A expectativa do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que uma deflação no atacado vá se refletir nos preços ao consumidor nas próximas leituras do Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encontrar alguns obstáculos. Além do problema da defasagem do repasse, apontado por analistas como “surpreendentemente mais lento este ano”, ainda há o fato de que quedas nos preços ao produtor já estão menores. Divulgado na terça-feira, 28, pelo IBGE, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) subiu 0,35% em abril ante março. No acumulado do ano, o indicador reduziu a queda de -0,41% até março para -0,06% de janeiro a abril.
No dia 16 de maio, no Rio de Janeiro, Tombini comentou que em maio, junho e julho a inflação seria mais baixa refletindo inclusive a queda nos preços dos alimentos. Pouco menos de uma semana depois, o presidente do BC falou ao Congresso: “Temos que ajudar a passar mais rápido para o consumidor o benefício que está no atacado desde o início do ano.”
O repasse ao varejo normalmente é mais rápido e fácil, disse o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. “Este ano é o grande enigma da inflação no Brasil. Até agora a deflação no atacado não apareceu no varejo”. Ele levanta dois fatores que contribuem para essa situação atípica. Primeiro, o custo elevado dos fretes e, em segundo lugar, a estrutura de análise dos indicadores. Enquanto no Índice de Preços por Atacado (IPA) do IGP-M, por exemplo, a soja e o milho têm pesos importantes, no IPCA não possuem correspondentes diretos. Assim como o feijão e a mandioca são expressivos para o IPCA, porém não tanto para o
IPA.
ATUAÇÃO DO BC
Em maio, a alimentação não vai mais ser a “vilã da alimentação”, prevê Leal, mas outras pressões já começam a surgir, como reajuste do valor dos medicamentos. No mês seguinte, é esperada a pressão do reajuste das tarifas de ônibus, adiado para junho em São Paulo e no Rio de Janeiro para segurar a alta inflação do início de 2013.
Uma possível atuação do BC para facilitar esse processo de repasse dos preços do atacado ao varejo se daria, segundo Leal, do ABC Brasil, através da coordenação das expectativas. “Se o mercado confia que a inflação vai desacelerar lá na frente, não aumenta os preços porque perderia o market share. O BC não pode resolver o problema climático nem o custo do frete, o que pode fazer é com que o mercado mire uma inflação mais baixa no futuro”, entende Leal.
Veículo: Diário do Pará