O arroz, um dos principais grãos da dieta do brasileiro, se não submetido a um controle de qualidade eficaz, pode apresentar uma concentração de variações da substância arsênio acima do ideal. O alerta vem de uma pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. "Tal concentração elevada pode contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas, como o câncer", observa o farmacêutico-bioquímico Bruno Lemos Batista, autor do estudo.
Batista identificou concentrações expressivas da substância arsênio em diversas variedades de arroz comercializadas no País, tais como o tipo branco (polido), o arroz integral (sem polimento), parbolizado (do inglês partialboiled, ou seja, parcialmente fervido), integral ou branco.
Nas análises, foram constatados níveis moderadamente elevados, na faixa dos 222 nanogramas (ng) de arsênio por grama (g) de arroz, similares a concentrações encontradas em arroz de outros países, como a China. O arroz do tipo integral foi um dos que apresentaram maiores concentrações, pois, em geral, o arsênio pode se acumular no farelo.
"Decidimos fazer a especiação química destes grãos, verificando que, em média, nossos grãos possuem ao redor de 40% do arsênio presente nas formas orgânicas, MMA e DMA, e 60% nas formas inorgânicas, As3+ e As5+, sendo que a AsB, dita não tóxica, não foi encontrada, similar ao encontrado por outros pesquisadores em outros países", conta Bruno.
Considerando a média de arsênio no arroz e que o brasileiro consome 86,5 g desse grão ao dia, a ingestão de arsênio via arroz é pouco maior que via água em sua concentração máxima permitida para ingestão (10 microgramas [ug] de arsênio por litro de água), a partir da média de 2 litros de água diários. O arsênio se apresenta na natureza (solo, alimentos, água) em mais de vinte formas diferentes, algumas mais e outras menos tóxicas aos seres humanos, outros animais e até plantas.
Dependendo da forma e da quantidade ingerida pela pessoa este arsênio pode causar sérios danos ao organismo, como o câncer causado pelo arsenito, uma das formas de arsênio.
No entanto, existem formas que, se ingeridas em grandes quantidades, não causam danos ao organismo como, por exemplo, a arsenobetaína, comumente encontrada em alimentos marinhos, como o camarão. O estudo buscou identificar essas variações da substância por um método de análise denominado especiação química de arsênio.
As formas de arsênio são separadas por um instrumento de análise química chamado "cromatógrafo à líquido de alta eficiência", ligado a outro instrumento para "quantificar", chamado "espectrômetro de massas com plasma indutivamente acoplado". "No primeiro equipamento, as moléculas contendo arsênio em suas diversas formas passam por um aparato chamado 'coluna cromatográfica' que é nada mais do que um tubo 'recheado' com uma substância que retém por mais tempo algumas moléculas por interações físico-químicas, e retém menos outras moléculas, por haver pouca ou nenhuma interação com esse recheio", explica o pesquisador.
Após o primeiro processo, o segundo equipamento faz a quantificação do arsênio presente nessas moléculas. "Este instrumento de análise química é o mais moderno para este tipo de análise, conseguindo determinar baixíssimas concentrações com alta especificidade". Das vinte espécies presentes, as cinco vistas como mais importantes foram utilizadas como objeto de estudo.
Para o pesquisador, a fiscalização sobre o que consumimos deve estar entre as principais diretrizes das políticas públicas. "Temos que procurar sempre a segurança através, no mínimo, do monitoramento da concentração de arsênio e suas espécies químicas.
Veículo: DCI