Beber uma água de coco na praia ainda é um pequeno prazer acessível no Brasil. Já ir ao restaurante, se hospedar num hotel ou viajar pelo país virou luxo. A um ano da Copa do Mundo, os preços estão entre os mais caros do mundo.
Porta de entrada do turismo no Brasil, com sua bela baía, suas praias, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, o Rio de Janeiro está no epicentro de grandes eventos que vão ditar a vida do Brasil nos próximos três anos. Mas uma consequência não é tão agradável para turistas e, sobretudo, para cariocas: a incrível escalada dos preços.
A "cidade maravilhosa" tem uma agenda inédita. Ela se prepara para acolher três partidas da Copas das Confederações (15 a 30 de junho), inclusive a grande final no novo Maracanã. Em seguida, recebe a Jornada Mundial da Juventude católica, que contará com a presença do Papa, no final de julho. Em 2014, será a vez da Copa do Mundo e, em 2016, dos Jogos Olímpicos.
O Rio é hoje a terceira cidade com os hotéis mais caros do mundo. Um quarto custa em média 246,71 dólares, mais caro do que em Nova York (US$ 245,82) e Paris (US$ 196,17), de acordo com um estudo do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), publicado na semana passada.
Tudo é mais caro, menos cigarro
Victor Mameaux e Damien Lambrecht, dois parisienses de 32 anos, acabam de passar 15 dias na cidade, onde pagaram 1.000 euros para alugar um apartamento de 20 m2 em Copacabana. Os bairros de Ipanema e Leblon são ainda mais caros.
"Chegamos na cidade com os velhos clichés em mente: 'Rio, cidade barata e perigosa', mas é exatamente o contrário", declarou Victor à AFP. "Num restaurante de Ipanema, no almoço, eu paguei 30 euros por uma feijoada sem bebida. Isso é mais caro do que eu pago em Paris", continuou.
Em dez anos, os preços aumentaram 140%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Tudo é caro, menos o cigarro", resumiu Damien. Ao contrário do que se pensa, os dois parisienses não se sentiram inseguros, nem mesmo na favela que visitaram, o morro Dona Marta, a primeira a ser "pacificada" pelas autoridades, em 2008.
Dólar supervalorizado, oferta limitada
Para o presidente da Embratur, Flávio Dino, a explosão dos preços é ligada inicialmente à uma mudança: "Os preços estão inflacionados em função do real estar supervalorizado em relação ao dólar", mas também por causa da oferta limitada numa época de grande demanda turística. "A infraestrutura não está à altura de um mercado de consumo em massa", declarou Dino.
O Brasil paga o preço do progresso: o crescimento e os programas sociais tiraram 40 milhões de brasileiros da miséria na última década, e eles estão consumindo cada vez mais. Porém, quase tudo se paga no crédito, em dez vezes ou mais, seja por um par de sapatos ou implantes de silicone. O governo quer fazer da Copa do Mundo uma alavanca de desenvolvimento nas 12 cidades sedes, todas com vocação turística.
"Temos que aumentar a oferta hoteleira e também de companhias aéreas para estimular a concorrência", explicou Dino. Nos últimos dez anos, o número de passageiros mais que dobrou nos voos nacionais, chegando a 100 milhões. Internacionalmente, são seis milhões, número que deve chegar a dez milhões até 2020. Um plano de modernização dos aeroportos, obsoletos e saturados, foi posto em prática pelo governo e quatro bilhões de dólares foram investidos na infraestrutura hoteleira.
Não matar a galinha dos ovos de ouro
"O Brasil é um destino custoso e viajar dentro do país é algo muito caro porque vivemos uma situação de monopólio, com basicamente duas companhias aéreas, TAM e Gol. É um obstáculo para o turismo", lamentou Daniel Pla, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em marketing.
Assim, seguir uma equipe por diversas cidades pesará no bolso do torcedor. "Ir do Rio à Fortaleza sai tão caro quanto ir à Miami. O governo precisa quebrar esse monopólio", afirmou Del Pla. O Rio de Janeiro ficou "especialmente caro" desde que foi escolhido em 2009 como sede dos Jogos Olímpicos. Nas outras cidades, como Fortaleza, Recife e Salvador, os preços são mais moderados.
No Rio, o setor hoteleiro investiu cerca de 1,5 bilhão de dólares na construção de 250 novos hotéis para passar dos 30.000 quartos oferecidos hoje para 50.000 em 2016. O Ministério do Turismo promete vigiar os preços dos hotéis, mas o presidente da Embratur descarta "qualquer interferência do governo, a não ser em casos de abusos".
"O problema é depois de 2016. O Brasil não pode ser visto como um destino caro, senão vamos matar a galinha dos ovos de ouro para as próximas décadas", avisou o presidente da Embratur.
Veículo: Estado de Minas