Dilma vê riscos em acordos bilaterais de comércio

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Por Fernando Exman | De Brasília

A presidente Dilma Rousseff alertou ontem para os riscos de o Brasil buscar acordos bilaterais de liberalização comercial, sinalizando que seu governo continuará trabalhando por uma saída multilateral para os desafios do comércio exterior do país. Num momento em que setores da iniciativa privada questionam o governo pelo fato de o Brasil estar supostamente alheio aos movimentos realizados pela Aliança do Pacífico, o chanceler Antonio Patriota aproveitou a mesma solenidade para defender o Mercosul e a estratégia de integração do Brasil com os demais países do continente.

Os discursos foram feitos durante a formatura da mais recente turma de diplomatas brasileiros, no Itamaraty. Dilma destacou que, ao enfrentar os efeitos da crise financeira internacional, o Brasil não propõe o isolamento ou o protecionismo, mas sim a consolidação da cooperação e dos laços regionais. Dilma afirmou acreditar que os problemas para o comércio exterior brasileiro serão solucionados num marco multilateral.

"Acordos bilaterais, sobretudo aqueles entre economias assimétricas, oferecem muitas vezes a ilusão de ganhos imediatos, mas terminam por produzir um resultado oposto, enfraquecendo a indústria nacional, a agricultura e o setor de serviços", discursou a presidente.

Além de frisar a importância das relações do país com a América Latina e a África, Dilma lembrou que o Brasil aprofundou os contatos com outros países em desenvolvimento. Citou a formação de grupos como o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e uma maior integração entre países sul-americanos, árabes e do Caribe, além de Mercosul e Unasul.

"Todas essas iniciativas não nos afastaram de nenhum dos países desenvolvidos e, por isso, temos relações extremamente qualificadas com a União Europeia e com os Estados Unidos", disse Dilma. "O bom relacionamento com esses países desenvolvidos não impede, ao contrário do que aconteceu no passado, que tenhamos personalidade própria na cena mundial. A política externa brasileira tem vocação universalista."

Patriota defendeu a estratégia brasileira de inserção no continente americano. Em seu discurso, o ministro das Relações Exteriores afirmou que o Brasil continua a sedimentar a América do Sul como uma zona de paz e cooperação, a qual tem na democracia um compromisso político irrenunciável e requisito essencial dos processos de integração. As declarações ocorreram justamente num momento em que setores da iniciativa privada criticam o Mercosul e comparam o bloco à Aliança do Pacífico, que reúne Colômbia, Chile, Peru e México.

"Continuamos promover na zona de nosso entorno imediato uma zona de crescimento econômico com justiça social, em que as relações econômicas estão a serviço do desenvolvimento inclusivo, que é o nosso propósito comum", afirmou o chanceler.

Segundo Patriota, o Mercosul ampliou-se e fortaleceu-se com o ingresso da Venezuela. Além disso, acrescentou, a Bolívia assinou um protocolo de adesão para também tornar-se membro pleno e o Equador já demonstrou a intenção de seguir o mesmo caminho. Guiana e Suriname estão se tornando Estados associados do bloco, disse o ministro.

"Ao valorizarmos o acervo do Mercosul, que traz ganhos decisivos para a nossa indústria e gera empregos de qualidade, trabalhamos olhando para frente. Trabalhamos para fazer mais e melhor. Para além do Mercosul, mas sempre a partir dele, levamos adiante desde há muito tempo esforços de integração econômico e comercial por toda a nossa região, destino da maior parcela de nossas exportações de produtos manufaturados", disse Patriota.

Segundo o ministro, "sob a égide" da Aladi [Associação Latino-Americana de Integração] o Brasil negociou uma rede de acordos que cobre ou cobrirá num futuro próximo a quase totalidade das trocas comerciais na região.



Veículo: Valor Econômico


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