A boa qualidade da safra de café e a solidez da demanda externa permitiram com que as exportações da commodity brasileira registrassem recorde em volume de vendas e receita em 2008. Os exportadores acreditam que a alta qualidade e a oferta abundante favoreceram a competitividade, assegurando uma fatia de 31,5% de participação no mercado internacional de café, segundo informações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A commodity ainda possui grande potencial de crescimento em mercados como o Oriente Médio e China, grandes consumidores de chás e que provavelmente serão explorados nos próximos anos. Caso isso ocorra, o Brasil teria que optar entre o crescimento do saldo na balança comercial ou o abastecimento interno. No mercado brasileiro, representantes da indústria afirmam que o consumo deverá superar a casa das 18 milhões de sacas em 2008, consolidando o país como o que mais cresce no mundo.
Em 2008, a exportação total da commodity atingiu o volume de 29,3 milhões de sacas, crescimento de 4% em relação a 2007. As divisas obtidas com os embarques também foram os maiores já registrados e somaram US$ 4,7 bilhões, aumento de 23% na comparação com o período anterior. Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé, afirma que os embarques cresceram por causa da boa qualidade da safra e do oferta abundante, proporcionada pela bienalidade (safra com grande produtividade seguida de baixa. "Nos últimos meses, houve, inclusive, uma expansão nas vendas. Mas como a oferta vai recuar neste ano, as exportações devem cair".
Almir Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), acrescenta que o selo de qualidade da instituição colaborou para que toda a cadeia se empenhasse na produção da matéria-prima. "A safra também foi muito boa e isso incentiva o consumo do produto", acrescenta.
O único item que continua enfrentando problemas nas vendas externas é o solúvel. Em dezembro, os dados do Cecafé mostram que foram vendidas 232,7 mil sacas, número 26% menor na comparação com 2007. A instabilidade econômica na Rússia, o principal mercado consumidor desse tipo de produto, foi o principal fator para a queda.
A queda na produção será o principal entrave para as exportações de café em 2009, avalia Braga. Ele observa que a redução não será causada pela diminuição no consumo mundial, que continuará aquecida mesmo com o "buraco" de 1 milhão de sacas de café verde deixado pelo Brasil. A estimativa do Cecafé é que o volume exportado em 2009 atinja 25,1 milhões de sacas de café verde ante as 26,1 milhões de sacas em 2008, uma redução de 3,8%. No entanto, não acredita que essa redução seja ocupada por outros países produtores.
A indústria não vê problemas na menor oferta de matéria-prima ao longo deste ano e continuará apostando no crescimento e consolidação do mercado brasileiro. "A menor oferta de café em 2009 causará uma revisão positiva nos preços, porém não prejudicará a indústria", prevê o presidente da Abic.
As projeções do Cecafé para 2009 também apontam queda nas vendas de café conillon. A estimativa é que o total recue de 2 para 1,8 milhões de sacas. Braga conta que as exportações dessa variedade cresceram em 2008 por causa da menor oferta do Vietnã, o que não deverá se repetir.
Veículo: Gazeta Mercantil