Nelson Piccoli, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), não esconde a vaidade quando fala sobre a importância da agricultura do país. "Foi a responsável pelo crescimento da economia brasileira", afirma o catarinense que deixou seu Estado nos anos 1980, como tantos outros imigrantes da região Sul, para desbravar o Centro-Oeste brasileiro. Piccoli se refere ao PIB agropecuário de 9,7% no primeiro trimestre de 2013, ante o trimestre anterior, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor, mais uma vez, foi o esteio da economia em relação a outros segmentos. Segundo o IBGE, a evolução da agropecuária comparada ao primeiro trimestre de 2012 foi de 17%, a maior da série histórica do instituto iniciada em 1996.
O índice parrudo se deve em grande parte às últimas grandes safras, cujas colheitas só fizeram aumentar. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional do período 2012/13 está estimada em 184,15 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento de 10,8% em relação ao período anterior, de 2011/12, (166,17 milhões de toneladas). Na safra 2010/11 foram colhidas 162 milhões de toneladas, conforme a autarquia. A eficiência no campo se reflete também nos desembolsos de crédito rural que alcançaram R$ 96 bilhões nos dez primeiros meses da safra 2012/13, conforme o ministério.
Em relação ao valor liberado em igual intervalo do ciclo 2011/12, houve aumento da ordem de 30%. Nesse ritmo, a perspectiva é que todo o montante reservado para a atual temporada (R$ 115,3 bilhões), que termina neste mês, seja de fato contratado. "O governo espera um volume histórico de empréstimos com base na confiança do produtor rural. O agronegócio tem perspectivas de ganhos recordes este ano e o reflexo está no volume de financiamentos", afirma Neri Geller, secretário de política agrícola do ministério.
A maior parte do dinheiro contratado pelos produtores, em torno de 70%, é direcionada para o custeio das lavouras, com a compra de sementes, fertilizantes, fungicidas e inseticidas. O restante fica para a área definida como investimento, normalmente aplicados em aquisições de máquinas agrícolas, irrigação e armazenagem. "Todos os produtores pegam dinheiro de custeio para ter tranquilidade de planejar a safra", comenta Nelson Piccoli. Para a temporada 2013/14, o governo prevê alocar R$ 136 bilhões em recursos, conforme já anunciado.
Esse planejamento a que se refere Piccoli tem reflexo em toda a cadeia. Segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), as empresas produtoras de sementes esperam um ano favorável para o setor, com crescimento de 10% no faturamento sobre os R$ 9 milhões de 2012. "Os produtores de grãos estão capitalizados e, sempre que isso ocorre, eles procuram sementes de melhor qualidade", diz Narciso Barison Neto, presidente da Abrasem. Para a associação, as perspectivas no longo prazo são de um crescimento ainda maior com a chegada de sementes de soja tolerantes à seca e com adição de ômega 3 em sua composição, variedades que devem entrar no mercado até 2020.
O segmento de fertilizantes também tem desfrutado do vantajoso desempenho do campo. Conforme a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as vendas desses produtos no ano passado atingiram 29, 6 milhões de toneladas, 4,3% superior sobre a comercialização de 2011. Para a entidade, os bons resultados embalaram o consumo de adubos puxado principalmente pela soja. Consultorias como a RC, de São Paulo, projetam um consumo de fertilizantes próximo as 31 milhões de toneladas para 2013, novamente impulsionado pela oleaginosa. Esse momento, por sinal, fez com que a norueguesa de fertilizantes Yara International ampliasse sua atuação no Brasil ao adquirir por US$ 750 milhões os ativos relacionados ao negócio de fertilizantes da Bunge no Brasil. A operação, segundo Cleiton Vargas, diretor comercial da Yara, reflete o ciclo virtuoso da agricultura. "A melhor rentabilidade do produtor permite que ele invista em fertilizantes de maior tecnologia", diz.
No setor de máquinas agrícolas, as empresas ligadas à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) fecharam 2012 com recorde histórico - inferior apenas a 1976, na abertura das novas fronteiras nas regiões Norte e Centro-Oeste - por meio da comercialização de 69 mil unidades de tratores e colheitadeiras, 6,2% maior que em 2011. "A boa fase de preços das commodities permite a renovação por máquinas com tecnologia de ponta", diz Luiz Feijó, diretor comercial da New Holland para o Brasil. Nos últimos dois anos, a empresa tem comercializado 12 mil máquinas agrícolas anuais.
Veículo: Valor Econômico