Por Alessandra Saraiva | Do Rio
O fim da deflação nas matérias-primas agropecuárias no atacado, cuja variação de preços passou de -2,22% para 1,25%, levou à taxa maior da segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que avançou de 0,01% para 0,74% entre maio e junho, conforme divulgou ontem a Fundação Getulio Vargas.
Dentre os componentes do indicador, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) - com peso de 60% - avançou 0,60% na segunda prévia deste mês, ante deflação de 0,20% no mesmo período do mês passado. O IPA de produtos agropecuários subiu 1%, depois de ter registrado queda de 1,96% em maio. Já o IPA de produtos industriais desacelerou para 0,45%, de uma leitura anterior de 0,47%.
Para Salomão Quadros, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), a evolução de preços no setor agrícola deixa para trás a "situação tranquila e suave" observada nos IGPs nos últimos dois meses. Acende um sinal de alerta, diz, para a perspectiva de inflação dos alimentos nos próximos meses.
"A mensagem que o IGP-M nos mostra, pelo menos até o momento, é que alimentação pode voltar a ser uma 'pedra no sapato'", disse, ressaltando que também é preciso acompanhar de perto o avanço nos preços de serviços, que continuaram em alta.
Individualmente, os itens que mais influenciaram a alta do IPA na segunda prévia de junho geral foram soja em grão (de 1,94% para 9,83%), farelo de soja (de 1,12% para 17,27%) e leite in natura.
O economista frisou, no entanto, que os aumentos não ficaram restritos ao chamado complexo soja. No atacado, houve alta mais forte de preços em leite in natura (2,87% para 3,99%) e deflação mais fraca em milho (de -7,19% para -1,45%).
Questionado se a prévia anunciada abre espaço para uma nova rodada de IGPs com taxas acima de 1%, Quadros foi cauteloso. "O que podemos dizer é que existe uma nova rodada de tensão envolvendo preços dos alimentos, originado dessa alta de preços agrícolas no atacado."
Veículo: Valor Econômico