Depois de decepcionar no primeiro trimestre, a indústria entrou em abril com um salto - a produção subiu 1,8% na comparação com março, na série com ajuste sazonal. Na comparação com abril do ano passado, a alta foi de 8,4%, influenciado por dois dias úteis a mais de produção neste ano. Nos quatro meses, a indústria acumula alta de 1,6% na comparação com o mesmo período em 2012, o que reverteu a queda de 0,5% com que havia encerrado o primeiro trimestre, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo influenciada por automóveis, a produção de abril também foi mais espalhada e cresceu em 18 dos 27 setores, em relação a março
"Se olharmos 2013, a indústria apresenta resultados positivos, num ritmo totalmente distinto do que terminou em 2012. Hoje, as taxas positivas são bem disseminadas", disse o gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Luiz Macedo.
Mesmo assim, o setor opera abaixo do patamar recorde de produção e continua com um ritmo muito oscilante, o que gera dúvidas sobre a consistência do resultado. "Não dá para falar em uma tendência, em recuperação", disse Mariana Hauer, economista do Banco ABC Brasil, lembrando das oscilações pelas quais vem passando o setor: em janeiro a produção cresceu 2,7%, em fevereiro isso foi praticamente anulado com queda de 2,4% e em março a alta foi de apenas 0,8%, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior. Para maio, por exemplo, já há quem conte com a possibilidade de nova queda na produção - caso da LCA Consultores, com base em dados ainda preliminares.
De qualquer forma, o resultado de abril representou boas notícias. Na comparação com abril do ano passado, 23 das 27 atividades, 58 dos 76 subsetores e 63,4% dos produtos verificados pelo IBGE tiveram aumento de produção no período. Mais uma vez, a alta foi liderada pelos automóveis, amparados pelos incentivos prorrogados de IPI, e os caminhões, que retomam agora um mercado paralisado no ano passado por conta de mudanças na regulação dos motores. Somada, a produção de veículos automotores em abril de 2013 foi 23,9% maior que a de abril de 2012. Ainda assim, sem eles, o avanço continuaria alto: seria de 6,6%, segundo cálculo da LCA.
Sobre março, sem automóveis e caminhões, a indústria teria crescido cerca de 0,5%. o que ainda seria um bom resultado, disse Rodrigo Nishida, analista da LCA. "É importante frisar que o crescimento não se limitou só a isso. Abrangeu também outros segmentos e todas as categorias de uso", disse. Na comparação entre abril e março houve alta de 3,2% na produção de bens de capital, a produção de bens intermediários subiu 0,4%, enquanto a de bens de consumo duráveis avançou 1,1% e a de bens de consumo semi e não duráveis subiu 0,9%. O aumento da produção de bens de capital - de 3,2% em abril, acumulando ganho de 15,5% no ano - foi creditado às medidas do governo. "Uma série de incentivos governamentais foi concedida nos últimos meses a partir da redução de custos de financiamento via BNDES para diversos segmentos, como transportes. Isso vem ajudando a alavancar a produção de bens de capital. Além disso, há também a safra recorde que aumenta a demanda especificamente por bens de capital agrícolas", afirmou Macedo, do IBGE.
"Até aqui se tinha uma avaliação mais desanimada, e, de repente, começa-se a ver que não é bem assim", disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, lembrando do desânimo geral com o resultado do PIB nos três primeiros meses do ano, divulgados na semana passada pelo IBGE: a economia cresceu apenas 0,6% na passagem no quarto para o primeiro trimestre, segurada para baixo inclusive pela indústria. "Agora temos um segundo trimestre que começa com uma alta da indústria bastante forte, o que reforça a possibilidade de um PIB melhor do segundo trimestre e dá uma sugestão clara de que a atividade pode melhorar", disse ele.
"Quando você olha a evolução mensal, é possível detectar que a produção industrial já mudou de patamar, sim", disse Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria. A média de crescimento mensal da produção industrial, cita ela, que foi de apenas 0,03% no último trimestre de 2012, subiu para 0,9% no primeiro trimestre e agora, em abril, começa o segundo a 1,8%.
A previsão da Tendências é de que a indústria encerre o ano com um crescimento de 2,3% - o que ainda não será o suficiente para que o setor recupere, em 2013, todas as perdas de 2012. No ano passado, a produção industrial caiu 2,6%, depois de ter crescido apenas 0,4% em 2011 e ter iniciado, ali, a sua trajetória de depressão.
Veículo: Valor Econômico