Grandes varejistas de vestuário no Brasil não devem reduzir suas importações por causa da alta do dólar. E, se a valorização perdurar, as companhias pretendem repassar parte do aumento ao consumidor, informou a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), em nota encaminhada ao Valor.
A entidade representa 15 das maiores varejistas de moda do país, como C&A, Renner, Hering, Leader, Marisa, Riachuelo, Pernambucanas e Zara, além de Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar.
Os importados representam cerca de 20% a 30% no mix de produtos das grandes redes. "A fatia não tende a cair porque hoje a importação não está baseada em preços e sim na garantia do atendimento à demanda dos consumidores", afirmou a Abvtex.
Para Renato Prado, analista da Fator Corretora, a substituição do importado pelo nacional é complicada, pois muitas vezes não há fornecedores locais equivalentes. A tendência é que as empresas tentem repassar os custos maiores. No entanto, diz Prado, o cenário de consumo não está tão favorável e, por decisão estratégica, algumas redes podem preferir trabalhar com margens menores a perder participação de mercado.
A alta do dólar afeta ainda o preço do algodão, que representa 40% dos custos de produção doméstica das peças, estima Prado. O analista pondera que as empresas tem opção de utilizar matérias-primas alternativas ou reduzir o uso do algodão nas coleções.
A Abvtex informou que há um esforço do varejo em não repassar a elevação dos custos. No entanto, se o dólar continuar no patamar atual, não haverá outra possibilidade que não levar parte da alta aos preços, afirma a entidade.
Sem citar números, a Abvtex prevê "avanço do consumo de vestuário em 2013 em relação à 2012, em virtude dos eventos esportivos, maior número de turistas e outros indicadores".
Na indústria têxtil e de confecções, o dólar mais caro é bem-visto, mas com cautela. Aguinaldo Diniz, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) diz que o setor prevê aumento de 13,2%, para US$ 6 bilhões, no déficit da balança comercial este ano, em relação à 2012. "Se o patamar se mantiver alto, é provável que o déficit diminua. Mas não sabemos se esse dólar vai se vai se sustentar", afirmou Diniz.
A permanência do dólar em nível elevado também seria positiva para a indústria calçadista, disse Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
A balança comercial do setor encerrou 2012 com saldo de US$ 400 milhões. Havia previsão de que as importações e exportações "empatassem" este ano. Mas com o câmbio atual, as exportações tendem a ganhar impulso e o setor poderia encerrar o ano com superávit, disse Klein.
Veículo: Valor Econômico