ONU anuncia incentivo para plantações de mandioca

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Século da mandioca

ONU anuncia que incentivar plantações de mandioca pode garantir a uma das principais raízes comestíveis o patamar de principal alimento do mundo

Rafaela Toledo

Recentemente, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou comunicado incentivando o plantio sustentável de mandioca. De acordo com o estudo, a raiz deve se tornar a principal cultura do século XXI, se produzida em conformidade com o modelo "Economizar para Crescer", proposto pela organização. A entidade presidida pelo brasileiro José Graziano informou que por meio de cultivo misto, rotação de produção e sem pesticidas químicos é possível aumentar a produção do tubérculo em até 400%.

Aipim, macaxeira ou mandioca. Estes são alguns dos nomes mais conhecidos para a espécie de raiz comestível e que existe em grande abundância no Brasil. Encontrada originalmente nas tribos indígenas da América Latina, a mandioca atualmente é a quarta cultura de produção de alimentos mais importante no mundo, principalmente na região tropical. Constitui base da alimentação no continente africano. A raiz da planta e seus subprodutos são consumidos por mais de 800 milhões de pessoas, segundo a FAO. O alimento tem um grande potencial devido à sua capacidade nutricional e às inúmeras alternativas de consumo. A farinha de mandioca é uma possível substituta para a farinha de trigo, importante item nas principais receitas de pães e bolos de todo o mundo. A planta ainda é apontada como o cultivo de melhor adaptação a solos deficientes em nutrientes.

O tubérculo é utilizado para elaborar uma série de produtos amiláceos, farinhas e amidos naturais ou modificados. No Brasil, a mandioca está entre os itens básicos da produção doméstica de alimentos (biscoitos, bolos, pudins, molhos) e também da produção industrial (alimentos processados, têxteis, papel, tintas, medicamentos).

Na culinária regional, uma série de produtos é feita a partir do processamento da mandioca, como biscoitos doces e salgados, e o tradicional pão de queijo. Diversos tipos de farinha são produzidas a partir da raiz como o polvilho (azedo e doce), farinha de puba e de tapioca. Além disso, ela também é matéria-prima na geração de álcool e chegou a ser discutida como alternativa de plantio para produção de etanol.

MODELOS

SUSTENTÁVEIS

Nos anos 1980, surgiram preocupações sobre os métodos tradicionais de agricultura, quando foram criados conceitos como agroecologia e agricultura regenerativa. Desde então, instituições do segmento agrícola propõem o cultivo misto em contraposição ao estilo da monocultura comum nos sistemas de plantio intensivo.

Dentro desta lógica, a análise é muito positiva já que com o modelo "Economizar para Crescer" os resultados foram "espetaculares", segundo a FAO. Em testes realizados no Vietnã, os camponeses aumentaram os rendimentos da mandioca em 400%. Na República Democrática do Congo, país com enorme potencial agrícola e que ocupa o último lugar do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, a produtividade aumentou em 250%.

A publicação da FAO foi a primeira de uma série de guias de aplicação prática de modelos agrícolas sustentáveis que serão apresentados pela instituição. "Economizar para Crescer" propõe aumento de produtividade através da melhoria da qualidade e saúde da terra, ao invés do uso intensivo de produtos químicos.

O modelo proposto pela ONU constitui uma alternativa exemplo de manejo do solo em termos de controle do desgaste ambiental. Uma boa opção para os produtores de Goiás, que segundo Ricardo Yano, presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), produzem mandioca em pequena escala.

 "A cultura da mandioca é muito interessante porque o produto tem diversas finalidades. Mas apresenta dificuldade de manejo já que o processo de limpeza só é feito manualmente. Aqui em Goiás é produzido em pequenas escalas porque precisa de muita mão de obra. Normalmente 10 a 20 hectares", comenta Yano. Ele acrescenta que o produto tem aumentado sua participação na agricultura goiana: "O plantio tem crescido muito entre os pequenos produtores".

A identificação do multicultivo agrícola por uma melhor alternativa de manejo do solo, em função do alto aproveitamento dos nutrientes e consequente aumento da capacidade produtiva a longo prazo, foi resultado da busca por uma agricultura ecologicamente equilibrada, socialmente justa e economicamente viável.

Apesar da dificuldade, o agricultor Gilson Íris da Silva, afirma que compensa. De apenas um alqueire de plantação, o produtor rural tira 20 toneladas de mandioca em apenas 8 meses. "A colheita depende de muita coisa, mas geralmente são toneladas. Plantei no final de dezembro e já vou colher agora entre agosto e setembro", conta.

O tema sustentabilidade tem sido constante das pautas ambientalistas e governamentais em todo o mundo. Desde o estabelecimento das diretrizes do Agenda 21, países em todo o mundo buscam alternativas sustentáveis para seus problemas ambientais.

Rodada de negócios anima produtores

O sorriso fácil de Vicente Pinheiro, vendedor e integrante da Cooperativa de Produtores Rurais de Iporá (Coopercoisas), revela a expectativa positiva de comercialização da entidade durante a Agro Centro-Oeste Familiar, realizada no Câmpus Samambaia da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia (GO). Vicente espera vender farinha de mandioca para escolas e supermercados da Região Metropolitana da Capital.

"Farinha é o carro-chefe da nossa cooperativa. É o produto que temos condições de atender aos clientes em larga escala e com qualidade acima da média nas opções normal, temperada com frango defumado e com pequi", explica Vicente. A Coopercoisas e outras 19 cooperativas e produtores rurais participam da Rodada de Negócios promovida pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás) na Agro Centro-Oeste, com a participação de 20 compradores, entre escolas, supermercados, bares, restaurantes e lanchonetes.

"Estamos proporcionando ao pequeno produtor novas alternativas de comercialização de seus produtos. Sem falar que eles têm a chance de conhecer o que as outras entidades e agricultores estão fazendo. O pequeno produtor tem de enxergar o colega como parceiro, e não como concorrente", afirma Joel Rodrigues Rocha, gerente setorial de Desenvolvimento Rural do Sebrae Goiás.

Em setembro, durante a realização da 12ª Convenção e Feira de Negócios para Supermercados e Panificadoras (Superagos), o Sebrae Goiás também levará um grupo de agricultores familiares para mostrar seus produtos no evento.

CAPACITAÇÃO

Durante a abertura oficial da Agro Centro-Oeste Familiar, na quarta-feira (12), o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas reafirmou a importância de se capacitar o pequeno produtor rural. "Apenas com conhecimento o agricultor familiar conseguirá vender sua produção por um preço justo."

Diretor-técnico do Sebrae Goiás, Wanderson Portugal Lemos complementou a fala do ministro. Disse que, ao longo dos últimos anos, a capacitação dos produtores fez com que a Agro Centro-Oeste se transformasse numa feira de alto nível em Goiás, com produtos de qualidade e produzidos em larga escala.

"A gente vê hoje uma quantidade muito grande de pequenas cooperativas ofertando produtos com valor agregado e ganhando mercado. A feira está bem consolidada. Esse é o caminho para tirar o pequeno produtor da subsistência", afirmou Wanderson.

A Agro Centro-Oeste Familiar é a maior feira de exposições da agricultura familiar da região. A programação inclui feira de produtos artesanais e alimentícios, cursos, seminários, minicursos, debates, apresentações de projetos de pesquisa, exposição de insumos agrícolas de baixo custo, além de shows e apresentações culturais.



Veículo: Diário da Manhã - GO


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