Apesar das chuvas mais fortes nos últimos meses, a produção de cacau no Pará, segundo maior Estado produtor da amêndoa do país, tende a ter mais um ano de crescimento em 2013. Estima-se que a safra deverá alcançar de 85 mil a 90 mil toneladas este ano, ante as 80 mil toneladas em 2012, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), ligada ao Ministério da Agricultura. Em 2011, segundo a entidade, foram produzidas 70 mil.
Com a consolidação da cacauicultura, cresce o interesse de empresas processadoras em instalar unidade no Estado. A multinacional americana Cargill, uma das maiores empresas desse segmento, estuda o tema, enquanto despontam iniciativas de pequenas fábricas para a produção de chocolate.
Com uma safra anual, de março a outubro - na Bahia há duas safras, a principal (estimada em 180 mil toneladas) e a intermediária -, as chuvas mais "pesadas" no período vão postergar o fim da temporada até outubro mas não deverá provocar perdas na produção, conforme Raymundo Mello Junior, superintendente substituto da Ceplac no Pará. Normalmente, as chuvas com maior intensidade ocorrem de novembro a abril. Com mais umidade, os produtores têm dificuldade para fazer a secagem e o beneficiamento do produto. No ano passado, a safra foi encerrada antes, em julho, porque não houve chuvas significativas durante a colheita.
Este ano devem entrar em produção 7 mil novos hectares, além dos já existentes (entre 80 a 90 mil hectares), segundo Mello Junior. Os novos plantios fazem parte de uma estratégia estadual de duplicar a produção até 2019, compromisso firmado em 2011 com o lançamento do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura, do governo paraense em parceria com a Ceplac. Em 2009, a produção foi da ordem de 40 mil toneladas, mas deverá chegar a 250 mil em seis anos, de acordo com as metas do Estado.
Com clima e solo favoráveis à cultura e pouco impacto do fungo causador da vassoura-de-bruxa, grande responsável pela queda da produção na Bahia, o Pará vem ampliando em cerca de 10% ao ano sua colheita nos últimos cinco anos. Mas os números da safra nacional, e em especial a do Pará, ainda são passíveis de muita discussão.
A indústria processadora faz sondagens, mas não divulga os dados. Fontes do segmento dizem que os números informados pela Ceplac são muito maiores diante do que realmente é produzido. Já a Ceplac utiliza o cálculo das deduções de impostos sobre a movimentação do produto no Estado e leva em conta que cerca de 30% da produção estadual está sendo "sonegada". A própria Ceplac busca unificar sua metodologia de previsão de safra com uma multinacional, pois nem todos os municípios paraenses têm estrutura fazendária, conforme Mello Junior.
Embora os preços internacionais da commodity tenham recuado de 2012 para cá, os custos de produção aumentaram. Mas, ainda assim, conseguem remunerar o produtor no Estado, enquanto a maioria dos cacauicultores da Bahia trabalha com déficit, conforme Mello Junior.
No Pará, os custos variam de R$ 800 a pouco mais de R$ 1 mil por tonelada, enquanto em algumas fazendas baianas podem chegar a R$ 4 mil por tonelada. A produtividade também é maior - uma média de 1.000 quilos por hectare no Pará, ante 350 a 400 quilos na Bahia -, conforme o superintendente da Ceplac.
Apesar de a cacauicultura crescer de forma significativa no Pará, o Estado ainda não tem infraestrutura adequada para receber uma grande unidade de processamento da amêndoa, na avaliação de Walter Tegani, secretário-executivo da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Segundo ele, além da falta de asfalto em regiões produtoras e a poeira e a umidade que podem prejudicar a qualidade da amêndoa transportada da fazenda até uma unidade industrial, a disponibilidade de energia elétrica não é constante, questão que deverá ser revertida com a usina de Belo Monte.
A Cargill, que já detém uma filial de compra de amêndoas em Altamira, informou, em nota, que está "sempre atenta às oportunidades de crescimento de sua presença nesse mercado", e que a possibilidade de implantação de uma unidade de processamento no Estado exige estudos bastante detalhados. A empresa tem analisado possibilidades de instalar uma fábrica, mas ainda não há nada definido nesse sentido.
Cerca de 90% da produção de cacau no Pará vem de assentamentos vinculados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com média de oito hectares por propriedade. De acordo com dados da Ceplac, existem no Pará aproximadamente 17 mil cacauicultores. A região Transamazônica, no norte do Estado, representa 60% da produção paraense. Neste ano, o Pará terá o primeiro Salão do Chocolate da Amazônia, uma versão local do "Salon du Chocolat" de Paris, em setembro. Mas o Estado aguarda a chancela do evento francês para representá-lo também em outras edições.
Veículo: Valor Econômico