Logística ameaça o desempenho

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Além de salvar o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a supersafra de grãos 2012/2013, puxada pelo aumento surpreendente da produção de soja e de milho, evidenciou o que não dá mais para ocultar: a deficiência da infraestrutura de logística chegou ao limite do suportável, e pode pôr a perder esforços de décadas para ganhar produtividade no campo.

"É lamentável que a nossa incompetência logística seja uma ameaça ao desempenho extraordinário que temos a oferecer para o mundo", diz Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Fatores como o desabrochar da população chinesa, que precisa crescentemente de alimento, e o esgotamento da expansão de áreas cultivadas em países como Estados Unidos, até bem pouco tempo os primeiros exportadores do mundo de grãos, trazem uma oportunidade ímpar para a venda de grãos do Brasil.

"O mundo precisa de nosso alimento", diz Aurélio Pavinato, presidente da SLC Agrícola, proprietária de 280 mil hectares de terras cultivadas, previstas para serem ampliadas para 350 mil hectares até 2015 e intenção de chegar, em futuro próximo, a 700 mil hectares. "Mas, estamos quase morrendo na praia. Não deixamos de vender, porque a situação nos é muito favorável, mas deixamos de ganhar divisas", afirma ele.

O diagnóstico das deficiências é conhecido, e converge especialmente para a acessibilidade dos produtos aos terminais portuários. A sobrecarga da movimentação no modal de transporte rodoviário resulta na situação de calamidade que se intensificou neste início de ano: filas de até 20 quilômetros de caminhões carregados nas rodovias de acesso a Paranaguá e ao porto de Santos, na região Sul. Também houve filas nas rodovias no Centro-Oeste, para embarcar em ferrovias na região de Rondonópolis (MT). "A produção brasileira de grãos tem origem em locais distantes em mais de mil quilômetros dos locais de embarque, o que exige transporte para grandes volumes e preço por quilômetro reduzido", diz Trigueirinho.

As opções são hidrovias e ferrovias, pois trata-se de mercadoria de baixo valor agregado, e preço estabelecido pelo mercado internacional. "Quanto menor o preço do produto, mais pesa o preço do transporte", diz o presidente da SLC.

Dados da Abiove registram situação inversa ao recomendado: 55% dos grãos chegam por rodovias aos portos, 35% por trem e apenas 10% por hidrovias, para um volume de produção exportada que chegou, em 2012, a 40 milhões de toneladas, apenas do complexo soja (farelo, grão e óleo).

Nos EUA, a produção agrícola percorre mais de dois mil quilômetros para acessar o porto, mas vai por hidrovias. Do local da produção até encontrar as barcaças são percorridos, por rodovia, no máximo 100 quilômetros. A participação da hidrovia no escoamento da produção agrícola americana é de 60%, seguida por 35% de ferrovia e apenas 5% de rodovia. Essa distribuição da matriz de transporte resulta em um custo de movimentação entre a produção até o porto de US$ 20/t, comparado a US$ 98/t no Brasil, segundo estudos da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

O escoamento pelo norte do país é uma das alternativas. Para isso, é preciso concluir obras na BR 163, que já tem trechos importantes previstos para a concessão federal ainda neste ano, e na BR 158. Essa rodovia teve obras na região de Mato Grosso e Pará paralisadas em 2011, com a rescisão do contrato entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a construtora vitoriosa da licitação à época.

As duas rodovias viabilizarão o acesso a alguns portos que já estão em obras na região, como o Tegram, em São Luiz/MA, Vila do Conde, próximo a Belém/PA, além dos terminais também paraenses de Mirituba e de Santarém. Para Pavinato, essa alternativa pode se concretizar em prazo de dois a três anos, aliviando os portos do Sudeste, que hoje respondem por 84% da exportação do complexo soja e do milho, segundo estudos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

O Movimento Pró-Logística do Mato Grosso calculou que a mudança do mix atual na rota para embarque da produção de Sorriso (MT) geraria uma economia de R$ 167,03/t. Ou seja, o custo do transporte para a soja que sai de Sorriso para embarcar no Porto de Santos é de R$ 227,15/t, considerando viagens rodo e ferroviárias. Com o embarque no porto de Santarém, utilizando a hidrovia Teles Pires-Tapajós, o custo cairá para R$ 60,12/t. O estudo indica um ganho de rentabilidade para o produtor de R$ 10,00 por saca produzida.



Veículo: Valor Econômico


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