceleração aguardada para os próximos meses aparece também no índice de difusão já menor no IPCA-15. O indicador, que mede quanto dos produtos pesquisados tiveram aumento de preços no período, caiu de 68,22% em abril para 61,37% em maio, nos cálculos da LCA, depois de ficar rodando acima dos 70% entre janeiro e março.

A dispersão ficou abaixo, inclusive, do registrado na prévia de maio do ano passado (63,29%). "A média do índice de dispersão de julho de 2006 a junho de 2012 foi de 60,3%. Ou seja, estamos voltando a nos aproximar da média histórica recente da difusão da inflação", disse Romão.



Veículo: Valor Econômico


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