Poucas indústrias processadoras de suco de laranja têm adquirido frutas dos produtores do mercado spot (à vista), apesar da safra das espécies precoces já ter começado, como hamlin, wetin e rubi. Apesar do atraso na compra, nem os produtores nem a indústria acreditam que ocorrerá o mesmo problema do ano passado, quando entre 30 milhões e 60 milhões de caixas apodreceram nos pés por falta de demanda das processadoras.
Segundo fontes consultadas pelo DCI, a Cutrale tem sido uma das poucas que têm realizado compras, ao lado de algumas indústrias pequenas, enquanto outras, como a Louis Dreyfus e Citrosuco, ainda não demandaram volumes significativos de caixas.
"A indústria não está comprando porque não tem pressa", afirma o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, que teme que as indústrias possam começar a comprar laranjas em breve por meio de atravessadores para pagar menos. Já o porta-voz da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), Ibiapaba Netto, explica que, "como empresas estão muito estocadas, o ritmo de compra está mais lento".
Ele ressalta, porém, que a demora depende da região em que o produtor está e que tipo de relação ele tem com a indústria. "Quem faz oferta no mercado spot, dependendo da região, pode estar com alguma dificuldade", diz.
Estoques
O alto nível dos estoques tem sido o maior motivo que a indústria alega para a falta de demanda do setor. Em janeiro, a Citrus BR afirmava que esse estoque alcançava o volume de 1,144 milhão de toneladas de suco de laranja convertidos em suco concentrado em estoque. Desde o começo do ano até abril, o País já exportou 428,229 mil toneladas. Portanto, ainda restam 716,143 mil toneladas de suco concentrado nos estoques, segundo dados da indústria.
Porém, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), avalia que os estoques brasileiros em janeiro estavam em torno de 428 mil toneladas. De acordo com essa análise, os estoques da indústria já estariam esgotados ao fim de abril.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, foram processadas cerca de 280 milhões de caixas de laranja na safra 2012/2013, o que levaria a um estoque de 600 mil toneladas. Os estoques acima de 400 mil toneladas são considerados confortáveis para as indústrias cumprirem com seus contratos de exportação.
Preços
A baixa demanda da indústria tem pressionado os preços aos produtores, apesar da oferta também estar deprimida com a quebra de safra. O tamanho dessa quebra ainda é uma incógnita. Enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) avalia que a safra 2013/2014 será de 339,73 milhões de caixas de laranja, os citricultores têm concordado com a indústria com a previsão de redução de 30% do volume, o que deve resultar numa colheita de 268,350 milhões de caixas para o período.
Mais de 80% da quebra da safra, correspondente a cerca de 95 milhões de caixas, é consequência de chuvas irregulares, grandes variações térmicas no cultivo, e previsões pluviométricas instáveis para este segundo trimestre, além da redução natural de produção após duas safras em alta.
Segundo o presidente da Câmara Setorial da Citricultura, Marco Antônio dos Santos, os citricultores têm conseguido vender suas caixas de hamlin, variedade precoce, por cerca de R$ 6 cada, e têm garantido contratos das variedades de meia-estação e tardias por R$ 7 a caixa.
Fraude
Uma das esperanças dos produtores para garantir que os custos de produção fossem superados na venda era a liberação dos prêmios nos leilões de Preço Equalizador ao Produtor (Pepro) da Conab. Porém, com a fraude ocorrida no leilão de janeiro e as investigações ainda em andamento, continua retida a liberação dos prêmios aos produtores que não estiveram envolvidos na fraude.
O produtor Antônio de Oliveira, de Itápolis, foi um dos prejudicados. Ele entrou no leilão com 26 mil caixas já vendidas para a processadora Coimbra, com nota em mãos, e até agora não recebeu o prêmio prometido pelo governo.
O presidente da Câmara Setorial da Citricultura acusa a Conab de morosidade na resolução do caso, o que tem travado outras políticas para o setor.
Veículo: DCI