Flávia Milhassi
SÃO PAULO
Oferecer comodidade e agregar em um só espaço, com mais de três mil metros quadrados, todos os principais produtos da marca é conceito que embasa a tendência das lojas full size do varejo. Apelo que vem se consolidando ao longo dos anos, estes pontos de venda remam na contramão do mercado, que busca espaços enxutos acuados pela alta imobiliária.
O mais recente caso foi a da rede de artigos esportivos Centauro que inaugurou sua primeira unidade neste conceito no Rio de Janeiro. Segundo Cláudio Assis, diretor de Operações do Grupo SBF, que detém a Centauro e By Tennis além de operar a Nike Store no Brasil, o modelo é um processo de maturação pelo qual a marca tem passado. "Não foi iniciativa nova, desde 2000 analisamos uma megaoperação que se concretizou este ano, pois dependíamos do amadurecimento do setor e dos consumidores", disse.
Segundo ele, a concretização do projeto se deu há cerca de dois anos, quando a empresa percebeu que estava na hora de investir - para a operação carioca foram gastos R$ 20 milhões. "Há cerca de dois anos resolvemos apostar e trazer ao consumidor uma loja com mix maior de produtos e um local de experiência diferenciada", argumentou ao DCI.
A perspectiva do grupo é que outras quatro lojas sejam abertas com esse mesmo formato em 2014. "Ainda não temos nada concreto, mas estimamos outras quatro lojas no País". Assis afirmou também que está apenas decidido que São Paulo receberá a segunda operação full size do grupo. Questionado se o modelo seria apenas para um shopping, Assis argumentou que pode ser uma loja de rua sim e se for para um shopping ela terá de ser um anexo ao empreendimento.
"Para abrir em um shopping queremos ter um conceito diferente. A loja deve ter sua entrada separada do empreendimento, ser algo a mais dentro do espaço", disse. Esse conceito já é utilizada pela concorrente direta da Centauro, a Decathlon.
A rede tem procurado os centros de compras para abrir o formato full size.
Conta hoje com 173 lojas da marca Centauro e tem faturamento estimado em mais de R$ 2 bilhões e não são só as megalojas que estão na mira do SBF. "Abrimos em média 25 lojas ao ano da Centauro e pretendemos manter essa meta, além de crescer 20%".
Concorrência
Desde 2001 no País, a francesa Decathlon, pertencente ao Grupo Oxylane, está entre as maiores do setor. Com conceito diferenciado das demais: lojas gigantes, com artigos de marca própria e 55 tipos de categorias esportivas, alcançou a marca de mais de 15 lojas no Sul e no Sudeste e para este ano prevê mais sete, localizadas em: São José do Rio Preto (SP), Joinville e Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Vila Velha (ES) e Goiânia (GO).
Além das marcas próprias que na Decathlon levam o nome de Marcas Paixão - subdividida em 18 marcas diferentes -, a operação diferencia-se pela experiência de compra ao consumidor. Ele pode experimentar os produtos dentro da loja, além de contar com equipe especializada no atendimento. Atualmente, é considerada a empresa mais completa de artigos esportivos do mundo com quase 600 lojas em operação em 18 países.
Nichos diferentes
Quem também apostou em uma megaloja foi a Melissa. Criada em 1979, a marca que agrega o portfólio da Grendene, sempre atuou com vendas em multimarcas até que em 2006 inaugurou sua loja conceito - A Galeria Melissa - no reduto de consumo de luxo de São Paulo: a Rua Oscar Freire. Por meio de nota, a empresa informou que a ideia da megaoperação é aproximar a consumidora da marca. "O foco da Galeria é em imagem e conceito, criamos o espaço para nos aproximar das fãs da marca", disse.
Ainda segundo a empresa, a escolha do local foi baseada no fato que a Oscar Freire representa para a moda no País: "por ser um centro de referência de moda, lojas renomadas e ruas charmosas no entorno". Outro diferencial do espaço é que a sua fachada muda constantemente. A marca fecha parceria com artistas plásticos, estilistas, designer e afins. "Temos sempre novidades em cada projeto feito na fachada da Galeria. É um espaço para contemplar os produtos com design, inovação", argumentou ao que completou: "As últimas fachadas foram com o Lego e agora com Karl Lagrerfeld".
Além da operação brasileira, a Melissa tem sua loja conceito ou full size em Nova York, localizada no Soho. A empresa não comenta os valores investidos na operação e nem o seu faturamento, divulga apenas que os modelos mais vendidos são a Ultragirl e a Aranha, sapatilha que existe desde que a marca foi fundada.
As Galerias não são os únicos pontos de vendas da marca. A Melissa está presente em multimarcas (a empresa não divulga em quantas )e em operações menores que atuam em sistema de franquias.
Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar/Ibevar) existe uma grande limitação de espaços comerciais para este tipo de operação, logo o empresário que quiser investir nesse tipo de loja terá um certo trabalho para encontrar o local. "Além da falta de espaço, nos grandes centros brasileiros, o preço do metro quadrado é muito caro o que por vezes, pode complicar a abertura de uma loja", disse ele ao DCI.
Ainda segundo o especialista no setor, pode ser que essas megalojas sejam mais viáveis no interior das capitais, uma vez que o custo da implementação pode ser mais baixo.
"Houve valorização imobiliária em todo o País, mas em regiões do interior é provável que saia mais barato", explicou o especialista.
Veículo: DCI