Dólar é maior preocupação do novo presidente da Bic no Brasil

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O dólar é a maior preocupação para o comando da Bic no Brasil. A multinacional francesa projeta aumentar o faturamento no país entre 5% e 6% este ano sobre os R$ 801 milhões de 2012, mas para isso vai ter que compensar a alta de gastos com matéria-prima - a maior parte, plástico e metal, é dolarizada. O volume de vendas tende a ficar estável, o que torna mais desafiadora a meta de alcançar R$ 1 bilhão em vendas em 2016.

Fechar essa conta é o primeiro objetivo do novo presidente da Bic no país, o brasileiro Fernando Moller. Ele substitui o uruguaio Horacio Balsero, que no dia 1º de julho deixou o cargo para assumir a operação de México, América Central e Caribe. "A apreciação do dólar é muito alta em relação ao que a gente esperava", diz Moller em sua primeira entrevista após assumir o cargo.

O isqueiro responde pela maior fatia da receita e é o que sente o maior impacto da volatilidade cambial: 60% do custo do produto é dolarizado e o resto é, basicamente, mão de obra. E 40% do plástico que a Bic usa nas três áreas que atua - papelaria, isqueiro e barbeadores -, é importado.

"O dólar também vai ser o grande desafio para 2014", diz Balsero, que ocupou o cargo de presidente no Brasil por quase seis anos. "Eu não imaginava no ano passado que o dólar ia 'pegar' este ano."

A Bic contava com o dólar a R$ 2,10 em 2013, patamar cotado no fim de maio, quando começou a subir. Desde então, valorizou-se quase 6% sobre o real - e 11% desde o começo do ano.

Os fornecedores começaram a repassar o custo, e a Bic está trabalhando com margens reduzidas para manter os preços enquanto estuda o que fazer.

O cenário pode ficar ainda pior: o banco Goldman Sachs já revisou para cima a estimativa para o dólar ante o real e projeta a moeda em R$ 2,30 ao fim de três a seis meses - ante R$ 2,10 da estimativa anterior.

A Bic não faz operação de proteção cambial no Brasil e, por isso, o controle de custos operacionais é extremamente importante, diz Balsero. As operações de 'hedge' cambial ficam por conta da tesouraria da matriz, na França.

Moller diz que em agosto a companhia deve ter um cenário mais claro sobre como vai ficar a moeda e, então, decidirá sobre eventual repasse de preços. "Qualquer previsão agora é 'achismo'."

No Brasil, a Bic está ampliando o portfólio e introduzindo produtos com maior valor agregado, que ajudam a elevar a receita. A grande aposta da companhia em 2013 é em barbeadores elétricos, lançados em março, e em um tipo de caneta que marca textos. Estes marcadores de texto começaram a ser fabricados no país para substituir os produtos importados da França e os Estados Unidos. O investimento nas linhas é de R$ 40 milhões, saídos do caixa da Bic no Brasil. Parte do lucro a filial reinveste e outra parte remete à matriz.

Ampliar a oferta de produtos é importante para a Bic crescer. A empresa diminui a dependência dos isqueiros, cujo volume vendido tem se mantido estável. A companhia tem 80% das vendas desse segmento. Hoje, a estratégia é de defesa de mercado, ainda mais porque o número de fumantes está diminuindo, diz Moller. "Cinco anos atrás a dependência era maior em isqueiro, mas o portfólio era menor. É a categoria com menos oportunidades."

O Brasil é o segundo mercado da Bic, atrás dos Estados Unidos. No mundo, a receita líquida da Bic em 2012 foi €1,9 bilhão.

Nesta fase de transição, Moller aprende com Balsero as especificidades de comandar a operação brasileira. Os dois trabalham há anos na empresa: Moller há 18, e Balsero, há 22. O brasileiro passou pela França e pela Argentina, e voltou ao Brasil como diretor de cadeia de suprimentos, convidado justamente por Balsero.

Antes de ser presidente da Bic no Brasil, Balsero passou por Chile e Argentina. Agora, no México, vai trabalhar mais ligado ao comércio exterior. Enquanto no Brasil a produção é voltada ao mercado interno, no México o fluxo de importação e exportação é bem maior devido aos acordos de livre comércio com Europa e Estados Unidos e à distribuição para os vizinhos da América Central e do Caribe, onde a Bic atua via importadores. Para o uruguaio, o desafio não é apenas o dólar, mas a renda em alguns países da região: "Tem lugar em que o nosso produto concorre com a comida".

 

Veículo: Valor Econômico


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